Presidente da União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim faz balanço de dois anos de mandato em entrevista, no programa “Olha que Dois”, com Nathalie Dias e Vítor Gonçalves.
Só muito recentemente é que as mulheres começaram a ter acesso a cargos públicos. Era raríssimo, a sua participação em eleições autárquicas, como cabeças de lista e o Algarve, não fugia à regra. Mas a si, Margarida Correia, em vez de uma Junta de Freguesia, saíram-lhe três, embora agrupadas. (…) As verbas que recebe da Câmara Municipal de Loulé dão para as encomendas?
Margarida Correia – (…) O dinheiro é sempre pouco, mas com aquilo que se recebe, vamos tentando satisfazer as necessidades e as prioridades [das freguesias]. Nunca se pode dizer que é o suficiente, mas isso em nossas casas, nos orçamentos familiares, também acaba por acontecer. (…) Contudo, há um conjunto de necessidades que já estão satisfeitas. O interior até está muito bem dotado de algumas infraestruturas, nomeadamente as IPSS. Eu tenho uma freguesia que tem três lares. A área social é, na minha opinião, (…) uma área onde a União de Freguesias está bem dotada, e inclusive o interior do Concelho de Loulé.(…)
De que outras receitas dispõe, para a sua União de Freguesias? Qual é o orçamento disponível, para este ano?
M.C. – O orçamento ronda os 500 mil euros, sendo que uma parte, por volta dos 150 mil, são do contrato programa com a Câmara Municipal de Loulé, que contempla obras, manutenção de bermas, valetas e escolas. Depois temos as verbas que vêm do FEF (Fundo de Equilíbrio Financeiro) e algumas receitas próprias, que basicamente vêm dos cemitérios. Tenho três cemitérios, sendo que os valores cobrados dificilmente conseguem repor a despesa. (...)
Tem sentido algumas dificuldades, para gerir as três localidades, que até há pouco tempo, tinham a sua própria autonomia?
M.C. – Sim. (…) Esta agregação foi um processo não desejado pelas pessoas (…) que continuam a não aceitar. Eu própria não sou apologista desta União de Freguesias, porque são territórios com especificidades muito distintas. A ligação, por exemplo, entre Benafim e Querença, nunca existiu (…) Já entre a Tôr e Querença a realidade é diferente. E, como é natural, ao início, no primeiro ano de mandato, foi um processo bastante difícil, pessoal e profissionalmente. Mas foi-se fazendo a aprendizagem e penso que atualmente as coisas são mais pacíficas, as pessoas já aceitam de uma forma diferente, e penso que também me veem de outra forma. Eu não quero levar Benafim para Querença, nunca foi essa a minha intenção. As pessoas continuam com os serviços nos seus locais. E todos os dias eu estou em Benafim, atendo toda a gente, não deixo papeis para assinar… portanto os serviços acabam por se manter. (…)
Depois de 21 anos a trabalhar na INLOCO, como foi cair de paraquedas na política?
M.C. – Foi uma queda realmente… (risos) Eu estive 20 anos na área do desenvolvimento local, na INLOCO, a quem devo grande parte da pessoa que sou hoje profissionalmente (…). Entretanto tive um acidente de bicicleta, fiquei praticamente um mês e meio deitada, porque parti a bacia, e foi nessa altura que tive demasiado tempo para pensar. (…) Eu sempre disse «não» à política partidária. Já tinha sido convidada por muitos amigos anteriormente e disse sempre que não. Nunca me identifiquei com nenhuma cor política. Digamos que para mim, as pessoas é que contam. Neste caso, o convite partiu de um grande amigo, por quem eu tenho um respeito muito especial, o Helder Martins, (…) que eu achava que era um bom candidato à Câmara e que tinha em mãos uma tarefa difícil, que era arranjar um candidato para esta União de Freguesias… (…) e dado eu estar naquele estado e ter muito tempo para pensar, levou-me a tomar esta decisão de aceitar candidatar-me a Presidente da União de Freguesias. (…)
Como reagiram as populações a essa unificação?
M.C. – Não foi pacífico. Penso que as pessoas não foram ouvidas nos timings certos e ainda não estão conformadas. Aliás, toda a gente viu, Benafim formou um grupo de independentes, que foram candidatos com toda a sua legitimidade, e que estão na minha Assembleia de Freguesia (…). No início a coisa não era muito pacífica, nem muito fácil, mas atualmente as coisas vão-se levando. Mas as pessoas estão atentas, e não estão conformadas. Estão revoltadas por se unirem a Querença, com quem, como disse há pouco, não havia afinidade. É difícil… (…) A União de Freguesias vai desenvolvendo atividades que, de alguma forma, tentam unificar esta comunidade, esta população, para que se façam coisas em conjunto. (…)
Conhecerá por certo, a serra algarvia, como poucos. Quais são as principais carências das freguesias da serra algarvia?
M.C. – (…) Há uma carência que tem a ver com uma coisa básica hoje em dia que é a rede móvel. Nós, no nosso interior - e eu faço aqui um apelo aos colegas das Juntas de Freguesia (…) - temos de ser fortes, persistentes e insistir com as operadoras, (…) para que dotem o nosso interior de melhores comunicações. (…) Dentro da Junta de Freguesia de Benafim eu não tenho rede móvel. Para atender o telemóvel tenho de me colar à janela, ou, muitas vezes, ir para o exterior, porque não consigo ter rede. E eu penso (…) que se nós queremos atrair pessoas, e esse é um dos objetivos, se queremos combater a desertificação e tentar que o interior tenha algum dinamismo, temos de ter empresas, temos de ter empresários que invistam. E hoje em dia, qualquer empresa, empresário ou cidadão tem que ter um telemóvel, um tablet, um computador, com acesso à internet facilmente. Temos alguns alojamentos que se queixam desta situação (…). Eu penso que esta é uma carência onde era importantíssimo fazer muita pressão e sermos unidos … Porque, eu já contactei operadoras, já fiz alguns ofícios, e o que me dizem é que somos poucos…(…)
Drª. Margarida Correia, descreva-nos, como filha da terra, o que é que as suas gentes sentem pela Festa das Chouriças e pelo seu Santo Padroeiro, o São Luís?
M.C. – É um orgulho dos Querenceses. Este é um dos eventos mais emblemáticos que nós temos na região e as pessoas juntam-se para organizar esta festa. Este ano andou tudo a fazer chouricinhas caseiras para a festa da chouriça… e os estabelecimentos comerciais também têm um retorno bom neste dia, porque é um dia que acaba por trazer muitos visitantes à freguesia (…).
A população de Querença nos últimos anos tem envelhecido ou rejuvenescido, tem aumentado ou diminuído? Existem algumas oportunidades para os jovens poderem fixar-se na freguesia? Há condições para o fazerem, ou a desertificação, é um dado adquirido?
M.C. – É realmente um dado adquirido. Embora Querença esteja tão próximo de Loulé, são apenas 10 km, o certo é que, é inevitável, temos perdido população. Querença tem uma população envelhecida, tem poucos jovens. Das três freguesias, Querença é a que tem população mais idosa. E eu penso que há aqui alguns obstáculos à fixação dos jovens. Por um lado, o PDM não nos permite fazer construções novas, e as construções antigas existem, há muitas casas abandonadas, mas as pessoas acabam por pedir muito dinheiro por elas e os jovens não têm condições. (…) Mas penso que há aqui uma questão onde se poderia, talvez, fazer algum trabalho nestas pequenas aldeias. Criando alguma obrigatoriedade aos proprietários de recuperar as habitações desocupadas e em ruínas, e, de alguma forma, dar um incentivo para estas pessoas poderem revitalizar estas casas, para depois terem disponíveis para alugar, através do alojamento local, ou para haver esta oferta para jovens que se queiram fixar. Eu penso que era uma mais-valia para o interior e era uma forma de combatermos um pouco a desertificação, (…) uma vez que Querença é mesmo muito restrita em termos de construções novas.
Falando em jovens, fale-nos um pouco do Projecto Querença
M.C. – O Projecto Querença tem sido uma mais-valia para a região. A barra energética é o resultado desse trabalho do Projecto Querença, que neste momento está no final da sua fase 2, (…) assim como a Associação Trail do Algarve, que tem sede em Querença. E temos também um evento em agosto, o Ultra Trail da Rocha da Pena que é um evento federado e que conta para o ranking da Taça de Portugal (…).
Esta entrevista foi realizada por Nathalie Dias e Vítor Gonçalves no Programa “Olha que Dois”, uma parceria da “Total FM” com “A Voz de Loulé” emitidos a 27 de janeiro.
Oiça aqui esta entrevista na integra.
Outras entrevista em direto, às quartas-feiras, pelas 10h da manhã, no programa “Olha que Dois”, nos 103.1 e 104. da Total FM e nos 94.6 da Sagres FM.