“Enquanto houver precariedade, a carreira de professor do ensino superior será prejudicada”, porque os salários vão ser “comprimidos”, sublinhou José Moreira, presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) e professor e investigador na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade do Algarve (UAlg).
Segundo os participantes do protesto, que reuniu cerca de meia centena de trabalhadores do ensino superior no Campus de Gambelas da UAlg, o número de precários no setor é superior a 50%.
A iniciativa conjunta das estruturas e sindicatos, SNESup, Sindicato de Professores da Zona Sul (SPZS-FENPROF) e Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) teve como objetivo principal “alertar para o descontentamento e injustiças” que se vivem na UAlg.
De acordo com José Moreira, os professores, “assim como os médicos, perderam mais de 30% do poder de compra nos últimos anos”.
“Tem a ver com a dignidade da nossa profissão. Não podemos aceitar”, realçou o presidente do SNESup.
Segundo esta estrutura sindical, a depreciação “contínua e penosa” dos salários ao longo da última década leva a uma maior incapacidade da UAlg em atrair e reter os melhores profissionais, principalmente os que se formaram na instituição de ensino algarvia.
Os manifestantes pediram a “correção dos cortes” impostos pela ‘troika’ entre 2011 e 2015 e uma “digna valorização salarial”, nomeadamente através do acesso à carreira, progressão e combate à precariedade de docentes e investigadores.
Um outro dirigente sindical, Joaquim Pinto Contreiras, do SPZS, lamentou que na área do ensino superior os profissionais “não reivindiquem mais” a correção das injustiças “que se têm vindo a agravar”, tendo também referido “a grave situação dos precários”.
Por seu lado, Sofia Lisboa, representante dos bolseiros, denunciou os salários baixos desta classe, cujos membros “vão de bolsa em bolsa”, sem estabilidade, enquanto não conseguem adquirir um vínculo: “A ABIC quer desaparecer. Queremos entrar na carreira”, defendeu.
Os manifestantes também protestaram contra o uso abusivo da figura do docente convidado “que condena largas dezenas de docentes à precariedade, ao sistema de avaliação que limita a progressão horizontal dos docentes, bem como, ao envelhecimento do corpo docente”.
Os profissionais da UAlg chamaram ainda a atenção para “a insuficiência do financiamento público” e as escolhas da gestão da instituição “que comprometem o seu funcionamento e futuro”.
Finalmente, criticaram a nova fórmula proposta em sede de Orçamento de Estado para 2024 de “reduzir significativamente” a contribuição do Estado no ensino superior, transferindo uma parte significativa do orçamento para as autarquias e Comissões de Coordenação de Desenvolvimento Regionais (CCDR).
Lusa