O mote da reunião foi «A inovação começa a partir de dentro: Museus resilientes em tempos de disrupção». Cerca de 200 pessoas, vindas de vários pontos da Europa e do mundo, ligadas a organizações do setor, entre as quais 50 representantes de instituições portuguesas, participaram num encontro internacional e tiveram a oportunidade de debater e refletir sobre os temas do presente e futuro dos museus, explorando também o território de Loulé e a oferta museológica do concelho.
Num intercâmbio de ideias, oradores dos Estados Unidos, Holanda, Bélgica, Itália, Alemanha, Áustria, Noruega, Espanha, Suíça, Finlândia, Dinamarca, Portugal e Ucrânia partilharam aquela que é a sua experiência. O nosso jornal esteve presente no evento, na manhã do passado dia 10 de outubro, na reunião que contou com a Secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, o responsável da NEMO, David Vuillaume e o vereador David Pimentel, em representação do Presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo.
Isabel Cordeiro realçou, em declarações ao nosso jornal, «a importante oportunidade de discutir os desafios que os museus hoje enfrentam», dando «margem para que encontrem nos seus pares algumas referências e troquem opiniões». Para a responsável governamental, «este é um grande encontro de museus e organizações de museus, independentemente da sua estrutura e modelo de gestão».
A secretária de Estado da Cultura frisou, contudo, que é importante manter a essência daquilo que são enquanto instituição museológica».
«É uma ocasião muito feliz esta conferência ser realizada no Algarve, para que todos os representantes dos museus internacionais conheçam a realidade da região». Isabel Cordeiro falou ainda da importância de «cuidar do património cultural», que pode ser uma «âncora para promover um turismo de qualidade, hábitos culturais e, sobretudo, uma responsabilidade e consciência da comunidade sobre a importância de valorizar e preservar o património das suas terras».
«O Algarve tem sido um exemplo e está absolutamente de parabéns pelo trabalho que tem feito e, sobretudo, pela visão que tem tido», vincou a responsável, destacando a cidade de Loulé.
Por seu turno, David Vuillaume, responsável da NEMO, abordou a importância das redes na partilha de conhecimentos em Loulé. «Somos a comunidade dos profissionais dos museus que estão a pensar a uma escala europeia e isso é de sublinhar. Vamos discutir, em conjunto, e explorar como é que os museus se podem tornar mais inovadores e mais flexíveis num mundo em rápida transformação. A pandemia não só mudou a maneira como vivemos, mas lançou desafios ao setor dos museus de forma a adaptar-se ao que aí vem. Temos que pensar fora da caixa e temos que admitir os erros e falhanços como uma oportunidade».
David Pimentel começou por realçar no seu discurso que «é um privilégio receber um evento desta dimensão em Loulé» e agradeceu a oportunidade de «mostrar o que de melhor tem a cidade para oferecer, um concelho cheio de tradições, história e cultura».
O vereador recordou que o objetivo da iniciativa do NEMO é «partilhar experiências e conhecimentos».
Numa alusão ao distanciamento provocado pela pandemia, sublinhou a importância das relações interpessoais neste tipo de fóruns, referindo que «podemos digitalizar muita coisa na vida, mas não a experiência de falar olhos nos olhos, e coração para coração. Em tempos de disrupção as melhores soluções vêm de nos conectarmos e trocarmos experiências».
David Pimental deixou ainda uma informação aos presentes, no que respeita o trabalho de valorização patrimonial do Município de Loulé: a criação do Quarteirão Cultural que «vai juntar a história do território à história do homem».
Foto CM Loulé
Iniciativa decorreu com balanço positivo
A iniciativa terminou no dia 11 de outubro e o balanço foi muito positivo. A inovação tecnológica, a crise energética e os problemas associados às alterações climáticas ou as mudanças sociais que se perspetivam numa Europa em Guerra estiveram no centro da discussão e são, no fundo, os principais desafios que os museus enfrentam. Foi precisamente desta osmose que o consultor norte-americano Michael Peter Edson falou na sua apresentação, uma nova realidade que marca o quotidiano dos museus, mas em que o caminho destas instituições requer um equilíbrio entre as inovações tecnológicas, a cultura e a mudança social global.
Algumas das mais emblemáticas organizações da Europa marcaram presença neste evento para partilhar as boas práticas que promovem, tornando-as exemplos a seguir, como é o caso da National Gallery of Denmark, através da voz de Merete Sanderhoff, ou o icónico Oodi Helsinki Central Library, da Finlândia, que teve numa apresentação por parte de Kari Lämsä, dedicada à divulgação do trabalho realizado naquela que é a Biblioteca Pública Central de Helsínquia.
Falou-se também de crise, desde logo com impacto da pandemia e do lockdown que obrigou ao encerramento dos museus e à necessidade de apostar no digital e alternativas criativas, como foi o caso do Museu de Lisboa, ou a inevitável e atual temática da Guerra da Ucrânia e de que forma as autoridades deste país estão a lidar com a preservação do seu património cultural num território que está a ser dizimado.
Este encontro fez-se também de atividades mais práticas como workshops temáticos e a criação de pequenos grupos que, numa proximidade maior entre os parceiros, permitiram aprofundar as diferentes abordagens e as boas práticas, onde a equipa de Loulé teve a oportunidade de partilhar a sua experiência com os colegas Europeus. Por outro lado, as visitas a alguns espaços museológicos do concelho, com destaque para os Banhos Islâmicos e Casa Senhorial dos Barreto, elemento que é paradigmático do trabalho realizado neste concelho em matéria patrimonial, também fizeram parte do programa e entusiasmaram os participantes.
Por: Filipe Vilhena/CM de Loulé