Já não surpreende o facto de vivermos imersos numa grave crise civilizacional, muito para além das crises políticas, financeiras ou económicas. A vida dos nómadas que somos todos nós, continua a ser tecida em preocupantes sobressaltos axiológicos e culturais, onde se hipoteca a verdade que buscamos e dizemos afirmar.
O nosso tempo assemelha-se mais a uma vertiginosa corrida sem horizonte do que a uma sementeira onde a vida refulja fecunda. Persistem ainda neste tempo de espera e de buscas, significativas situações críticas, que urge acautelar, como sejam a da infindável precarização laboral e o aumento do desemprego; o aumento da pobreza e dos sem abrigo, que ninguém vê e fala; o aumento das depressões e esgotamentos de vidas suspensas e desnorteadas; o número crescente de famílias com muitas dificuldades económicas, sendo os mais frágeis e vulneráveis, crianças e velhos, os mais prejudicados; o aumento do custo de vida e de dívidas, acrescendo o número de situações de “pobreza envergonhada”.
Face a esta situação de crise, muitos são levados a desanimar e a desistir. Alguns, para quem a fé ainda é como uma pequena candeia a iluminar a esperança, a implorar especial proteção de Deus, esperando a Sua resposta. É a atitude própria do Tempo de Advento, que inicia, vivido pela Igreja como um novo ciclo celebrativo da vida alicerçada na fé. A acolher a verdade da vida que também é espera, convidando a perscrutar em profundidade a realidade das coisas e dos outros.
Tempo que convida a acolher a chegada e presença de um Deus que não é energia ou um ser impessoal, celebrado como Palavra feita carne, de modo significativo, em cada Natal.
O Advento significa exatamente, a tomada de consciência da presença do próprio Deus neste mundo por Ele criado, fazendo memória do seu início. Pela fé, esperança e caridade a sua luz brilhará de novo, nas noites do mundo. Celebrar o Advento é despertar para a vida a presença de Deus.
Não estamos sozinhos nem abandonados. A força de um Amor profundo e fecundo nos conduz. Só na medida em que percorrermos todos nós, um caminho de mudança de vida e de conversão, caminhando para o que é eterno nos abrimos ao milagre da graça, do pão para todos, da beleza do amor, aprenderemos a reconhecer que só a graça manifestada em Jesus é garantia e felicidade plena para cada criatura e para o mundo. O mundo não é uma estrutura sem saída onde reina o desespero e o sofrimento.
Todo o sofrimento foi recuperado por um amor misericordioso, foi resgatado, salvo, liberto pelo perdão e compaixão salvadora de Deus. O Deus Vivo não desistiu de nós.
Chama-nos e convoca-nos, cada dia, para um recomeço novo. O Advento ensina que o valor e grandeza da vida é ir ao encontro, partir. Convida a viver com cautela, com atenção perante o que nos impede de caminhar, sabendo que o segredo da nossa vida está para além de nós.
E a vigiar como as mães o fazem a respeito dos seus filhos recém-nascidos, a perscrutar nas noites as primeiras luzes da aurora, levando todos dentro do olhar e do coração.
Neste tempo importa saber que a vida também é advento, onde se deve cultivar a atenção do coração, a nos tornarmos próximos dos pobres e necessitados, a promovermos a qualidade da vida na coragem profética e luminosa da nossa atenção e participação interveniente diante de todos os necessitados e famintos de paz e justiça.
Parabéns à Voz de Loulé
Ao aproximar-se a celebração do 71º Aniversário do jornal “A voz do Algarve”, venho felicitar na pessoa da sua Diretora toda a equipa, colaboradores e escritores. Possa este instrumento comunicativo ser a voz e a palavra de um povo livre, que resiste e avança!