Este projeto foi dirigido pelos investigadores Pere Ferré, Mirian Tavares e Sandra Boto do Centro de Investigação em Artes e Comunicação da Universidade do Algarve.
O Romanceiro é um género poético tradicional que circula desde os finais da Idade Média na memória dos povos de expressão portuguesa, galega, castelhana e catalã, difundindo-se desde então oralmente de geração em geração. Trata-se, portanto, de um património imaterial de uma vitalidade excecional e de uma riqueza ímpar que importa preservar.
Desde que o Romantismo encetou o interesse sistemático por este género poético em 1824, foram coligidas milhares e milhares de versões de romances em Portugal, em Espanha e nos países da diáspora portuguesa e espanhola, sem falar na memória romancística que os judeus expulsos da Península Ibérica nos finais do século XV transportaram com eles pelo mundo e que ainda hoje é preservada.
Para o caso específico português, poderiam referir-se os contributos das recolhas e publicações de versões de romances realizadas a cargo de nomes como Almeida Garrett, Teófilo Braga, Leite de Vasconcellos, Consiglieri Pedroso, Alves Redol, Michel Giacometti, Maria Aliete Galhoz, Manuel Viegas Guerreiro, entre tantos outros. Este arquivo alimenta-se, justamente, dos trabalhos de recolha e publicação do romanceiro tradicional português que estes e muitos outros interessados na literatura de tradição oral levaram e continuam a levar a cabo no presente.
Este acervo, que compreende 660 horas de gravação (em 609 cassetes audio hoje em dia depositadas na Fundação Manuel Viegas Guerreiro), atesoura 3.632 versões inéditas de romances e acolhe 10.096 versões de romances publicadas entre 1828 e 2010.
Entende-se também a urgência de que se revestiu a sua preservação, através do recurso à digitalização, reconhecendo que a sua manutenção nos formatos em que se encontravam (cassetes áudio, para o arquivo sonoro, e em fotocópias em papel, para o arquivo dos textos já publicados) constituía uma séria ameaça à sua preservação.
A oportunidade para a conversão digital do Arquivo do Romanceiro Português da Tradição Oral Moderna chegou em 2013, através do projeto designado “O Arquivo do Romanceiro Português da Tradição Oral Moderna (1828-2010): sua preservação e difusão”, que foi financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian no âmbito do programa de Recuperação, Tratamento e Organização de Acervos Documentais (2013), acolhido pela Fundação Manuel Viegas Guerreiro em parceria com o Centro de Investigação em Artes e Comunicação da UAlg, desenvolvendo-se a plataforma digital romanceiro.pt. Com este novo recurso, são disponibilizados agora online e em acesso livre os textos do Romanceiro português e, quando conservados, os respetivos registos sonoros.
Por UAlg