Inspirado na obra “Os Pescadores”, de Raul Brandão, no trabalho de investigação realizado nas comunidades piscatórias de Portimão, Nazaré, Sesimbra, Setúbal e Montijo, e na investigação antropológica de Vanessa Amorim, o projeto tem o Museu de Portimão como parceiro, conta com a participação das atrizes Ana Lúcia Palminha e Suzana Branco e é encenado por Miguel Jesus.
Entre 1921 e 1923 Raul Brandão documentou nas páginas d´OS PESCADORES a dimensão do nosso mar e quem dele fazia vida. Esta obra, escrita há mais de 90 anos, permanece como um dos mais belos roteiros literários dos nossos portos, praias e rias. Partindo do livro de Raul Brandão e do trabalho de pesquisa junto de diferentes comunidades piscatórias, o espetáculo “Pelos que andam sobre as águas do mar” pretende homenagear as várias gerações de homens e mulheres que fizeram e fazem do mar a sua vida. Duas atrizes dão corpo e voz às suas histórias convocando de forma poética a memória e a paisagem da nossa costa. Em cada local um espetáculo diferente, reescrito a partir da experiência efetiva e afetiva com a comunidade.
Nos dias 29 e 30 a equipa de produção convida os órgãos de comunicação social para assistir aos ensaios que irão decorrer no Museu de Portimão, a partir das 16h00, com o coro feminino de Alvor, havendo nessa ocasião a oportunidade para colocarem questões.
SINOPSE
Que relatos e que retratos se podem traçar hoje, à luz do século XXI, sobre a história e as estórias das gentes e do mar? Que paisagens litorais se podem desenhar e dar a conhecer? Este projeto pretende contribuir para o fortalecimento da identidade cultural da linha costeira do país através da produção de registos literários, fílmicos e teatrais, por sua vez baseados no património material e imaterial associado à pesca e ao mar.
O FASCÍNIO EM RAUL BRANDÃO
As comemorações dos 150 anos do nascimento de Raul Brandão constituem uma excelente oportunidade para revisitar a escrita de um dos mais importantes escritores da nossa literatura. A sua escrita, refletindo uma personalidade plural, e por vezes contraditória, deambula entre uma abordagem sombria da condição humana, que identificamos, por exemplo, em Húmus, a sua obra-prima, e a descrição luminosa do homem e da natureza, revelada em livros como As Ilhas Desconhecidas; mas sempre com uma forte preocupação com a situação e o destino dos mais carenciados. Os Pescadores, o seu livro mais popular em vida, de cariz impressionista, constitui-se como um importante registo, um retrato social do país piscatório à época, que importa, no tempo atual, abordar com novas ferramentas. O papel central das Mulheres nas comunidades, a escassez dos recursos, já apontada por Brandão nos anos 20 do século passado, o mar como lugar de tragédia, são apenas alguns dos temas que temos vindo a trabalhar. A obra de Brandão é assim ponto de partida e inspiração para uma reescrita sobre o que resta desse mundo, esventrado pela máquina do tempo e pelos seus atores.
Por: CM Portimão