“O princípio ativo está identificado, já o conseguimos purificar e, atualmente, existem três fórmulas que têm a atividade analgésica para a dor persistente”, disse à agência Lusa Pedro Lima, neurofisiologista, biólogo e um dos investigadores da empresa.
Iniciada há seis anos, a pesquisa demonstrou resultados eficazes em laboratório no combate à dor crónica, encontrando-se numa fase avançada: “Procura-se um método de sintetizar artificialmente a fórmula para produzir em quantidade, para que o medicamento possa chegar a toda a gente”.
“O processo está a ser trabalhado em conjunto com os químicos da Universidade Nova de Lisboa”, sublinhou o investigador.
Segundo Pedro Lima, a produção sintética “é o caminho preferido, ao representar uma grande vantagem em termos de sustentabilidade ecológica, evitando a retirada de grandes quantidades de organismos marinhos, mesmo que não tenham valor comercial”.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, a dor crónica afeta cerca de 30% da população mundial, para a qual não existe um tratamento eficaz, sem efeitos secundários significativos nos doentes.
O investigador frisou que o projeto desenvolvido em Portugal, “é pioneiro, porque é a primeira vez que se tenta encontrar a solução para a dor crónica no mar”, embora exista muita investigação acerca do flagelo que atinge uma grande percentagem da população mundial.
“É um fármaco de grande eficácia, com efeitos secundários vestigiais, não sendo previsível qualquer habituação ou dependência, atuando especificamente numa proteína localizada nos gânglios neuronais situados fora da coluna vertebral, ao contrário dos opióides e outros medicamentos utilizados no tratamento da dor”, assegurou o investigador.
O organismo invertebrado marinho que contém o princípio ativo para a produção do analgésico, foi identificado no mar de Sagres, um dos dois polos da empresa de biotecnologia, onde se desenvolvem as atividades de mergulho e a triagem e preservação das espécies.
Em Sagres, os organismos são recolhidos, catalogados e imortalizados, seguindo depois para o laboratório da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, para serem efetuados os testes de neuroatividade.
“É retirado um extrato impuro do seu composto, estudado o efeito analgésico, e tenta-se atingir a parte indivisível ou seja, a fórmula que constitui o valor bioativo”, explicou Pedro Lima, acrescentando que, “nesta fase da investigação, existe a convicção de que daqui vai sair uma grande ajuda para quem sofre de dor crónica”.
Contudo, refere, existe ainda um longo caminho a percorrer até que o medicamento possa ser comercializado, "pois são necessários, em média, 12 anos desde a descoberta do princípio ativo até à colocação do fármaco no mercado”.
“Não queremos fazer o caminho todo, mas sim chegar a um ponto em que o valor seja suficiente para mitigar o risco e vender para que possa ser produzido pela indústria farmacêutica”, frisou.
O investigador disse, ainda, que “a pesquisa tem sido possível com os apoios de várias entidades, nomeadamente da Universidade Nova de Lisboa e da Câmara de Vila do Bispo”.
Por seu turno, o presidente da Câmara de Vila do Bispo, Adelino Soares, assegurou que o projeto “vai continuar a ser apoiado, pois é de todo o interesse, não só para quem sofre de dor crónica, mas também para se conhecerem as potencialidades do território”.
“A investigação serve para identificar e criar condições para que as gerações vindouras possam ter aqui uma matéria de conhecimento com elevado rigor científico”, destacou.
Além do desenvolvimento do analgésico para a dor crónica, a ‘Sea4us’ está envolvida na identificação e seleção de espécimes marinhos com potencial para a produção de outros medicamentos, em parceria com laboratórios europeus.
Por: Lusa