Candidata do PAN à Câmara Municipal de Loulé

Ana Poeta, 42 anos, técnica de educação de adultos em projetos de desenvolvimento local, nomeadamente sobre a dieta mediterrânica e a alimentação sustentável. É formada em Animação Socioeducativa e Mestre em Educação de Adultos e Desenvolvimento Local. Natural de Ribeira de Frades – Coimbra, revela que escolheu em 2005 Loulé para educar o filho e para trabalhar na área do desenvolvimento local sustentável.

 

A Voz do Algarve - O PAN vai apresentar-se às eleições do Concelho de Loulé à Câmara Municipal, Assembleia Municipal e às Assembleias de Freguesia de Quarteira e de Almancil. O que significa para si ter sido escolhida pelo partido para ser cabeça de lista à Câmara Municipal de Loulé?  

Ana Poeta - Foi com muito orgulho que recebi o convite para ser candidata pelo PAN à Câmara Municipal de Loulé. É o reconhecimento que o meu trabalho e dedicação são considerados uma mais-valia para o Concelho, o partido e o ambiente. Seria impossível para mim não aceitar o desafio, uma vez que me permite dar voz e visibilidade às causas que partilho com o PAN, acrescentando ao debate político temas que são constantemente deixados para trás, tais como a causa animal, o ambiente, a sustentabilidade, as pessoas, a mobilidade suave, entre outros.

 

VA - Conte-nos um pouco do seu percurso profissional e político?

AP - Em 2016 comecei a trabalhar numa Associação de Desenvolvimento Local, num projeto de capacitação alimentar e desde então que faço parte da equipa do Observatório Regional de Segurança Alimentar do Algarve. Trabalho na área da educação para o estilo de vida saudável e sustentável baseado nos princípios mediterrânicos. Pelas minhas funções, as questões da produção local, sazonal e sustentável fazem parte do meu dia-a-dia pessoal, profissional e político. E foi essa minha necessidade de conhecer o outro e de ter como missão trazer ao de cima o melhor de si, acreditando no seu potencial, que me levou a fazer voluntariado no Refood e a basear a minha tese de mestrado no combate ao desperdício alimentar como instrumento para o desenvolvimento local sustentável.

A defesa dessa tese permitiu que elementos da Distrital de Faro do PAN quisessem saber mais sobre o meu trabalho, as minhas ideias e convicções e mais tarde me convidassem para fazer parte do Partido, que integro desde essa data.

Atualmente sou Comissária Distrital do PAN e candidata à Concelhia de Loulé.

 

«dar voz e visibilidade às causas que partilho com o PAN, acrescentando ao debate político temas que

são constantemente deixados para trás, tais como a causa animal, o ambiente, a sustentabilidade,

as pessoas, a mobilidade suave, entre outros».

 

VA – Nas eleições autárquicas de 2017 o PAN concorreu à Assembleia Municipal e às Freguesias de Almancil e São clemente. Quais são as suas expetativas e objetivos desta candidatura à Camara Municipal, que se faz pela primeira vez no Concelho de Loulé?

AP - Os objetivos desta candidatura PAN assentam em assegurar a transparência e a participação nos processos que dizem respeito a todos. Assegurar os direitos básicos de alimentação, saúde e liberdade, de todas e todos, incluindo os animais. A forma como desconsideramos a fragilidade do outro e dos animais é em parte o espelho dos problemas da sociedade de hoje. O objetivo geral é a construção de um futuro melhor para Loulé e os louletanos. A minha visão parte de princípios sustentáveis, com enfoque nas pessoas, na natureza e nos animais. Um futuro resultante das ações e das não ações do nosso dia-a-dia.

 

VA - Apesar de ser um assunto presente na ordem do dia há algum tempo, mais do que nunca, falamos (e sentimos) as consequências das alterações climáticas. Na candidatura do PAN, um dos objetivos que foi desde logo revelado, foi «consciencializar» a população para os «desafios do presente» e a necessidade de «mudar comportamentos». Que outras questões estão presentes no projeto autárquico? Fale-nos um pouco sobre ele…

AP - A emergência climática preocupa-nos tremendamente e deveria ser uma prioridade para todos, uma vez que há muito a fazer rumo à mitigação e à adaptação às alterações climáticas. Todas as medidas que constam do nosso programa são urgentes. São para hoje! O amanhã pode já ser tarde, como ficou bem claro nas afirmações do Secretário Geral da ONU, António Guterres, ao afirmar que o 6.º Relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas é um alerta vermelho para a humanidade. De resto, este relatório não apenas valida as perspetivas dos anteriores, como confirma os piores cenários possíveis.

Esta candidatura do PAN pretende promover a consciencialização dos munícipes para os desafios do presente e a necessidade de uma alteração urgente de comportamentos, com vista ao bem-estar de todos os seres vivos, à proteção da natureza, sustentabilidade e literacia para a democracia.

Defendemos que ao agirmos localmente conseguiremos mudanças a nível global, através de ações concretas entendidas por todas e todos, e para isso a participação de cada um é fundamental.

Se por um lado nós não somos os únicos seres vivos que habitam o planeta, por outro lado somos os únicos a tratar muito mal a nossa casa e a de todos os outros que connosco a dividem. Tem de haver uma maior consciencialização e penas pesadas para quem maltrate o outro, para quem maltrate um animal, para quem polua. A legislação só por si não chega. Tem de haver fiscalização e têm de se agilizar meios para isso. Não é admissível que hoje em dia ainda continuem a haver situações gritantes neste sentido e a justiça peque por tarde ou nunca apurar os factos e penalizar os responsáveis por tais atos.

 

VA - O Concelho de Loulé caracteriza-se pelo contraste que existe entre o interior e o litoral, onde o primeiro tem uma população mais envelhecida, e o litoral com uma população mais jovem e que ainda tem recebido muitos imigrantes. Enquanto candidata, considera que um maior «equilíbrio» entre as duas zonas, poderia envolver mais a população nas questões ambientais, com alguma troca de conhecimentos e contribuir até para tornar Loulé numa cidade mais verde e de «coexistência», com espaço para grandes construções, mas também para zonas verdes?  

AP - O PAN está consciente de que se nada fizermos para alterarmos comportamentos, o planeta tal como o conhecemos deixa de ser viável. Estamos a caminhar desde há décadas para o precipício. Não podemos agir globalmente, mas podemos fazer a nossa parte e agir localmente, e se todos fizermos isso estaremos a contribuir para não chegarmos ao ponto de não retorno.

As fragilidades e potencialidades do interior e do litoral são diferentes, pelo que não podemos desenhar respostas iguais. Mas podemos dar respostas equitativas, baseadas na identidade de cada comunidade. Podemos e devemos aproximar o interior e o litoral, seja pela mobilidade, com a criação de mais e melhores redes de transportes públicos com paragens pelos vários pontos do município, com horários compatíveis com as rotinas diárias da população, seja com a deslocalização de serviços do litoral para o interior, trazendo do interior para o litoral a natureza e o verde característicos.

A criação de corredores verdes com espécies vegetais autóctones recriando a nossa paisagem mediterrânica, a sensibilização para a reciclagem, para a limpeza das ruas, para o consumo local e sazonal podem ser pequenos passos, mas com grandes resultados para todos: Pessoas, Animais e Natureza.

O interior será sempre interior e o litoral será sempre litoral, mas urge esbater algumas assimetrias de modo a que quando uma família tem de escolher entre habitar ou trabalhar num local em detrimento de outro não seja penalizada por questões como mobilidade, saúde, habitação e educação. O município é um e todos os munícipes têm direito às mesmas condições base, estejam no interior ou no litoral.

 

VA - Num momento em que atravessamos ainda uma pandemia e que tanto se tem falado no aquecimento global, no aumento dos desastres naturais e na necessidade de ajustar comportamentos, o PAN, com os seus objetivos de candidatura, é um partido que poderia tornar Loulé numa cidade exemplo para outras da região algarvia e, quem sabe, de Portugal?

AP - Para contribuirmos para um planeta mais sustentável, devemos implementar um estilo de vida mais saudável a todos os níveis e isso passa também pela criação de mais zonas verdes dentro da cidade e de mais hortas comunitárias que possam servir para auto-sustento das famílias que aí cultivem pequenas hortícolas.

Loulé tem o potencial necessário para ser um município inspirador e auto-sustentável na gestão das cantinas escolares e institucionais, por exemplo. Em relação à alimentação coletiva, o PAN defende apoios para restaurantes que utilizem produtos da região comprados a pequenos agricultores e isentos de químicos nefastos para a saúde e para o ambiente.

Loulé pode ser exemplo nacional na criação de jardins alimentares pelas cidades, na criação de redes de turismo de natureza aliado ao turismo de saúde. Loulé tem potencial para ser o primeiro município sem desperdício alimentar, através de um movimento coletivo e associativo entre indivíduos, empresas e IPSS, para ser um município de Km 0.

É educando e criando incentivos que se mudam mentalidades. Também nesse sentido, há que reduzir ao mínimo a utilização do plástico, recorrendo a materiais mais amigos do ambiente. Para isso há que criar incentivos para que tal aconteça junto da hotelaria e restauração, criando por exemplo distinções para aqueles que não utilizem garrafas plásticas nos seus estabelecimentos. Como se vê há “pequenas-grandes” mudanças que podem ser aproveitadas a nosso favor e com isso tornarmo-nos uma terra modelo, cá dentro e lá fora, e trazer com isto mais turistas e investimentos para o nosso Concelho.

 

VA - Assistimos agora, no incêndio que deflagrou em Castro Marim e chegou a VRSA, à morte de 14 animais devido a um abrigo ilegal em VRSA. Enquanto candidata em Loulé, como vê esta situação dos canis ilegais? Tem alguma medida pensada para evitar o surgimento destes abrigos no Concelho onde se candidata?

AP - Em relação aos acontecimentos recentes de Castro Marim e Vila Real de Santo António, onde infelizmente perderam a vida 14 cães, o PAN há muito que pugna por uma maior fiscalização de todas estruturas ilegais, mas também legais. Não tem havido investimento em meios humanos que façam esse trabalho. É preciso que cada autarquia tome essa responsabilidade em mãos, fazendo um inventário dos particulares e das associações dentro de cada Concelho para se saber ao certo quantas estruturas deste tipo existem e quantos animais tem cada uma delas. O PAN sabe que muitas associações, sejam legais ou ilegais, substituem-se às Câmaras Municipais que simplesmente não conseguem responder a todos os pedidos de ajuda. Também sabemos que existem animais tão bem ou melhor tratados em estruturas particulares que nas públicas.

Na sua maioria, as autarquias locais demitiram-se da criação de equipamento de bem-estar animal em espaços amplos e condignos para receberem os seus animais comunitários. Esse papel há muito que é feito por estruturas licenciadas, ou paralelas. Infelizmente não temos números concretos sobre isso. Obviamente o PAN, apesar de não ser um órgão policial, não pode fechar os olhos a esta realidade e sempre que tenha conhecimento da existência de animais vítimas de maus-tratos dará conhecimento das mesmas às entidades competentes, pelo menos para estarem sinalizados e para não ficarem esquecidos, evitando-se que volte a acontecer o mesmo. Há ainda muito a aprender e a fazer no que concerne ao salvamento animal: falta formação e meios suficientes (viaturas e equipamentos) e cabe à Câmara ter essas estruturas, em particular o gabinete médico-veterinário. Não o tendo, é imprescindível a realização de protocolos, parcerias e sinergias com quem tenha para que tudo funcione em caso de emergência. Para o PAN é fundamental que o Socorro Animal esteja incluído nos planos municipais de emergência da Proteção Civil.

 

VA - O PAN elegeu como cabeças de lista às Assembleias de Freguesia de Quarteira e Almancil, Amália Carrilho e Isabel Figueiras, respetivamente. É uma candidatura encabeçada por mulheres. Traz alguma mensagem de igualdade e de quebra de algum estereótipo, que coloca os homens na maioria das vezes em cargos principais?

AP - A falta de participação das mulheres em cargos de liderança política ainda é uma realidade bem visível, pelo que obviamente estou muito orgulhosa, como mulher, de ter 2 candidatas a disputar lugares de destaque nas Freguesias de Quarteira e Almancil e que o PAN esteja a ser um agente desta mudança. No entanto é importante referir que o PAN deposita inteira confiança no bom trabalho que qualquer um - independentemente do género, etnia, orientação sexual ou religião - possa vir a desenvolver em prol das pessoas, animais e natureza, porque isso, em primeira e última instância, é o que nos move a todos.

 

VA - O que será para si e para o PAN uma vitória ou uma derrota nestas eleições autárquicas?  

AP - Estou a candidatar-me a Presidente da Câmara Municipal de Loulé, e estamos a dar o nosso melhor para conseguirmos passar a nossa mensagem, a partir daí caberá aos louletanos tomarem as suas decisões, que aceitaremos com naturalidade, continuando a desenvolver o nosso trabalho em prol do município, seja eleita presidente ou não. Esta é uma candidatura pelo bem comum maior.

Ainda assim, por todo o trabalho, empenho e dedicação da equipa que me acompanha, e pelo fato de conseguirmos trazer para a esfera política temáticas que para nós são fundamentais, isso já é uma vitória. Todas as outras candidaturas falam sobre o que podemos denominar “Efeito PAN”. Neste momento as alterações climáticas, a natureza, o bem-estar animal estão a ser temas que estão a ser debatidos - e copiados - dos valores PAN, e só por isso já ganhamos todos.

Por: Nathalie Dias