O padre Mário de Sousa evidenciou Maria como «a grande testemunha», «a primeira discípula e missionária» de Jesus, tendo sido confiada por Cristo à Igreja como mãe e modelo de identificação com Ele.

Na jornada teológico-pastoral que a Diocese do Algarve promoveu no passado sábado, através do seu Centro de Estudos e Formação de Leigos do Algarve (CEFLA), o sacerdote explicou que “Maria é assim imagem da Igreja que pode ver e aprender com ela o que significa ser discípulo fiel” e que “Maria foi a primeira a acreditar” e, por isso, “a primeira a ser proclamada bem-aventurada”. “Maria escutou e pôs em prática. Esta é a sua verdadeira bem-aventurança”, afirmou, sublinhando que “Maria conhece a Bíblia, reza com a Bíblia e, por isso, interpreta a sua vida e os acontecimentos da sua existência à luz da palavra [de Deus]”.

Naquela segunda jornada teológico-pastoral, que teve lugar no Centro Pastoral de Pêra sob o tema “Maria, Mãe e Discípula” com a participação de cerca de 200 pessoas de todo o Algarve, o orador defendeu, assim, que a figura da mulher a que alude a Bíblia no capítulo 12 do livro do Apocalipse “refere-se ao Israel fiel (…) e, concomitantemente, à Igreja”. “Há alguém que, na comunidade joanina (onde o livro do Apocalipse tem a sua origem), seja vista como a mulher por antonomásia e represente quer o Israel fiel, quer a mãe dos discípulos que guarda o testemunho de Jesus? Na minha opinião a resposta é óbvia, tem um nome e chama-se Maria”, evidenciou o padre Mário de Sousa, encarregue da dimensão bíblica daquela iniciativa de formação, tendo abordado o tema “«Uma mulher revestida do sol» (Ap 12,1): Maria na Igreja e a Igreja em Maria”.

O sacerdote lembrou assim que no evangelho segundo São João, Jesus usa o termo “mulher” para se dirigir à sua mãe, o narrador apresenta-a nas bodas de Caná como “a mãe de Jesus” e o próprio Cristo, na cruz, a declara como “mãe dos discípulos”. “Maria aparece assim como mãe e discípula, de tal forma exemplar, que, pela vontade de Jesus [junto à cruz], se torna mãe. Uma mãe ensina e, por isso, Jesus entrega ao discípulo amado (que somos nós) alguém a quem diz: «aprende com ela o que é verdadeiramente acreditar e ser discípulo, sem condições, sem ser às prestações, mas de coração completamente aberto e com uma vida completamente entregue»”, afirmou, lembrando que a Virgem de Nazaré é “a primeira a aceitar Jesus como Senhor” e a “procurar o sentido profundo dos acontecimentos referentes a Jesus, guardando e ponderando-os no coração”.

Realçando Maria como “alguém cujo testemunho é inigualável”, o sacerdote lembrou que a mãe de Jesus acompanhou não apenas a sua vida pública, sendo a “testemunha única da incarnação, do nascimento e da infância” de Cristo, e que, “ao contrário dos apóstolos, não abandonou Jesus no momento mais difícil do percurso terreno: na paixão e na morte”. “Maria é a primeira a ser associada ao mistério pascal do seu filho”, acrescentou, destacando que a Virgem “não foi apenas testemunha da paixão de Jesus”. “Tendo sido a primeira a acreditar, foi também a primeira a ser associada à glória do Filho”, sustentou.

Relativamente à caraterística de Maria como a primeira missionária de Jesus, o padre Mário de Sousa lembrou que, depois da anunciação, Nossa Senhora “foi apressadamente para a montanha para se pôr ao serviço”. “De alguma forma, Maria antecipa o que Jesus dirá aos seus discípulos. Maria é espelho da missão da Igreja: ser transportadora de palavras cheias da presença de Jesus, que o mesmo é dizer ser transportadora – na expressão do papa Francisco – do Evangelho da Alegria [Evangelii Gaudium]”, afirmou.

O padre Mário de Sousa destacou ainda que Maria “antecipa a realidade da própria encarnação”, bem como o envio do Espírito Santo (Pentecostes) prometido a toda a Igreja. “Antes de Jesus estar no seio de Maria, já Deus está na vida da Virgem de Nazaré”, explicou, acrescentando que “a generosidade do seu ‘sim’ faz com que a sua intimidade com Deus se torne intimidade de Deus com a humanidade toda”.

O orador considerou ainda que a mãe de Jesus é também a primeira que “ousa valer-se de uma fórmula de casamento com Deus”. “Maria diz-Lhe: «Eu sou tua. Faça-se em mim de acordo com a tua palavra». Esta afirmação depois da declaração «não conheço homem» parece, na minha perspetiva, querer sublinhar a virgindade perpétua de Maria. Não conheceu [homem] antes e já não conhecerá depois porque se desposa com Deus pela ação do Espírito Santo”, afirmou.

O padre Mário de Sousa defendeu igualmente que Maria é a primeira a “apresentar Jesus como alimento à humanidade”. “Ao depositar Jesus no lugar do alimento (manjedoura), Maria apresenta Jesus como Aquele que vem para alimentar, para saciar a fome mais profunda do ser humano. Por isso, Jesus nasce numa povoação chamada Bethlehem [Belém], que significa a casa do pão. Ele é o «pão» dado por Deus para alimentar, não a vida biológica, mas a própria vida de Deus que nos veio oferecer”, frisou.

Por fim, concluiu deixando claro que a “mulher revestida do Sol que é Deus, é Maria porque em Maria está a Igreja revestida da luz de Deus”. “O brilho de Maria não é próprio, mas recebido d’Aquele que é o sol. Por isso, ela é a imagem da Igreja. Revestida de Deus, Maria é a imagem da Igreja chamada também ela a ser reflexo da luz do Senhor no mundo”, afirmou, concluindo com a recitação da Avé Maria.

 

Por: Folha do Domingo

Fotos Samuel Mendonça