O diagnóstico é traçado pela Knight Frank. Em Portugal, o preço das casas continuou a subir, mas menos que no mundo.

A chegada da pandemia da Covid-19 foi como o sismo. A partir do seu epicentro na cidade de Wuhan, China, rapidamente chegou a todo o mundo, deixando vários mercados congelados e a temer o futuro. No imobiliário, a pandemia colocou vários negócios em stand by nos primeiros meses e muitos investidores preferiram ‘esperar para ver’. A vida seguiu e os negócios também, de tal forma que o setor tem sido considerado um dos mais resilientes em vários países do mundo. Portugal é um deles, onde os preços das casas continuaram a subir, mas menos que no resto do mundo.

Passando a pente fino os dados do mais recente relatório Global House Price Index da Knight Frank, salta à vista que Portugal está a meio da tabela que compara a evolução dos preços das casas nos diferentes países a nível mundial. A subida dos preços na ordem dos 8,6% entre segundo trimestre de 2021 e o período homólogo, valeu a Portugal a 20ª posição neste ranking. Isto significa que houve 19 países onde os preços das casas subiram mais do que em território nacional, e vários registando taxas de crescimento bastante mais altas.

A verdade é que os preços das casas aumentaram na grande maioria dos 55 países do mundo analisados pela consultora – em precisamente 52 –, colocando a média global nos 9,2%. Mas note-se que as variações entre estes dois momentos são bem dispares: a maior foi registada na Turquia, de 29,2%, e a menor na Malásia, de 0,3%. Há um país onde os preços das casas não mudaram entre abril e junho de 2021 e o período homólogo: em Jersey. E houve até dois onde os preços das casas desceram: na Índia (-0,5%) e na vizinha Espanha (-0,9%).

Onde é que os preços mais aumentaram?

Foi nos países mais avançados onde os preços das casas mais aumentaram. “Dez das economias mais desenvolvidas do mundo apresentaram um crescimento médio do preço de 12% nos últimos 12 meses contados até junho, valor esse que é o dobro do registado nos mercados em desenvolvimento (4,7%)”, lê-se no estudo da Knight Frank.

Este ranking é liderado pela Turquia (29,2%), seguida pela Nova Zelândia (25,9%), Estados Unidos e Eslováquia (ambos com um aumento de 18,6%), Suécia (17,2%) e Luxemburgo (17,0%). Também na lista de economias onde os preços das casas aumentaram mais de 10% está a Austrália, Canadá, Países Baixos, Rússia, Dinamarca, Reino Unido, Islândia, Noruega, Áustria, Lituânia, Alemanha e Chile.

Conta-se um total de 18 países – dos 55 analisados – onde o preço da habitação cresceu na ordem dos dois dígitos, um número bem superior ao registando há um ano, quando apenas sete mercados atingiram esse ritmo de evolução. Por outro lado, este também foi o período em que se verificou o menor número de países com descidas de preços desde 2008, ano marcado pela criação deste índice da Knight Frank. Olhando para estes números, a consultora conclui mesmo que estamos perante um "boom imobiliário induzido pela pandemia".

 

Os fenómenos na China

O mercado imobiliário chinês, que vive atualmente a braços com uma crise que está mesmo a colocar em risco a estabilidade financeira do país - devido à quebra do gigante do setor, Evergrande - é um caso especial. Os preços das casas novas estavam em rota ascendente até meados de 2019. Mas com as limitações impostas pelo Governo chinês para evitar uma bolha imobiliária e os efeitos da pandemia no mercado, a evolução do preço das casas começou a abrandar, de tal modo que em julho de 2021 os valores das casas novas só aumentaram 4,6% face ao período homologo, segundo apontam os dados da statista.

O país depara-se, portanto, com uma “grande desaceleração” do aumento dos preços das casas. E também o relatório da Knight Frank dá conta deste fenómeno: na China os preços subiram apenas 4,3% entre o segundo trimestre de 2021 e o mesmo período do ano passado. E este aumento é exatamente o mesmo que registado há um ano, destaca o relatório.

Mas mesmo dentro do território chinês há exceções, como é o caso de Hong Kong. Embora no estudo os preços das casas nesta região autónoma tenham subido apenas 2,6%, é aqui onde o preço por metro quadrado é um dos mais altos do mundo e onde é também mais rentável. Recorde-se que foi aqui que foi recentemente vendido um lugar de estacionamento por um valor recorde: cerca de um milhão de euros.

Hong Kong é a cidade mais cara do mundo para viver e onde a taxa de esforço para comprar casa é de cerca de 20 anos, uma das maiores do globo. E é também aqui onde o risco de bolha imobiliária é um dos mais preocupantes do mundo, segundo o Global Real Estate Bubble Index 2020 da UBS.

Mudanças à vista: subida de preços vai abrandar?

Apesar do crescimento de preços a nível global, o mercado já dá vários sinais de abrandamento. Isto pode mesmo querer dizer que a escalada de preços pode estar a chegar ao fim.

A Knight Frank fala mesmo que a procura de casas está a diminuir em alguns mercados, como é o caso dos Estados Unidos. E há também a previsão do aumento da taxa de juro associado ao crédito à habitação em vários países, como na Nova Zelândia, Estados Unidos e Reino Unido. Estes dois fatores, juntos, poderão abrandar a compra de casas no médio prazo, segundo a consultora.

Também a Oxford Economics assinala no seu mais recente relatório que, no médio prazo, haverá um “um arrefecimento do ritmo de crescimento dos preços da habitação” na zona euro. E os fatores por detrás deste travão nos preços passam pelo aumento gradual das taxas de juro e também pelo aumento da oferta de casas.

Este relatório aponta para uma subida de preços das casas em 2021 na ordem dos 7%. A rota decrescente deverá iniciar-se já em 2022, com este valor a cair para os 6%. As maiores diferenças deverão ser sentidas entre 2023 e 2025, dado que está prevista uma descida ainda maior: para menos de 2% por ano.

Por: Idealista