Presidente da Associação Doina

Elisabeta Necker tem 45 anos, é natural da Roménia e veio para Portugal em 2000, com o  seu marido, para procurar novas oportunidades de trabalho. A Doina, Associação de Imigrantes romenos e moldavos do Algarve, surgiu em 2007.

 

A Voz do Algarve - Explique-nos um pouco do seu percurso profissional e como chegou até à Doina?

Elisabeta Necker - Em termos de percurso profissional, tirei no ano de 1999 o curso em Engenharia Eletro-energética. Já em Portugal, trabalhei na área da Construção Civil e fazia um pouco de tudo nessa empresa. Foi nesta altura que aprendi muitas coisas que me permitiram ajudar outras pessoas e dei-me conta que, sendo «privada», não tinha tantas oportunidades como se trabalhasse de forma «coletiva», em equipa e com uma boa estrutura montada. Tudo começou depois a crescer a partir dai.

 

V.A. - Como começou a Associação e que necessidades veio suprimir na região algarvia?

E.N. - A ideia surgiu em 2006, mas só legalizamos em 2007. O nome «Doina», é um nome de mulher e de uma canção romena típica, muito semelhante ao Fado português, mas que se canta à capela, e que exprime a dor, a saudade e o amor. Achei que faria sentido interligar tudo e construir um significado mais «especial» para o nome da Associação.

A Doina no início trabalhava mais com a parte da legalização da comunidade romena e moldava. Depois começámos a alargar os serviços à comunidade social, porque existia essa necessidade e a resposta era muito pouca. Temos a parte cultural, com o Grupo Folclórico, e a parte social e educativa. Até ao ano passado, tínhamos uma professora a dar cursos de língua romena, este ano não sei se alguém foi a concurso. Fizemos ainda alguma formação de curta duração, como o curso profissional de Técnico de Refrigeração e o curso de Português (para dar acesso à nacionalidade).

O que acontece com a Doina, é que nos adaptamos à realidade de cada um. Se for preciso, «inventamos» serviços para chegar a todos e suprimir, como disse, as suas necessidades. Podemos dizer que, neste momento, somos uma instituição de atividade pública que presta serviços a toda a comunidade, não só a migrantes. Há muita gente que nos vem procurar.

Temos um Gabinete de Inserção Profissional, que é um protocolo com o Alto Comissariado Para as Migrações, para oferecer um serviço um pouco mais especializado para o público migrante. Mas recebemos todos os tipos de pessoas.

 

V.A. - A Associação trabalha também com voluntários?

E.N. - A Assembleia da Associação é constituída só com voluntários, mas temos as técnicas que trabalham aqui.

 

V.A. - Quantos gabinetes têm?

E.N. - Temos o Gabinete de Inserção Profissional, o Gabinete de Apoio à Emigração, o Projeto «MUDAKI E7G» do Programa Escolhas e o Gabinete de Vida Saudável. Fora as atividades da Doina, que não esquece a comunidade, e «aparece» sempre na Páscoa e em outras festividades.

 

 

V.A. - Quantas pessoas procuram a Doina? Sei que também ajudam crianças… quantas são?

E.N. - É difícil saber o número exato de pessoas, mas posso dizer que as crianças (que são destinatários diretos), são 50. Por trimestre, sei que são algumas centenas de pessoas que nos procuram.

 

V.A. - Falou também no IEFP. Fazem encaminhamento para inserir quem vos procura no mercado de trabalho?

E.N. - Isto funciona através de convocatória, como se fosse uma extensão do Centro de Emprego. Temos acesso ao sistema, do IEFP e do ACM, e trabalhamos com estas duas plataformas de captação de emprego.

 

V.A. - Como é que as pessoas que vos procuram chegam à Doina?

E.N. - Normalmente o primeiro contacto que se tem com a Doina, é através de familiares e amigos. Por acaso, posso dizer que em Almancil e no Concelho de Loulé em geral, as redes de contacto e as parcerias entre instituições são cada vez mais fortes, o que faz com que tudo funcione melhor. Se alguém vier aqui [à Doina] e nos pedir algo, mas nós não conseguirmos ajudar, eu sei para onde devo encaminhar a pessoa.

 

V.A. - Têm alguns apoios da Câmara Municipal de Loulé ou da Junta de Freguesia de Almancil?

E.N. - Onde temos uma porta aberta, acabamos por ir bater. Mas sim, temos contratos com ambos. E a nossa fonte de financiamento acaba por ser através de parcerias e contratos. Os serviços são todos gratuitos.

Temos a ReFood, na área do voluntariado. Estamos a «dar» voluntários, mas ao mesmo tempo a usufruir do serviço.

Durante o verão, a comida é feita em parceira com o Agrupamento de Almacil, a ASCA – Associação Social e Cultural de Almancil e depois a distribuição é feita pela Câmara Municipal de Loulé e a Junta de Freguesia de Almancil.

O nosso mais recente gabinete destina-se à vida saudável, porque reconhecemos a necessidade de apoiar as pessoas e as famílias neste momento mais complicado. Mas não só, quem está à frente deste gabinete é uma médica venezuelana que não conseguiu emprego. Neste momento, estamos a ajudá-la nesse sentido e ela está a prestar-nos serviços, portanto, é uma troca.

 

V.A. - Como está a Doina em tempos de pandemia? Imagino que a forma de atendimento se tenha alterado e que talvez até tenham mais pedidos de ajuda. Além disso, tivemos toda uma restruturação no SEF…

E.N. - Aqui houve muita dificuldade em dar respostas a todos durante o surgimento da pandemia e, com a situação toda em que o SEF esteve envolvida, foi ainda pior. Sem eles não havia legalização e, sem isso, não existia emprego. A técnica responsável por essa função ligava-me e pedia-me dias de descanso, porque estava exausta, com o trabalho e com o desespero das pessoas. Chegavam a chorar e sem nada, e nós não colocamos ninguém na rua. Haviam agregados familiares inteiros sem emprego.

Contudo, posso dizer que o primeiro contacto e a primeira ajuda sempre se conseguia. Quer seja através da Câmara Municipal de Loulé, Junta de Freguesia de Almancil ou de outras organizações e associações das quais a Doina é parceira. Sempre quisemos dar um pouco de esperança.

E é claro, durante a pandemia os pedidos de ajuda aumentaram exponencialmente. Criamos até o Gabinete de Apoio à Imigração surgiu em agosto do ano passado (anteriormente já tinha existido, mas estava desativado até então).

 

Por: Filipe Vilhena