«Deus está sempre pronto para nos salvar. Nós é que nem sempre estamos prontos para acolher essa salvação que nos vem de Deus», advertiu D. Manuel Quintas à noite na missa de Quarta-feira de Cinzas a que presidiu na Sé de Faro.
O bispo diocesano lembrou que este é um «tempo de conversão para descoberta do amor misericordioso de Deus» e para percorrer um «caminho espiritual» que conduz à «Páscoa da ressurreição».
«O caminho de conversão quaresmal é um caminho que convida à intimidade, à interioridade, à verdade de vida», sustentou.
D. Manuel Quintas realçou que «a palavra de Deus, proclamada ao longo de toda a Quaresma, dá necessariamente maior relevo aos apelos, à conversão», de modo a que se assuma «com renovado vigor atitudes consentâneas com a fé» que se professa e também com a «condição de discípulos de Cristo».
«A palavra de Deus devia ser alimento diário, não apenas dominical, ao longo da Quaresma. Devia ser a luz que nos guia neste caminho, que nos ajuda a ver, olhando para nós mesmos, quais são os aspetos em que temos de insistir para adequar a nossa vida às atitudes do evangelho e a uma identificação mais plena com a pessoa de Jesus», prosseguiu.
O bispo do Algarve lembrou o «tripé» que deve acompanhar cada dia da Quaresma, constituído, através de «atitudes discretas», pela «esmola que traduz o caminho de conversão na partilha fraterna e solidária», pela «oração mais sincera», como «expressão» da própria vida e do caminho que se está a percorrer, e pelo «jejum».
No entanto, D. Manuel Quintas alertou para o perigo de uma consciência que se descarrega cumprindo normas, lembrando que a elas deve ser associado também o assumir de «compromissos pessoais, familiares e comunitários que sejam expressão desta conversão, desta renovação interior».
«O que nos deve empenhar é verificar na vida do dia-a-dia quais são as nossas atitudes», alertou, exortando, por exemplo, a «jejuar não apenas de alimentos», mas também «de palavras mais agressivas ou impróprias» proferidas.
«Por vezes, esse jejum é mais difícil do que jejuar dos alimentos», considerou.
O responsável católico referiu-se ainda ao montante angariado com a renúncia quaresmal deste ano e ao destino da deste ano.
A celebração de ontem à noite contou com a bênção e o rito penitencial de imposição das cinzas aos presentes.
Tanto na Bíblia como na prática da Igreja, impor as cinzas sobre a cabeça é sinal de humildade e penitência. A sua imposição lembra aos fiéis a origem do homem – «recorda-te que és pó e ao pó hás-de voltar» – e pretende simbolizar a renovação do compromisso de seguir Jesus, fazendo morrer o «homem velho», ligado ao pecado, para fazer nascer o «homem novo», transformado pela graça de Deus.
Por isso, ao colocar uma pequena porção de cinzas sobre a cabeça, o ministro ordenado pronuncia a frase «arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
A Quaresma é um período de 40 dias (excetuando os domingos) que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário dos cristãos.
Por: Folha de Domingo