Aos quase 90 anos de idade, o escritor Helder Macedo foi uma vez mais distinguido pelo seu trabalho e junta-se à lista de «notáveis» das Letras portuguesas que receberam o Grande Prémio de Crónica e Dispersos Literários, instituído pela APE – Associação Portuguesa de Escritores e Câmara Municipal de Loulé.

A cerimónia de entrega do galardão aconteceu esta quinta-feira, no âmbito das comemorações do Dia do Município de Loulé.

“Pretextos”, a obra distinguida, reúne 120 crónicas publicadas pelo “Jornal de Letras”, entre os anos de 2006 e 2023, editadas em livro pela editora Caminho, e é “simultaneamente crónica e disperso literário”, como notou José Manuel Mendes, presidente da APE.

Na apresentação do livro, Carlos Albino, presidente do júri composto também pela professora Cristina Robalo Cordeiro e pelo jornalista e escritor Francisco Duarte Mangas, disse que o mesmo reflete “um olhar muito particular” do autor perante a sua vivência entre dois mundos distintos, Portugal e Inglaterra, onde reside há décadas. 

“Conseguiu criar uma tapeçaria de reflexões admiráveis, cheias de profundidade, filosofia, graça e muito humor. São crónicas contemporâneas, prova da vivacidade criativa de um professor, grande intelectual, que escreve para toda a gente como sucede com os escritores que são verdadeiramente sólidos e humanos. Escreve a partir do mundo da cultura, mas a sua atenção à realidade da vida confere-lhe uma abrangência muito rara”, considerou Carlos Albino, o homem que esteve à frente da criação deste Prémio.

Novelista, romancista, narrador, poeta, “e acima de tudo um ensaísta raro, aquele que leu Camões como nunca ninguém tinha lido”, como notou o presidente da APE, Helder Macedo teve um percurso dividido entre a escrita e a docência. Foi professor no Kings’s College, titular da cátedra “Camões”, tendo “um longo e apurado diálogo” com a obra camoniana, com dezenas de entrevistas e inúmeras “intervenções memoráveis” sobre o tema, destacando-se o seu livro “Camões e outros contemporâneos”, lembrou Carlos Albino.

“Figura agregadora, de têmpera excecional”, com uma importância singular no contexto cívico-cultural português, o autor laureado na 10ª edição do Grande Prémio é, na visão do presidente da APE, “um clássico em viagem, um autor do futuro, aquele que traz o tempo em que nasceu transportado para os tempos que virão, enquanto acolhe a memória dos leitores de diferentes gerações”.

Nas suas palavras de agradecimento pela atribuição do galardão, Helder Semedo disse sentir-se “profundamente grato e lisonjeado”. Num prémio que distingue a crónica, o autor falou ainda da vantagem deste género literário: “São obras em que temos que responder a uma solicitação mais ou menos imediata, parte-se de uma ideia ou de um estilo mais ou menos imediato, e depois algumas das nossas obsessões pessoais vão entrando nessas várias recorrências”.

O autarca de Loulé, Vítor Aleixo, agradeceu ao laureado e também aos parceiros neste percurso do Grande Prémio de Crónica e Dispersos Literários APE/CML, realizado há 10 edições, e que colocou Loulé no mapa das Letras portuguesas. “Todos anos, no final de maio, jornais e meios de comunicação mais dignos e atentos ao mundo cultural destacam Loulé como uma cidade que reconhece a crónica como uma das expressões relevantes do mundo da comunicação e do mundo literário”, disse Carlos Albino.

Recorde-se a lista de vencedores: Tolentino Mendonça, Rui Cardoso Martins, Mário Cláudio, Pedro Mexia, Mário de Carvalho, Lídia Jorge, José Eduardo Agualusa, Miguel Esteves Cardoso e Dulce Maria Cardoso.