Grupo de tertúlias propõe união entre o sexo feminino

Dia 8 de março celebrou-se o Dia Internacional da Mulher. Uma data simbólica que lembra a luta pelo reconhecimento e valorização da mulher e a igualdade de géneros. Com várias batalhas vencidas, a guerra não está terminada. Telma Leonardo é formada em sociologia e promove o grupo Mulheres Moov, um espaço com 18 elementos dos 25 aos 60 anos, que junta mulheres para tertúlias temáticas e que pretende mostrar que a mulher merece o seu tempo de lazer e confraternização.

VA - Fale-me de como surgiu esta sua paixão pelo serviço social.

TL- Sou licenciada em Sociologia, pela Universidade do Algarve. Antes trabalhei em programas de verão em São Brás de Alportel, de onde sou natural. Durante os quatro anos de curso fiz sempre voluntariado social – na APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) e na Loja Social de São Brás. Quando terminei o curso, fiz um estágio profissional na Apatris 21 (Associação de Portadores de Trissomia 21) e recebi o convite para trabalhar lá como socióloga. Fui ainda coordenadora de dois projetos, um deles financiado pela Fundação EDP e outro pela Missão Sorriso. Num desses projetos, criei um grupo de tertúlias para pais com filhos que tinham Trissomia 21. Trabalhei também na Suíça quase 3 anos, como socióloga, com idosos e crianças.

VA - A Telma é coordenadora do projeto Moov Life, que deu origem ao Mulheres Moov. Em que consiste este projeto?

TL- Em 2020, dois meses antes da pandemia, sai da minha zona de conforto e decidi lançar a minha atividade, o projeto Moov Life. Este projeto deu os primeiros passos em parcerias com Juntas de Freguesia e depois ficou parado [devido à covid-19]. Eu trabalhava com população sénior no âmbito de atividades de lazer e ocupacionais.

VA- E o Mulheres Moov. Qual é o propósito deste?

TL- Um mês depois surge as Mulheres Moov, que fez um ano dia 26 de fevereiro. A primeira tertúlia iria ser a 13 de março de 2020, mas a covid-19 não permitiu. Esta ideia surge […] porque eu ouvia muitas mulheres mães (e eu também sou mãe) a dizerem que não tinham um momento dedicado a si mesmas. Viviam para o trabalho e a família e não faziam nada dedicado à sua existência. A realidade é que também é uma necessidade minha, sou mãe de duas crianças, mas é importante termos pelo menos 1 vez ou duas por mês para nós mesmas. Dá-nos saúde e qualidade de vida. Li alguns artigos e um deles dizia que: ‘as mulheres têm menos tempo livre que os homens, nomeadamente quando são mães ou casadas […]. As mães tendem a preferir atividades mais solitárias, enquanto mulheres sem filhos escolhem atividades mais sociais, como encontrar-se com amigos. […] Dentro do universo feminino, a maternidade está associada a uma redução do tempo livre e do seu uso social, o que intensifica as desigualdades de género’. Quando li este artigo, conclui que com estas desigualdades fazia todo o sentido criar este grupo de partilha feminina, que está ligado também ao empoderamento feminino. As mulheres devem reivindicar os seus direitos e terem tempo para elas e às vezes as pessoas ignoram.

VA- Que tipo de atividades e temas são promovidos no Mulheres Moov?

TL- Já fizemos passeios e caminhadas. Assim que for possível, pretendemos fazer passeios de avião e comboio e outras atividades que sejam possíveis fazer ao ar livre. Falámos em ir jantar também, portanto, estas são todas atividades que fomentam o convívio social. Em termos de temas, já falámos de amor, emoções, cura, o despertar da Deusa interior, entre outros. Antes era eu que dinamizava as tertúlias e agora temos outra interação […] todos os membros podem participar. Em março vamos ter uma live no Facebook da Moov Life, onde foi convidada uma jovem são-brasense, que é sexóloga e psicoterapeuta e que vai falar do tema ‘Mulher V.S. Sexualidade’.

VA- Nesta altura de pandemia, como está atualmente o projeto? Tem existido interação?

TL- Sim. As tertúlias são sempre online, por via Zoom. O ano passado fizemos online e presenciais. Algumas foram no campo, outras na praia. Continuamos ativas e não faria sentido parar. Temos pessoas de Loulé, São Brás de Alportel, Albufeira, Olhão, Faro e até Lagoa. Eu estou sempre a dizer para convidarem amigas e colegas e foi assim que o grupo cresceu [as interessadas podem enviar e-mail para moovlifes@gmail.com].

VA- O que falta ainda melhorar para termos um mundo mais homogéneo entre homens e mulheres?

TL - Na minha opinião, vai sempre faltar qualquer coisa porque não somos seres perfeitos. Mas o que falta acima de tudo, é o respeito. Digo isto porque todos se devem respeitar, […] mas também há aqui outra questão, que é: as pessoas muitas vezes não se respeitam a elas próprias. O que é uma mulher não se respeitar a si própria? Na minha opinião, enquanto coordenadora do grupo, é quando nós não damos importância ao nosso bem-estar físico e emocional. A pessoa não se está a ouvir e, por vezes, isto pode ser a base para muitos problemas.

VA- Fala-se muito na competitividade feminina. Qual é a sua opinião sobre este tema enquanto mentora do Mulheres Moov?

TL - As mulheres são mais críticas umas com as outras. Mais depressa ouvimos uma crítica de uma mulher para outra, do que de um homem para uma mulher. Sempre existiu essa falta de união e respeito no sexo feminino e quando isso acontece é quando a mulher não está resolvida consigo mesma.

VA- Que mundo quer deixar para as suas filhas?

TL- Um mundo em que somos todos iguais. As diferenças estão na nossa cabeça.

Por: Filipe Vilhena