No âmbito do Balanço de dois anos de Mandato, Sílvia Martins, Presidente da Junta de Freguesia de Alte, foi entrevistada no programa «Olha que Dois», com Nathalie Dias e Vítor Gonçalves

Como é que se tem sentido, na pele de líder, da sua freguesia?

Sílvia Martins– No início foi muito estranho, mas estranha-se e depois entranha-se. É uma grande responsabilidade, mas eu gosto de poder ir mais além, poder ter um papel primordial para mudar alguma coisa. Estar num papel de destaque tem coisas boas e coisas más, também nos deixa mais fragilizadas, porque estamos a falar de uma freguesia muito pequena em que o contacto com a população é direto. (…)

 

Não era muito usual, as mulheres subirem tão alto, em lugares de destaque na vida autárquica. … O que é que estará a mudar…

S.M. – Eu acho que as mulheres estão a acordar, os homens têm de abrir a pestana, como se costuma dizer… (risos). Eu considero que as mulheres são muito boas em gestão (…), portanto penso que são uma mais-valia para este tipo de cargos. Têm também o coração mole, o que às vezes não é tão favorável… (…) deixam-se afetar mais por pequenas coisas que os homens não se deixam. No entanto, nós, as mulheres, temos uma vantagem, é que somos multi tax, fazemos todas as tarefas, todas e mais algumas e ao mesmo tempo, enquanto os homens só se conseguem focar numa de cada vez. (…)

 

Quais são as principais queixas que lhe fazem os seus munícipes?

S.M. – Os meus “fregueses” as maiores queixas que têm são a nível dos cuidados primários de saúde. (…) É uma população envelhecida e a grande preocupação deles é terem os cuidados de saúde acessíveis, e terem também acessíveis as vias para lá chegar, pois a Freguesia de Alte é uma freguesia grande, com 97km2, em que existem muitas vias que não estão sequer asfaltadas. (…) Esses cuidados de saúde existem, a Junta de Freguesia tem um serviço que vai uma vez por semana a várias localidades buscar as populações para terem acesso a esses cuidados de saúde, ir aos bancos ou fazerem compras… E outras localidades têm o autocarro da Câmara Municipal (…).

 

E as maiores consternações, com que se depara, no dia-a-dia? O que é que gostava de ver realizado e que olha com algum desespero, por vezes?

S.M. – O que eu gostava de fazer, não tenho dinheiro para o fazer. Eu gostava que todas as pessoas tivessem uma via em condições para chegar à sua casa. (…) Existem ainda na nossa freguesia pequenos núcleos residenciais que têm caminhos em muito mau estado. Nós vamos fazendo a manutenção, gastamos imenso dinheiro, porque temos de fazer pelo menos duas vezes por ano a manutenção daquele caminho, mas é deveras insuficiente e as pessoas estão sempre muito insatisfeitas. Depois, é também a grande necessidade que existe em termos de saneamento básico, as pessoas não tem água, nem esgotos (…).

 

 

O que é que diz aos jovens que não encontram trabalho na sua terra e que se veem obrigados deixá-la, à procura de subsistência para si e para os seus?

S.M. – Essa é uma grande preocupação que nós temos na Freguesia de Alte, porque os jovens não se conseguem lá fixar. Não só pelo emprego, mas, na minha opinião, essencialmente pela habitação (…) Não existe uma zona onde se possa fazer uma área de comércio, de indústria, porque quando foi feito o PDM, que entrou em vigor em ‘95, isso não foi acautelado. Alte, pela sua própria tipologia, também não tem como se expandir, está entre quatro cerros… e depois temos o problema dos imóveis que existem, que estão muito degradados, que não se sabe quem são os donos e que, quando se sabe e se propõem a vender (…), são a preços inacessíveis.

 

 

Isso tem feito com que a população residente tenha vindo a diminuir?

S.M. – Sim, são poucos jovens que ali ficaram. Mas conheço alguns jovens da minha idade, que queriam ali ficar, mas os que têm terrenos não podem construir, ou se quiserem comprar uma casinha para recuperar, o banco não financia porque o valor pedido é irreal (…)

 

O que tem feito, para tentar dar a volta à situação?

S.M. – O que eu tenho tentando é, nomeadamente, em termos de pessoas que aparecem em Alte que pretendem investir. (…) Posso já adiantar, estaria eu como presidente da Junta há sensivelmente seis meses, quando apareceu um grupo de Lisboa interessado em investir em unidades de alojamento ao longo da Via Algarviana, e Alte seria uma possibilidade (…). Interessa-me que essa pessoa invista ali, não só para recuperar imóveis que estão completamente degradados, mas para criar postos de trabalho e dinamizar, porque o grande trunfo de Alte é o turismo. Consegui que a pessoa entrasse em acordo com proprietários de imóveis, foi feita uma compra, o projeto já foi aprovado na Câmara Municipal de Loulé… (…) falei com o senhor esta semana que me disse que em Abril/Maio arrancará a obra.

 

Face à realidade dos últimos anos, como antevê o futuro da aldeia de Alte?
S.M. –
Projeções são complicadas…Eu sou uma pessoa positiva, portanto espero que consigamos pelo menos, se não evoluir, manter as atrações de turismo que Alte tem para dar. Em termos de investimento, pretendo melhorar aquilo que é o ponto forte da aldeia, que são as Fontes. (…)

 

Qual o orçamento da Junta de Freguesia de Alte, para este ano?

S.M. – Ui…é tão pequenino. O orçamento em termos de investimento de capital, estamos a falar na ordem dos 80 mil euros, portanto é uma coisa miserável. Dá para manter aquilo que temos. Fazer pequenas melhorias, mas nada de novo. Isso é uma coisa que me desagrada imenso, porque já existe uma grande assimetria entre interior e litoral, e o que se vai assistindo é que há um desinvestimento nas áreas rurais.

 

Quais as suas principais preocupações, no que a Alte diz respeito?

S.M. – As minhas principais preocupações são o envelhecimento da população e a pouca fixação de jovens. Tem que haver uma maior aposta nas freguesias do interior e no potencial que elas têm. O potencial de Alte é o turismo. (…) Temos de tornar Alte mais atrativo para haver mais fixação de jovens. Tem de haver um maior investimento, não só em termos de capital, mas em termos de estratégias para puxar os jovens para lá.

 

Relativamente à requalificação urbana de Alte, à substituição dos cabos elétricos pelo ar, por outros subterrâneos, à pintura das casas com as cores características das aldeias algarvias… Esse trabalho tem sido feito? Está terminado?
S.M. –
Houve uma grande intervenção em Alte no tempo do anterior presidente. Foi feito um plano de revitalização enorme em Alte, uma grande intervenção. Em Alte todos esses cabos e antenas não existem pelo ar, está tudo disfarçado. Mas, Alte, aldeia, cada vez tem menos população, a maior parte é idosa, e as pessoas não se ocupam das suas habitações. Ou seja, estava tudo muito bonito, mas tem de haver alguma manutenção. Se as pessoas vão falecendo e as casas vão ficando vazias, deterioram-se mais rapidamente, não há pintura, e o aspeto começa-se a degradar…

 

O que falta a Alte para voltar a ser uma referência regional?

S.M. – (…) Deixem-me dar-vos a feliz notícia que a Junta de Freguesia de Alte, com a Escola Profissional, e o Museu Municipal de Loulé, tem um grupo de trabalho que está a trabalhar para voltar a dinamizar Alte, no conceito de “Alte - Aldeia Cultural”, em que estamos a pensar fazer um concurso de flores, com as típicas Malvas, para que as pessoas voltem a ter o vasinho à porta bem cuidado. Estamos a trabalhar essa ideia para o ano que vem. (…) Estamos também a trabalhar na ideia do Artesanato. Temos um espaço desocupado, uma casa que pertence à Junta de Freguesia de Alte, onde pretendemos criar o Centro de Artesanato. Neste momento estamos a criar um regulamento, para que os próprios artesãos giram aquele espaço e vendam lá os seus produtos (…)

 

 

Esta entrevista foi realizada por Nathalie Dias e Vítor Gonçalves no Programa “Olha que Dois”, uma parceria da “Total FM” com “A Voz de Loulé” emitido no dia 03 de fevereiro.

Oiça aqui esta entrevista na integra.

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