O Banco Alimentar regressou hoje às campanhas presenciais de recolha de alimentos, «com um sinal de esperança e resiliência» na luta contra a fome e os portugueses responderam à chamada «com muita vontade de colaborar».

Pelas 12:30, a azáfama nos armazéns do Banco Alimentar, em Alcântara, Lisboa, já era visível, com dezenas de voluntários a receberem as doações, que são, posteriormente, separadas por categorias e armazenadas.

Açúcar, leite, arroz, farinha, massas, conservas e azeites, são algumas das categorias visíveis nas placas colocadas no armazém, que ajudam os voluntários a organizar os produtos.

Separam-se papéis e plásticos, empilham-se caixas de cartão e descarregam-se boxes cheias de alimentos, sempre com a coordenação de Isabel Jonet, a presidente da instituição.

“Temos que acelerar. Olha a quantidade de carrinhas para descarregar. Eu já vou”, diz Isabel Jonet aos voluntários, enquanto se prepara para prestar declarações.

“O ambiente é bastante efervescente. As pessoas têm muita vontade de colaborar nas lojas e nos armazéns e vemos, uma vez mais, pelos sacos que nos têm chegado, que os portugueses querem partilhar com quem tem necessidades o que vão comprar para a sua mesa”, afirmou a responsável do Banco Alimentar, à agência Lusa.

Desde 2019 que o Banco Alimentar não fazia campanhas presenciais devido à pandemia de covid-19, no entanto, mantiveram-se em vigor os donativos por vales ou através da plataforma “Alimente esta ideia”.

Para Jonet, os voluntários “são a alma e corpo” do projeto que já conta com cerca de 30 anos.

“São pessoas diferentes, de todas as idades, crenças ou convicções, que estão unidas pela mesma causa”, notou.

Causa essa a quem têm recorrido cada vez mais pessoas, devido à pandemia, nomeadamente, as que, até então, tinham a sua vida organizada.

“Além da pobreza estrutural que é muito severa, temos pessoas que estão numa situação de pobreza conjuntural. Temos que voltar a por a máquina da economia a funcionar, criando mais emprego e riqueza para que estas pessoas possam dar a volta a vida”, vincou.

O Pingo Doce de Telheiras, em Lisboa, é um dos supermercados onde decorre a campanha de recolha de alimentos e, esta manhã, foram várias as pessoas que decidiram contribuir.

“O trabalho desenvolvido pelo banco é espetacular. As iniciativas são boas na medida que há pessoas que precisam muito e é lamentável que o nosso Governo não resolva”, apontou Alda Coelho, uma das clientes da superfície comercial, que optou por doar enlatados e massas.

“Tenho medo de comprar outras coisas que se possam estragar”, acrescentou, ressalvando ainda não conhecer as novas iniciativas do Banco Alimentar.

O Banco Alimentar também tem em funcionamento outras ações como a “Papel por Alimentos”.

Esta ação, promovida pela Federação Portuguesa de Bancos Alimentares, converte todo o papel recolhido em alimentos a distribuir pelos mais carenciados.

Segundo Isabel Jonet, que faz um balanço positivo desta campanha, podem ser entregues papeis, jornais, revistas, cartão e livros em todos os bancos alimentares, com exceção nos Açores, ou através das instituições parceiras.

“Só por si já é difícil. Uma pessoa tem que se deslocar para ir entregar, mas vamos acreditar que isso vai mudar e que eventualmente possa haver uma recolha ou um espaço como há para vidro e plástico”, lamentou Alda Coelho.

Por sua vez, Manuel Mota, outro cliente, considerou, em declarações à Lusa, que estas campanhas são “louváveis e interessantes”, abrangendo toda a população.

Já Carolina Ferreira disse participar nestas campanhas desde pequena, classificando o trabalho do Banco Alimentar como muito importante.

“Talvez nas épocas do Natal e da Páscoa é que as pessoas se lembram mais de que há outros a precisar e que não têm acesso fácil às coisas que nós tomamos como garantidas, mas estas pessoas precisam de comer o ano todo, como nós”, referiu.

No que se refere aos bens que decidiu doar, Carolina Ferreira optou produtos ricos em proteína, como feijão e grão, mas também por hidratos de carbono, “que dão muita energia" e dos quais todos gostam, como massas ou arroz.

Carolina Ferreira adiantou ainda que não recorreu aos vales, embora defenda que são uma boa opção para quem não pode andar mais carregado.

Já no que se refere às restantes ações, enquanto engenheira do ambiente, defende ser uma boa alternativa juntar uma iniciativa social “tão boa” com uma ambiental, recolhendo e aproveitando resíduos.

Os 21 bancos alimentares funcionam diariamente e, em conjunto, alimentam cerca de 4% da população nacional.

São mais de 2.000 instituições, juntas de freguesia e câmaras, que têm parcerias com o Banco Alimentar, identificando as necessidades da população e, na sequência, fazendo chegar alimentos às famílias.

A campanha de recolha de alimentos decorre este fim de semana, mas as contribuições podem ser enviadas pela plataforma até 05 de dezembro.

As campanhas de recolha de alimentos realizam-se duas vezes por ano.