André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Já várias vezes chamei a atenção neste jornal para o facto de constantemente desviarmos o debate do que é prioritário para o que é acessório, e que a política portuguesa está excessivamente capturada pelos ditames da bolha mediática e da comunicação instantânea. Perde-se a noção do interesse público e enviesa-se a discussão por parte dos decisores políticos e das políticas públicas para temas laterais. É frequente termos estados de alma em que oscilamos entre excessos de otimismo, pouco justificados, como se estivéssemos no melhor dos mundos, ou, pelo contrário, um excesso de pessimismo, também pouco justificados, o que nos afasta frequentemente da realidade.  Desde logo, é notório um défice de ambição, de querer crescer, e de fazer mais e melhor, indispensável para mudarmos o rumo. Não há qualquer anátema que nos obrigue a conformar-nos com uma remuneração bruta total mensal média por trabalhador de apenas de 1.505 euros em 2023, uma situação pouco confortável quando nos comparamos com a maioria dos países da União Europeia.

Tendo um novo governo tomado recentemente posse, importa, por isso, reganhar o foco do debate e das prioridades políticas: o crescimento, a competitividade e o desenvolvimento económico e social. Não existem bons exemplos à escala internacional, de economias que tenham crescido de forma sustentada, sem que isso tenha passado por um crescimento continuado da produtividade e da competitividade, de forma a ser consentâneo com uma melhor distribuição da riqueza criada e, consequentemente, mais e melhor desenvolvimento económico e social. As políticas económicas de fomento da produtividade e da competitividade, devem funcionar em paralelo com as políticas económicas que fomentam a redistribuição, seja por via fiscal ou outra, e não em separado. Temo que por via da discussão que tem polarizado o recente debate político nos media, a propósito do montante do abaixamento do IRS, se esteja, mais uma vez, a afunilar o debate, desligando a distribuição do crescimento, separando-o  do imperativo do incremento da  produtividade e do desenvolvimento económico e social. Portugal, por via de uma melhor conjugação das políticas públicas e  das estratégias empresariais tem que ser capaz de enriquecer e diversificar a sua base exportadora, com maior valor acrescentado, em estreita articulação com investimentos inteligentes na educação e na qualificação em geral, na investigação, na ciência, na tecnologia e na inovação. Esta é uma condição para se ter mais e melhoria economia, mais e melhor desenvolvimento económico e social.