"É absolutamente falso que eu tenha dado sugestões ou orientações a ministros no sentido de os instrumentalizar, para realizar atos contra a sua vontade, atos ilegais", afirmou, no quarto dia do interrogatório no julgamento da Operação Marquês, o chefe de Governo entre 2005 e 2011.
José Sócrates rejeitou ter discutido detalhes do concurso numa reunião, em outubro de 2009, com o então ministro cessante das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino, e com o presidente do júri do procedimento.
Segundo o ex-governante, o encontro aconteceu por iniciativa de Mário Lino, não durou mais de cinco minutos e o "único comentário" que fez então foi para que fosse seguida a jurisprudência do Tribunal de Contas, "por mais infundada" que fosse.
O socialista acusou ainda o Governo seguinte, liderado por Pedro Passos Coelho (PSD), de ter acabado com o projeto, que, em 2012, acabaria por ser chumbado pelo Tribunal de Contas.
O concurso tinha sido ganho por um consórcio do qual fazia parte o grupo Lena, que, com o veto, ganhou direito a uma indemnização de mais de 150 milhões de euros, que até hoje não foi paga.
"Não se pede para analisar o cabimento orçamental de um projeto que se retirou do Orçamento", lamentou hoje José Sócrates.
O antigo primeiro-ministro acusou também o executivo de António Costa (PS) de "covardia política" por ter decidido, a partir de 2015, não avançar com o TGV, "apenas porque era o projeto do Sócrates", detido em novembro de 2014.
O antigo primeiro-ministro, de 67 anos, está pronunciado (acusado após instrução) de 22 crimes, incluindo três de corrupção por ter, alegadamente, recebido dinheiro para beneficiar em dossiês distintos o grupo Lena, o Grupo Espírito Santo (GES), e o empreendimento Vale do Lobo, no Algarve.
O processo conta, no total, com 21 arguidos, que respondem globalmente por 117 crimes económico-financeiros.
O julgamento começou em 03 de julho e pelo Tribunal Central Criminal de Lisboa irão passar mais de 650 testemunhas.
Os arguidos têm, em geral, negado a prática de qualquer ilícito.
Lusa