Não obstante todo o empenho de quase 20 especialistas, toda a técnica clínica, todas as centenas de horas investidas, e todas as esperanças acumuladas, a Selkie não resistiu à continua degradação da sua condição clínica e faleceu no pós-operatório.

Ao longo de um percurso, marinho e solitário, que se arrastou por mais de um ano e meio e passou por vários países, incluindo Espanha e Portugal, a Selkie [nome da figura mitológica do filme ‘Song of the Sea’ – no mar, uma foca, em terra um humano] afastou-se milhares de quilómetros do seu habitat natural e foi sofrendo e acumulando vários ferimentos (face, barbatanas, genitais), uma infeção bacteriana, uma forte infestação por nematodes (entre outros), e uma parcial obstrução gastro-intestinal, que levou à progressiva degradação do seu comportamento e condição clínica.

Face ao anterior, e em articulação com o ICNF (a entidade coordenadora da rede ABRIGOS, da qual o Zoomarine foi promotor e co-fundador, em 1997), a foca-cinzenta foi resgatada a 12 de dezembro, numa praia Algarvia, e permaneceu 30 dias em reabilitação, para estabilização, antes de ser submetida a um procedimento clínico, liderado pelo Dr. José Sampayo [Espanha], no passado dia 13 de Janeiro, com vista à remoção de um anzol, objetos de plástico, e restos de artes-de-pesca (fios de nilon e pedaços de redes) que se haviam acumulado no trato gastro-intestinal. Foram 5 semanas de empenho para salvar o animal.

Do estômago da Selkie foi removido tudo o que nunca lá deveria ter entrado: lixo humano. Lixo que não deveria chegar à boca de animais marinhos – mas que todos os dias é ingerido por espécimes incautos, como a Selkie. No selvagem, quando ingeridos, estes objetos tendem a impor uma morte lenta, dolorosa, ingrata, injusta e desumana.

Todos os dias morrem nos mares - longe da vista de humanos, longe das mãos de quem as tenta ajudar… Houve muitas vezes em que a equipa chegou a tempo - esta, infelizmente, não foi uma dessas vezes.

 

Por: Zoomarine