A exposição Observatório: Olhar Rente ao Chão acontece de 24 de setembro a 15 de outubro. A inauguração será dia 24 de setembro, pelas 17h00, na Associação 289, em Faro.

As artistas plásticas Susana Soares Pinto e Susana de Medeiros encontraram-se no Porto. Partilham o facto de terem ambas viajado, no âmbito das suas pesquisas artísticas e académicas, até ao hemisfério Sul, elegendo um país com o qual têm uma relação particular: o Chile. Susana Soares Pinto rumou a Norte, ao deserto do Atacama, e Susana de Medeiros deslocou-se ao Sul, às regiões de Biobío, Araucania, Los Rios e Los Lagos.

Estávamos no período que antecedeu a pandemia covid 19 e imediatamente depois do mês de outubro de 2019, mês que marcou o início de uma série de contestações sociais em todo o território chileno, um longo processo que culminou na redação de uma nova constituição por uma assembleia eleita em 2021, composta por 154 membros e com a participação dos povos indígenas. O projeto da nova constituição foi, no entanto, recentemente recusado por via de um referendo nacional.

As questões que as artistas levantam nesta exposição, patente de 24 de setembro a 15 de outubro, no espaço do Solar das Pontes de Marchil, sede da Associação 289, remetem para a nossa relação com o solo, resultando daí o título de Observatório: olhar rente ao chão. O solo, essa estreita faixa da crosta terrestre a que Bruno Latour dá o nome de zona crítica e que permite a germinação das sementes na escuridão e a existência dos micélios benéficos para os ecossistemas. É nesse mundo subterrâneo, onde correm lençóis freáticos, que se estratificam os tão desejados minérios.

Ambas as artistas, embora com abordagens diferentes, de natureza poética mas também política, refletem sobre o mundo-casa - o oykos - o único espaço onde conseguimos, por enquanto, viver como humanos, interrogando-se sobre as consequências da aceleração na exploração dos recursos naturais (muito visível e acentuada nos últimos 60 anos), motivada por um exponencial crescimento populacional e que fizeram acelerar o investimento industrial e tecnológico com enormes consequências socioeconómicas e um preocupante impacto no mundo natural. Susana Soares Pinto e Susana de Medeiros questionam-se sobre o papel do artista perante este agora.

As peças que apresentam - vídeos, desenhos, esculturas - potenciam uma reflexão sobre o conceito de natureza e sobre a relação entre o arcaico e o tecnológico. A natureza aqui não é vista como inerte ou exterior ao humano, fazendo eco não só das cosmovisões dos povos originários do Chile, mas de muitos outros povos que habitam no planeta. Logo, a exposição reflete também sobre o território algarvio, o qual, no hemisfério norte, se situa em termos cartográficos numa latitude espelhada em relação a alguns territórios da região de Bio-bío, no hemisfério sul.

Ficam as questões: Estará para vir de forma eminente uma mudança transformadora, persistente nos ecossistemas existentes na Terra que nos obrigue a operar dentro de uma outra lógica sistémica? Será possível pensar um paradigma motivado por um reparar e cuidar num futuro próximo? Que outro comum criaremos? Como têm traduzido os artistas estas preocupações?

Susana Soares Pinto é residente no Porto. Artista e investigadora. Licenciada em Artes Plásticas - Multimédia na FBAUP em 2013 e mestre em Práticas Artísticas e Contemporâneas em 2015. Termina o doutoramento em Artes Plásticas na mesma Faculdade.

Susana de Medeiros é residente no Algarve. Artista e professora. Licenciada em Direito (Universidade de Coimbra) e em Artes Plásticas (ESAD-CR), frequenta o doutoramento em Artes Plásticas na FBAUP.