Economistas admitem que a maior crise imobiliária global da última década estará a chegar ao fim. E explicam porquê.

No último ano, observou-se uma queda generalizada dos preços das casas nas economias mais avançadas do mundo. E isso deveu-se ao menor poder de compra gerado pela alta inflação e elevados juros, que levou a um arrefecimento na compra de casas. Mas, ao que tudo indica, esta que é considerada a maior crise imobiliária da última década estará a passar por um ponto de viragem. Isto porque no conjunto de 37 países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), os preços das casas, em termos nominais, subiram 2,1% no terceiro trimestre do ano passado, um resultado positivo face à estagnação do custo da habitação observada no início de 2023.

No arranque de 2023, mais de metade dos países da OCDE registaram uma descida dos preços das casas. Este foi um efeito gerado pela alta inflação combinada com o aumento das taxas de juro pelos bancos centrais ao ritmo mais rápido da última década para travar a subida generalizada de preços.

Mas, segundo os economistas do Financial Times, o número de países da OCDE que registaram uma queda trimestral no custo da habitação caiu para apenas um terço no verão de 2023. “Os dados mais recentes sugerem que o declínio dos preços das casas atingiu o seu nível mais baixo na maioria dos países”, comentou Andrew Wishart, economista sénior do setor imobiliário da Capital Economics, acreditando que, por isso, que “já tivemos a correção nos preços da habitação” já esperada.

Isto quer dizer que a queda generalizada dos preços da habitação que atingiu as economias avançadas da OCDE está a desvanecer em grande parte, conclui a análise da mesma publicação. Esta descida dos preços das casas abrandou e até se inverteu em muitas economias, porque as expectativas do mercado apontam para uma descida dos custos dos empréstimos habitação em 2024, assim que os bancos centrais decidirem começar a cortar as suas taxas de juro de referência. A tudo isto, a evolução dos preços das casas na OCDE (que cresceu 2,1% no verão de 2023) foi reforçada pela falta de oferta de casas à venda nestes países.

O que se observa é que os preços das casas à venda estão a aumentar ou a estabilizar na maioria dos países mais desenvolvidos, enquanto as restantes economias registam descidas mais lentas. “É provável que os preços caiam ainda mais em alguns países como a Alemanha, a Dinamarca ou a Suécia, que têm mercados de arrendamento maiores. Mas mesmo nestas economias acreditamos que a maior parte da descida dos preços já ficou para trás”, afirmou ainda Andrew Wishart citado na mesma publicação.

Assim, “os preços das casas já estão a recuperar em muitos locais ou estão perto de atingir o fundo”, acrescenta Tomasz Wieladek, economista da empresa de investimentos T Rowe Price, que destaca que a migração e a restrição na atribuição de licenças para comprar casas por parte de estrangeiros mantiveram a pressão sobre preços das casas em muitos países, como no Reino Unido, Canadá e na Austrália.

 

Preço das casas na Europa: “Correção ainda não terminou”

O que também é esperado é que as famílias vão continuar a enfrentar elevados custos dos créditos habitação, muito embora a sua situação financeira possa melhorar um pouco face ao ano passado dada a descida da inflação e as ligeiras quedas já sentidas nas taxas de juros nas hipotecas. Mas estes altos custos nos créditos da casa, a par dos elevados custos de construção, deverão continuar a arrefecer a compra de casa em vários países, sendo por isso esperado que a correção dos preços continue em algumas economias.

“Acreditamos que a correção dos preços das casas na Europa ainda não terminou, mas provavelmente já vimos o pior”, salienta Sylvain Broyer, economista-chefe da EMEA na S&P Global Ratings, citada pelo mesmo jornal. Por exemplo, na Alemanha (onde a habitação está sobrevalorizada e o mercado de arrendamento tem especial peso), deverá a sentir uma queda dos preços das casas no início deste ano. E o mesmo é esperado para a França. Já em Portugal, Espanha e Itália, os preços das casas deverão continuar a crescer. Também no Reino Unido deverá iniciar a rota de recuperação.

Os dados mais recentes do Eurostat apontam para uma queda homóloga dos preços das casas na União Europeia de 1% no terceiro trimestre de 2023 (muito embora tenham subido 0,8% em termos trimestrais).

Já nos EUA, a Austrália e Nova Zelândia, os preços da habitação estão novamente a crescer, enquanto na Coreia estabilizaram depois de atingirem mínimos em meados de 2023. Já para o caso da China - que tem vivido uma grave crise imobiliária - a Fitch prevê que os preços da habitação vão continuar a cair nos próximos dois anos, alertando que a procura de investimento “desapareceu em grande parte” após uma contração de preços de 7% nos últimos dois anos.

 

Idealista News