“Há 20 anos ninguém imaginaria o salto qualitativo que a região iria dar. Passámos de uma imagem desprestigiada, associada a vinhos de má qualidade, para uma região [vitivinícola] que, apesar de ser a segunda mais pequena do país, mostra grande sucesso”, resume Pedro Valadas Monteiro.
O vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve lembra que a quantidade limitada de produção continua a ser um obstáculo para “chegar a certos canais, como a exportação, que exige escala”, ainda mais quando a vizinha região do Alentejo tem uma enorme produção de vinho.
“No turismo, há modelos de negócio com centrais de compras noutras zonas do país, que trabalham grandes volumes e produtos indiferenciados”, refere, sublinhando que, apesar de ser a segunda região mais pequena a nível de produção, o Algarve tem “vindo a libertar-se da má imagem antiga”.
Segundo Sara Silva, presidente da Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA), o crescimento em número de produtores tem sido grande: em 2017 havia cerca de 30 produtores, atualmente o Algarve tem 60, com áreas médias de quatro hectares de vinha, embora existam produtores maiores.
“Há um foco muito grande na qualidade. Podemos ter um potencial de produção maior, mas o posicionamento da região é o dos vinhos ‘premium’. Isso implica seleção na parte produtiva e na escolha das vinhas, o que naturalmente reduz a produtividade”, reconhece, frisando que desde 2017 surgem entre quatro a cinco novos produtores por ano.
Segundo Sara Silva, além dos produtores que expandem as suas áreas de vinha, têm surgido novos investidores, alguns em zonas menos tradicionais, como é o caso de Vilamoura, áreas limítrofes de Aljezur ou até em Vila do Bispo, na costa oeste do distrito de Faro.
No entanto, é preciso não esquecer que a produção depende da natureza e que o vinho não é um produto standardizado: “Há anos mais produtivos e outros menos. Em 2024 atingimos um recorde de dois milhões de litros. Este ano ficará abaixo, cerca de 15% menos”, contabilizou.
“O importante é que os 60 produtores estão ativos, têm vinhas a produzir e colocam vinho no mercado. Há 15 anos a realidade era diferente: podíamos ter 25 produtores, mas parte deles não tinha vinhos ativos no mercado. Hoje os números refletem produção real e dinâmica efetiva do setor”, notou a presidente da CVA.
Também o presidente da Câmara de Lagoa, onde foi criada a primeira cooperativa de produtores de vinho do Algarve, na década de 1940, realça a “excelente qualidade” dos vinhos do Algarve, notando que têm ficado muito bem posicionados em concursos enológicos em Portugal e na Europa.
“Tenho assistido a provas cegas onde ficam muito bem posicionados, conquistando medalhas de prata e de ouro. Quando se prova vinho cegamente, o estigma desaparece. Os nossos vinhos têm qualidade e ficam bem colocados entre os melhores de Portugal”, refere Luís Encarnação.
Segundo o autarca, se há uns anos era muito difícil encontrar vinhos algarvios nos menus dos restaurantes e hotéis da região, atualmente esse cenário mudou e até nas grandes superfícies é fácil encontrar referências da região, havendo até espaços específicos dedicados aos vinhos do Algarve.
Esse trabalho entre as entidades do setor na região tem levado a unir a degustação de vinho à gastronomia e ao turismo, sendo disso exemplo o evento “Entre pratos e vinhos”, cuja terceira edição decorre até ao final do mês em cerca de 20 estabelecimentos aderentes.
O evento, organizado pela CVA e que, pelo segundo ano, inclui a rubrica “Ficar”, que promove alojamentos com experiências associadas ao vinho, contribui para dinamizar a restauração e a hotelaria na época baixa, apresentando menus exclusivos de harmonização entre pratos e vinhos certificados da região.
A Comissão Vitivinícola do Algarve é a entidade responsável pela certificação e promoção dos vinhos com indicação geográfica “Algarve” e das denominações de origem Lagos, Portimão, Lagoa e Tavira.
Lusa




