+Azul – Um projeto com sentidos
Como se ensina o mar a quem vive à beira dele, mas que não o sabe verdadeiramente escutar?
Como se transformam as paisagens do quotidiano numa fonte de curiosidade e de descobertas? Foi a partir deste impulso que nasceu o projeto +Azul, no Agrupamento de Escolas Dr. Francisco Fernandes Lopes, numa tentativa de aproximar os alunos ao mar que sempre ali esteve, mas que tantas vezes lhes é distante.
A ideia partiu da professora de Físico-Química, Carina Galvão, que decidiu prolongar o caminho iniciado pela Escola Azul, cruzando-o com as iniciativas das atividades náuticas presentes na Fuseta. A proposta era simples na forma, mas ambiciosa no conteúdo: levar os alunos para a água, ao longo de um ano letivo, e deixar que a ciência acontecesse ali mesmo, por entre as marés, as correntes e os leitos imprevisíveis da Ria Formosa.
Entretanto, na Escola E.B. 2/3 Dr. João Lúcio, nasceu o SplashLab, um projeto apoiado financeiramente pelo programa europeu ProBleu. As intenções do SplashLab eram claras: transformar a Ria Formosa num espaço de aprendizagem sem paredes, onde o saber não se guarda em papéis, mas na memória de o ter vivido. Foi com este impulso que o +Azul ganhou um novo alento, abrindo caminho para a introdução sessões de batismo de vela e aulas de mergulho autónomo com garrafa - experiências raras em contexto escolar, ainda mais para uma escola pública de pequena escala.
E o +Azul seguiu o seu percurso por entre os imprevistos decretados pela natureza. Adaptou-se ao que o mar lhe ofereceu ou recusou, às espécies de aves que desapareceram com a chegada do inverno, ao vento que não estava de feição, ao lixo que não deveria estar ali, ao silêncio que vale tanto quanto uma palestra e que merece ser escutado.
O que se aprende começa com o que se observa, mas todo o processo ganha outro fôlego quando estamos presentes no lugar. A ciência faz-se, também, desta presença: de mexer, de aprender com o corpo e com os cinco sentidos em alerta. É neste contacto direto com o mundo que o conhecimento se torna mais claro… Quando os alunos, com os pés dentro de água e a cara emprestada ao vento, descobrem que o mar não é apenas um belo cenário, mas uma matéria viva à qual pertencem, começam a sentir-se parte de algo maior. Percebem que o mar, embora grandioso e poderoso, é também vulnerável - e que, ao cuidar dele, assumem a responsabilidade por um sistema natural do qual, eles também, fazem parte.
Durante o ano letivo de 2024/2025, o projeto +Azul acolheu cerca de 500 alunos, vindos de 31 turmas e de várias escolas do Algarve e do Alentejo. No 3.º período até recebeu alunos da Croácia no âmbito de um intercâmbio Erasmus. Foram recolhidos mais de 100 kg de lixo da Ria Formosa e colecionados muitos mais sorrisos. Da idealizadora da iniciativa, professora Carina Galvão, restam os agradecimentos àqueles que também contribuíram para que esta experiência se tornasse real: aos docentes do Centro de Formação Desportiva de Atividades Náuticas do Desporto Escolar AEFFL, Professores Inês Reis e Ricardo Palma, ao professor coordenador da Escola Azul do AEFFL, António Espadaneira, e ao diretor do Agrupamento, Décio Viegas, que teve a sensibilidade de ver nesta iniciativa uma oportunidade para promover aprendizagens articuladas, de uma forma ousada e inovadora. O obrigado também se estende a todos os que participaram, colaboraram ou apoiaram o +Azul. E que seja sempre com o desejo de fazer mais.
Por: Agrupamento de Escolas Dr. Francisco Fernandes Lopes