Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

O Cristianismo nasceu, há já mais de vinte séculos, no seio de uma cultura particular, a hebraica.

Mas sempre marcado pela abertura ao mundo e pelo respeito pela Pessoa humana, que, para o Ocidente, pouco mais era então, que o mundo greco-romano, europeu e mediterrânico. Assim se iniciou uma aventura em que a Igreja nascente se foi construindo de contínuos cruzamentos na afirmação dos seus princípios; na elaboração conceptual dos seus dogmas; no desenho dos rituais dos seus encontros; nas cores variadas das suas festas; nas palavras dos seus cantos, nos seus símbolos e nos múltiplos modos de fazer silêncio ou de balbuciar a palavra perante o mistério do mundo e do homem. Assim o cristão, no seu modo de ser e de entender, de dizer e de realizar, foi cruzando pensamentos, culturas e fez modos de ser e de estar no mundo.

Para os cristãos, a Cultura é sempre espaço de “cultivo”, de aprendizagem e de revelação; um verdadeiro “lugar polifónico” onde a palavra, a escuta, as formas, as cores, o silêncio, constantemente se cruzam e se iluminam; espaço onde o encontro verdadeiro se torna sempre condição de caminho e de construção.

Daquilo que neste sentido à Igreja diz respeito, é suficientemente eloquente e conhecido o seu pensamento: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” (GS 1). E sobre a conveniente promoção do progresso cultural: “É próprio da pessoa humana necessitar da cultura, isto é, de desenvolver os bens e valores da natureza, para chegar a uma autêntica e plena realização.

Por isso, sempre que se trata da vida humana, natureza e cultura encontram-se intimamente ligadas” (GS 53). Servir a cultura é o seu grande desafio e indeclinável missão. Cultura, que se exprime em todas as coisas por meio das quais o homem apura e desenvolve as múltiplas capacidades do seu espírito e do seu corpo; se desenvolve no esforço por dominar pelo estudo e pelo trabalho o próprio mundo, tornando mais humana com o progresso dos costumes e das instituições a vida social e no decorrer do tempo, exprimindo, comunicando aos outros e conservando nas suas obras, as suas grandes experiências espirituais e as suas aspirações.

A cultura tem um lugar privilegiado na vocação integral de cada ser humano. Mas hoje, pressente-se uma crescente tensão, que por vezes toma formas de “conflito” entre o presente e a tradição. Hoje, o rosto do mundo em que vivemos e em que o Cristianismo se faz história, alterou-se profundamente.

Por isso, para continuar a responder aos desafios da cultura em que a mensagem da fé encarna na vida dos homens, não pode a Igreja permanecendo fiel ao Evangelho deixar de equacionar o novo contexto em que se inscreve a sua intervenção, que implica o repensamento da fé e da missão. Tudo isto se impõe urgentemente quando celebrando cinquenta anos de democracia e de liberdade ainda se encontra em crise e pouco dignificada politicamente, como seu fundamento e alicerce a Cultura.