Saiu de uma área onde dava pontapés na bola e veio para outra onde muitas vezes se leva pontapés…
T.P. – Muitas vezes os pequenos toques de calcanhar, como se costuma dizer, dão-nos muitas alegrias. Os pontapés são muitos, mas às vezes acontecem, em particular nesta política de proximidade que nós fazemos, onde temos muita responsabilidade, pois o dia-a-dia é feito pelas pessoas. Eu costumo dizer que sou o Presidente das pessoas da Freguesia de Quarteira, o que é diferente de ser Presidente de um País ou de uma Freguesia. (…)
A remuneração que atualmente recebe compensa o trabalho que tem, comparativamente com aquele que perdeu aceitando este cargo?
T.P. – Eu não gosto de pensar dessa maneira. Tudo aquilo que dou à Junta de Freguesia, dou com a maior das energias, e as 24 horas do dia muitas vezes não chegam para tudo o que temos que fazer. Eu fiz questão de fazer parte dos órgãos da ANAF, um grupo bom de jovens presidentes de juntas de freguesia que têm lutado muito por aquilo que são as competências das juntas. Uma Junta de Freguesia como Quarteira é uma minicâmara devido às responsabilidades e exigências dos dias de hoje. Essas exigências levam a que até as Juntas de Freguesia mais pequenas tenham que ter muito conhecimento técnico e de leis e ter uma equipa capaz, o que é fundamental para uma Junta como Quarteira. Só para dar um exemplo, para fazer qualquer obra que custe entre 1000 a 1500 euros, é necessário preencher uma série de requerimentos que levam muito trabalho a elaborar e as Juntas de Freguesia não têm os quadros técnicos que as Câmaras têm, o que torna ainda mais difícil. Numa junta como a de Quarteira, que não está inserida numa sede de Concelho e que tem uma enorme responsabilidade em termos sociais, de obras e urbanismo, são necessárias respostas rápidas e as Câmaras muitas vezes não as conseguem dar.
Quem desempenha cargos públicos, nomeadamente autárquicos, resta-lhes pouco tempo para a família. Consegue arranjar tempo para a sua?
T.P. – Não é fácil. Mas hoje em dia, de maneira geral, as exigências são tantas no trabalho que as pessoas não têm tanta facilidade nesses aspeto. Não temos feito política para as famílias porque existem países que olham para as famílias de maneira diferente. Hoje em dia, nós não temos tempo para os nossos filhos, mesmo num trabalho normal.
Quando um munícipe mais “intenso” vai ter consigo, qual é a sua reação? Chuta para canto, fica no banco ou é suspenso?
T.P. – Nunca chuto para canto, até porque existe proximidade e nós conhecemos muito bem as pessoas. Essa é a diferença entre a gestão de uma freguesia e o resto do país. Normalmente, tentamos resolver as situações, mesmo não sendo competências da Junta de Freguesia. Por exemplo, nós conseguimos neste momento estar a tapar todos os dias os buracos da calçada, que são coisas que, olhando de cima, podem parecer insignificantes, mas que no dia-a-dia das pessoas são muito importantes. Quando as pessoas nos abordam, nós tentamos sempre resolver os problemas. Apesar de todos os cortes, conseguimos, através do centro de emprego, ir buscar um engenheiro, um gestor de empresas, uma pessoa licenciada em marketing e publicidade e uma técnica de ação social, que são uma mais-valia. Neste momento estas pessoas já não estão no centro de emprego, começaram a entender a dinâmica da junta e nós temos alguns contratos estabelecidos.
Completou já dois anos de mandato na Junta de Freguesia de Quarteira. Que expetativas tinha quando decidiu candidatar-se?
T.P. – Foi uma aventura. Nós sabemos que nos regemos por uma quantidade de leis e obrigações numa empresa privada, mas quando chegamos à junta de freguesia não sabemos o que se vai passar. (…) É lógico que quando cá cheguei me deparei com uma série de barreiras que são colocadas pela legislação e pelas obrigações com o Estado e com o Governo, que nos dificultam muitas vezes o trabalho que fazemos. Mas temos sempre a intenção de melhorar. Eu acho o Concelho de Loulé um grande Concelho. (…)
Fez algum estudo para saber ao certo onde deveria atuar caso ganhasse as eleições? O que já conseguiu concretizar?
T.P. – Já trabalhámos diversas áreas. Na área de ação social, (…) já tínhamos uma resposta rápida e quisemos fazer uma ligação com as associações. Queríamos aproximar todos esses grupos, desde desportivos a sociais, de maneira a que pudessem trabalhar connosco em benefício da terra. Grande parte dos eventos têm tido a adesão de associações e clubes e constantemente as pessoas chegam até nós com ideias. O nosso objetivo é não deixar que as autarquias tomem conta da execução desses eventos, mas trazer as pessoas para participar e serem eles a darem as ideias e a organizar, com o nosso apoio. Temos vindo também a trabalhar com a Câmara a questão dos espaços verdes e do urbanismo… Queremos mais poder de decisão para responder melhor, queremos promover Quarteira de outra maneira. A Junta de Freguesia tem 13 funcionários e um executivo a tempo inteiro. Estamos a falar de pessoas que fazem o atendimento ao público e outras pessoas que se desdobram em trabalhos para conseguir dar pequenas respostas na parte das obras e dos eventos.
Quais são exatamente as carências com que se depara no dia-a-dia?
T.P. – O grande problema para mim é sempre o de ter alguma autonomia, tanto financeira como humana, e que pudéssemos dar as respostas sem estar dependente das Câmaras. Este problema é geral, mas é muito mais difícil quando se trata de uma Junta de Freguesia como Quarteira, que tem esta dimensão e responsabilidade maior. Enquanto não houver uma postura de transmitir diretamente para as freguesias essas responsabilidades e, ao mesmo tempo essas competências, acompanhadas de recursos humanos e financeiros, é muito difícil.
E de quem depende essa descentralização?
T.P. – Nós acreditamos que deve depender do Estado. É tudo feito através das Câmaras. Qual é a diferença desta geração de autarcas para as de antigamente? Antes um autarca era uma pessoa de referência da freguesia, mas tinha pouca responsabilidade. Neste momento, autarcas como o Telmo Pinto são pedras influentes durante as eleições e começa-se a ter uma geração de autarcas exigentes e que não vêm só para ganhar eleições e ficar aqui a fazer corpo-presente. Neste momento, um autarca como eu, se não sentir que as coisas vão no caminho daquilo que são as suas necessidades e aquilo que quer para estar à frente da Junta de Freguesia, não fica a fazer corpo-presente, tem outras coisas para fazer na vida. Neste momento os Presidentes de junta são pessoas com formação, com conhecimentos em várias áreas e são pessoas exigentes. Quanto mais conhecimentos têm, mais exigentes são.
A estrada R396, entre a rotunda da BP e a Vila Sol, está uma lástima. Já chamou a atenção do executivo da Câmara para esse facto?
T.P. – Nem precisava. Quando se trata de coisas da minha freguesia, o Dr.º Vítor Aleixo trata sempre de me comunicar. Dirigimo-nos às Infraestruturas de Portugal e falámos sobre a R396, porque a Câmara adjudicou o projeto da entrada de Quarteira, que tem passeios e ciclovias, via essa que se vai ligar à rotunda do loteamento oceânico. Falámos também dos problemas da EN125, mas principalmente da R396, onde muitas vezes a Junta de Freguesia anda a tapar buracos. O objetivo da Câmara Municipal de Loulé é tomar posse da R396 até à Vila Sol. Com o tempo, o interesse seria ligar Quarteira a Loulé com uma estrada como deve de ser, mas a verdade é que não temos essa resposta e essa responsabilidade.
O que gostaria de ver realizado na sua freguesia até ao final do seu mandato?
T.P. – Eu costumo ver as coisas de duas formas: só passaram dois anos, mas isso significa também que já passaram dois anos. Nestes dois anos, temos duas grandes intervenções que avançaram, mas temos obras em Quarteira que estão paradas há muito tempo, como a do Passeio das Dunas e o antigo Bairro dos Pescadores, e estas obras são todas importantes. Mas há outras para fazer durante este mandato, como a Escola D. Dinis, o posto da GNR e a própria BAL, e outras mais pequenas como estacionamentos na Avenida de Ceuta. Mas para ser candidato numa próxima eleição, nestes próximos dois anos teria que ter projetos pensados para executá-los num segundo mandato. A experiência que tenho diz-me que se as coisas não forem feitas nestes próximos dois anos, jamais serão executadas nos próximos quatro. Os autarcas, cada vez mais, têm que pensar a médio e longo prazo para que as coisas possam ser executadas e preparadas.
Esta entrevista foi realizada por Nathalie Dias e Vítor Gonçalves no Programa “Olha que Dois”, uma parceria da “Total FM” com “A Voz de Loulé” emitido no dia 27 de janeiro.
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