Por F. Inez

Aquilo que foi um dos símbolos e uma das maiores conquistas do nosso regime democrático, nascido no já hoje longínquo 25 de abril de há 50 anos … o Serviço Nacional de Saúde (SNS) … está   hoje mergulhado numa gravíssima crise, da qual ninguém sabe nem como nem se alguma vez dela vai sobreviver! Disso já aqui falámos por diversas vezes … mas esse é um problema de que nos voltaremos a ocupar se e quando se vier a julgar mais oportuno … já que hoje, fiel ao velho ditado de que a exceção confirma a regra, vamo-nos ocupar de um problema com ele relacionado, mas de que nos poderemos orgulhar … assim ele possa vir a criar raízes e, de exceção, possa um dia constituir a regra do nosso SNS. Refiro-me a uma situação, por certo desconhecida da maioria de todos nós – A Unidade do Doente Frágil … situação impar no nosso País –  em boa hora criada e implementada no Hospital Central do Funchal e já vencedora de menção honrosa do Prémio de Boas Práticas.

Trata-se de um serviço totalmente inovador. Podemos nos interrogar acerca da necessidade de individualizar estes pacientes como um grupo de risco, mas é evidente que a fragilidade é um dos maiores desafios da Saúde Pública neste século, em particular pela longevidade das populações humanas, não obstante, por outro lado, constituir um benefício espetacular! Todavia, viver mais tempo significa estar mais tempo exposto aos fatores de risco para saúde.

O envelhecimento conduz inevitavelmente ao declínio da chamada reserva fisiológica e acompanha-se de alterações estruturais e funcionais que vão ocorrendo ao longo da vida. Tudo isto torna a pessoa idosa mais vulnerável na presença da doença aguda ou crónica. A inevitável fraqueza muscular, o baixo nível de atividade física, o grande risco de quedas e as suas possíveis e graves consequências – fraturas ósseas frequentemente passíveis de internamento hospitalar – o emagrecimento não intencional, o declínio da função de todos os órgãos, constituem um grave problema de saúde pública.

Como se torna facilmente compreensível, a convalescença destes pacientes, na sequência da sua hospitalização, é naturalmente mais longa e mais difícil do que noutras idades mais jovens. Assim, as Unidades Hospitalares dos Doentes Frágeis, constituem uma abordagem que visa melhorar e facilitar o percurso do doente na interface entre a alta hospitalar e o regresso ao domicílio dos doentes frágeis e obtêm benefícios na redução do sofrimento dos pacientes e até na redução da mortalidade. Reduz significativamente as complicações e até a necessidade de reinternamento hospitalar e ainda da sua qualidade de vida. Aquelas Unidades permitem facilitar a transição do internamento hospitalar e o regresso ao domicílio e ainda facilitando a transição para os Cuidados de Saúde Primários – os Centros de Saúde, para assegurar a continuidade dos tratamentos.

Estas Unidades contam com a colaboração de diversos especialistas, alem de nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais. Todo este apoio visa facilitar a reinserção familiar e impedir o declínio funcional numa fase sempre mais ou menos penosa para a maioria dos doentes. Uma das grandes dificuldades encontradas é a fragilidade social, já que muitos idosos vivem sozinhos, com dificuldades económicas e com deficiente suporte social e familiar Está de parabéns o Hospital Central do Funchal, pela sua brilhante iniciativa e oxalá ela possa ser replicada noutros hospitais portugueses, a bem dos nossos pacientes mais idosos e pelo importante contributo para a reabilitação do nosso tão exaurido Serviço Nacional de Saúde.