MOTE
A vida do meu viver
Desde o dia, do meu nascimento
Num livro, a vou descrever
Para deixar como requerimento
I
Nasci na serra do Caldeirão
Em mil novecentos quarenta e sete
Até, dois mil e dezassete
Setenta anos, já lá vão
Uma boa prestação
Que eu pretendo percorrer
Para dar a conhecer
Um pouco, o meu passado
No meu livro, deixo traçado
A vida do meu viver.
II
Cresci, junto à natureza
Retirado da cidade
Mas feliz, em liberdade
E, nunca, faltou pão na mesa
Não fazia parte da nobreza
Filho de gente pobre, lamento
Muito trabalho, pouco, rendimento
Que me levou a emigrar
Vinte anos, ali, a morar
Desde o dia, do meu nascimento.
III
Deixei a escola aos onze anos
Apenas com a quarta classe
Sem ter direito a um passe
Para seguir os meus planos
A ciência, os direitos humanos
Estudar, era o meu prazer
Um sonho, que não cheguei a ter
Tive de seguir por outra via
Hoje, dedico-me à poesia
Num livro, a vou descrever.
IV
Aos vinte anos, fui para a tropa
Cumprir o serviço militar
Em missão no Ultramar
Com as balas à queima-roupa
Quando regressei à Europa
Junto ao meu regimento
Ainda tinha, o sentimento,
Estar frente ao inimigo,
O meu poema, é, um artigo
Para deixar como requerimento.