Perfil das famílias portuguesas mudou nesta década. E o mercado residencial também, mostram os dados do Census 2021.

Muito mudou em dez anos, sobretudo, o modo de viver em Portugal. Agora, há mais 18% de pessoas que vivem sozinhas nas suas casas, representando mais de 1 milhão de pessoas em 2021, mostram os dados dos Census 2021 publicados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O aumento de famílias constituídas por só uma pessoa incentiva o mercado residencial a adaptar a sua oferta, colocando mais casas no mercado (venda e arrendamento) com apenas um quarto ou estúdios, por exemplo. Mas quais são as principais tendências na habitação identificadas em 2021? O idealista/news explorou os dados definitivos dos Census 2021 e explica tudo.

Agora, há mais portugueses a viver sós do que há dez anos. O número de pessoas a viverem sozinhas aumentou 18% entre 2011 e 2021. E, em resultado, "os agregados domésticos privados constituídos por uma pessoa reforçaram o seu peso, passando a representar 24,8% do total”, destaca o INE no boletim publicado esta quarta-feira. Em termos absolutos, em 2021 contabilizaram-se 1.027.871 pessoas a viver sozinhas, mais 161 mil do que há uma década.

Em contrapartida, os agregados familiares de maior dimensão têm vindo a perder expressão:

  • os agregados com 4 pessoas representaram 14,7% no ano passado (16,6% em 2011);
  • os agregados com 5 ou mais pessoas pesaram apenas 5,6% (6,5% em 2011).

Em resultado, a dimensão média dos agregados caiu: em 2022 foi de 2,5 pessoas, valor que reduziu em 0,1 face ao valor de 2011.

Os dados dos Census de 2021 também mostram mudanças nos vínculos dos agregados familiares. A população casada caiu 2,1 pontos percentuais (p.p.) e a população divorciada ganhou peso (fixou-se em 8%). Além disso, também aumentou a população que vive em união de facto (+38,2% face a 2011).

Todas as mudanças na composição dos agregados familiares e o aumento em 37% da população estrangeira residente em Portugal, entre outros fatores, incentiva a adaptação do mercado residencial às necessidades das famílias, que procuram casas adequadas ao número de pessoas que constitui os agregados, às suas preferências (jardim, varanda, etc), assim como ao seu ‘modus vivendis’ mais flexível. Para compreender quais são as tendências do mercado residencial português observadas na última década, o idealista/news analisou à lupa os dados definitivos do Census 2021.

Parque habitacional cresceu nos últimos dez anos – mas menos que na década anterior

Olhando para o número de habitações em território nacional, o instituto conclui que “Portugal registou um crescimento do número de edifícios e de alojamentos destinados à habitação, embora num ritmo bastante inferior ao verificado em décadas anteriores”.

Foi assim que o parque habitacional português evoluiu na última década, de acordo com os resultados definitivos dos Censos 2021:

  • o número de edifícios destinados à habitação foi de 3.573.416 no ano passado, um valor 0,8% superior face a 2011;
  • o número de alojamentos residenciais fixou-se em 5.981.482 em 2021, um valor 1,7% maior do que o registado há dez anos.

Embora o parque habitacional tenha crescido entre 2011 e 2021, o INE conclui que esta evolução é “significativamente inferior” à verificada na década anterior, quando os valores se situavam na ordem dos 12% para edifícios e os 16% para alojamentos.

Primeira habitação ganha peso e número de casas vazias desceu

Desde 2011 até 2021, “reforçou-se ligeiramente o peso da primeira habitação em detrimento das residências secundária”, conclui o gabinete de estatística português. Ora, no ano passado 69,4% dos alojamentos foram destinados à primeira habitação, tendo este valor registado um acréscimo de 1,3 p.p. em relação a 2011. Já as residências secundárias perderam importância relativa em 0,8 p.p. e a proporção de alojamentos vagos decresceu 0,4 p.p.

A nível regional, a Área Metropolitana de Lisboa é a região com a maior percentagem de alojamentos de residência habitual (79,6%). Já a região do Algarve, com 38,6%, destaca-se como a região com maior peso das residências secundárias. Tal como noticiou o idealista/news, é no Algarve onde existe maior procura de segundas habitações por parte dos estrangeiros (população que está a aumentar), até porque é considerado o destino turístico mais popular do país.

No que respeita aos alojamentos vagos, a região do Alentejo regista a maior percentagem (16,5%), em oposição à região Norte do país, a qual tinha o menor peso relativo dos alojamentos vagos (10,3%), mostram ainda os resultados dos Census 2021.

Num recente diagnóstico realizado às condições habitacionais indignas na Área Metropolitana de Lisboa (AML) - desenvolvido por uma equipa da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa a pedido da AML que contou com a participação dos seus 18 municípios -, revelou que o peso dos alojamentos vagos na AML caiu 14% em dez anos. Mas ainda há cerca de 160.000 casas vazias na Grande Lisboa.

Arrendamento ganha força na última década

Com os modos de viver a tornarem-se mais flexíveis, o número de casas arrendadas aumentou 16% nos últimos 10 anos. E é na Área Metropolitana de Lisboa (AML) onde o arrendamento tem maior expressão, com 29,2% dos alojamentos ocupados por arrendatários.

Em resultado, as rendas das casas aumentaram: o valor médio mensal da renda era em 2021, de 334 euros, o que representa um acréscimo de 42,1% face ao valor registado em 2011 (235 euros).

Maioria dos proprietários sem despesas com a compra de casa

A maioria dos proprietários que vive nas suas casas (61,6%) não suportava encargos referentes à aquisição da habitação, mostram os dados dos Census 2021. Ou seja, ou compraram a casa a pronto pagamento ou já pagaram as prestações do crédito habitação.

Nos 38,4% alojamentos com encargos de compra (crédito habitação), o valor médio mensal dos encargos era de 360,5 euros em 2021, um valor que decresceu, comparativamente a 2011. Importa recordar que no ano passado as taxas de juro nos créditos habitação estavam em mínimos históricos e que agora, com a subida das taxas Euribor, as prestações da casa nos empréstimos estão a subir para máximos de 2012, tal como mostram os dados do INE publicados esta quarta-feira.

A nível regional, é na Área Metropolitana de Lisboa que os custos médios suportados pelos proprietários com a aquisição da habitação são mais elevados (397 euros). Seguem-se a Região Autónoma da Madeira (394 euros) e o Algarve (374 euros). As restantes regiões apresentam valores médios abaixo da média nacional, salientando-se o Alentejo, que apresenta o valor mais baixo (328 euros).

De notar ainda que “o decréscimo dos encargos com aquisição de casa própria verificou-se em todas as regiões, com especial incidência na Autónoma dos Açores (o decréscimo do valor médio mensal dos encargos foi de 21,9%) e na Região Autónoma da Madeira”, destaca ainda o instituto.

Maioria das casas em Portugal não precisa de obras

Viver com conforto térmico é importante para o bem-estar das famílias, sobretudo nos meses mais quentes e frios do ano. E, por isso, a corrida aos apoios à melhoria da eficiência energética das habitações está em alta, tendo o Programa de Apoio a Edifícios Mais Sustentáveis reforçado a sua dotação para um total de 135 milhões de euros. Mas, segundo os dados dos Census 2021, a maioria das casas em Portugal não necessitava de obras em 2021.

O gabinete nacional de estatística conclui que em 2021, 64,5% dos edifícios destinados à habitação não necessitavam de reparações. E nos edifícios residenciais que necessitavam de reparações, a dimensão da obra varia:

  • em 21,8% das casas as reparações eram apenas ligeiras;
  • em 9,4% das habitações foram classificadas como obras de média dimensão;
  • só 4,6% das casas necessitavam de obras profundas.

“A região do Algarve é a que apresenta maior percentagem de edifícios sem necessidade de reparações (70,7%). O parque habitacional com estado de conservação menos favorável é o da Região Autónoma da Madeira, com 43,0% dos edifícios a necessitarem de alguma intervenção”, conclui ainda o INE.

 

Por: Idealista