Os eleitores do concelho de Loulé foram a votos, e elegeram Telmo Pinto como presidente da Câmara Municipal para os próximos quatro anos. Está de parabéns pelo facto, e oxalá esteja à altura do desafio que o espera e que tanto desejou. É verdade que venceu por escassíssima margem (83 votos) sobre o seu oponente Hélder Martins, uma vitória “poucochinha”, parafraseando o inesquecível António Costa, mas para a História o que conta é o nome de quem venceu a eleição do executivo camarário, nem que fosse por um voto. Daqui a alguns anos já ninguém se lembrará das incidências da campanha e da eleição, nem de quem ficou em segundo lugar. Será Telmo Pinto quem terá direito a nome gravado na pedra das escadarias dos Paços do Concelho, honra lhe seja feita, e o resto é conversa. Isso não impede, enquanto a memória está fresca, que se faça uma autópsia política aos resultados derivados dos boletins de voto que foram depositados nas urnas. Desde logo, há um registo muito positivo que se deve assinalar. A pré-campanha e a campanha eleitoral propriamente dita decorreram com grande elevação, respeito e sentido cívico, e isso é sempre de enaltecer. Não houve altercações, nem insultos, nem irregularidades processuais que mereçam menção. Cada qual lutou com as armas e os argumentos de que dispunha. Mas o rosa com que o concelho de Loulé apareceu na capa do mapa eleitoral distribuído nas televisões e jornais, esconde uma realidade muito diferente da cor que aparece na segunda página de uma análise mais aprofundada, aqui com um tom muito mais alaranjado e alguns laivos de azul. E os factos são objectivos. A Coligação “Fazer Melhor”, e os partidos por ela representados (PPD/PSD, CDS/PP e IL), venceu a eleição para a Assembleia Municipal (Silvério Guerreiro também está de parabéns), com vantagem confortável, obteve mais votos no total da eleição para as Freguesias, venceu a maioria das presidências das Juntas de Freguesia, duplicou o número de votos e de mandatos de que dispunha. Podem apontar-se muitas razões para explicar a vitória do PS para a Câmara Municipal num quadro geral tão desfavorável em que perdeu as maiorias de que dispunha nos órgãos
municipais, e baixou quase 2.000 votos comparativamente à votação de há quatro anos, mesmo dispondo de um poder absoluto com o livro de cheques na mão e a teia de influências que ele gera. Para simplificar, refiram-se apenas duas situações colaterais, mas que contribuíram decisivamente para a eleição de Telmo Pinto. Desde logo, a “oferta” de quase 500 votos provenientes da extrema-esquerda. BE e PCP obtiveram em conjunto 1.559 votos para a Assembleia Municipal, mas apenas 1.082 para a Câmara Municipal. Que outra interpretação se pode dar? Em segundo lugar, está o estranho desaparecimento dos eleitores do Chega em Boliqueime. Este partido obteve nas últimas eleições legislativas, o extraordinário resultado de 835 votos. Cinco meses depois, para a Câmara Municipal, apenas obteve 436 votos. Se os partidos da coligação apenas tiveram um ligeiro acréscimo, para onde foram estes 400 votos do Chega? Em contrapartida o PS, que em Maio passado obtivera apenas 435 votos, saltou agora para os 1.037. Curiosa recompensa de uma freguesia com tão poucas razões de satisfação. Mistério! Sim, não se podem comparar eleições legislativas com eleições autárquicas “tout court”. O factor “pessoas” tem uma incidência especial. Porém, a proximidade temporal dos escrutínios não pode ser negligenciada nesta análise. Ambos são sondagens dentro da urna. Sem omitir a declaração de interesses como mandatário da Coligação “Fazer Melhor”, estou pessoalmente convicto de que Hélder Martins estava muito melhor preparado para a função de líder do maior concelho do Algarve em população, território e desenvolvimento económico. O seu percurso de vida, a sua experiência em altos cargos regionais e locais, a sua representatividade sectorial no Turismo e, acima de tudo, a sua capacidade “todo-o-terreno” de quem se movimenta com o mesmo à-vontade no meio rural de onde é originário como no meio urbano onde habita há décadas, fariam dele um excelente Presidente de Câmara. Vivemos em democracia, e há que respeitar o veredicto final do povo. Mas o presidente Telmo Pinto não se deve esquecer de que perdeu a eleição em 9 das 11 Freguesias do concelho, que só teve a preferência de 11.845 dos 68.835 eleitores inscritos, ou seja 17%, e que 62% dos que foram votar recusaram dar-lhe o seu voto. Até no seu território de origem, Quarteira, o resultado é sofrível para quem teve um poder total nos últimos doze anos, e acaba a registar menos votos do que aqueles que obteve para a Junta de Freguesia nas eleições de 2021. Viu a oposição duplicar a votação e os mandatos, e o sentimento bairrístico não se verificou. Chega a Loulé com a fama de conviver mal com a crítica. Verdade ou não, será bom que tal comportamento seja calibrado, sob risco de sair do cargo mais depressa do que o tempo que levou a lá chegar. Deve recordar-se de que o concelho de Loulé vai desde o mar até à serra, e que as Freguesias devem ser todas tratadas com os mesmos critérios, atenção e respeito, não beneficiando apenas as que ostentam a cor partidária do executivo, como se verificou nos últimos anos. O Município deve ser gerido de forma pragmática em função das necessidades concretas das pessoas, e não de uma forma ideológica, que uma vasta maioria dos eleitores do concelho de Loulé não partilha. Sim, foi de facto uma vitória poucochinha, um resultado tangencial, por uma unha negra como soi dizer-se, mas isso só lhe aumenta a responsabilidade de cumprir o extenso programa eleitoral com que se comprometeu, e de exercer uma presidência de grande abertura democrática e diálogo com as outras forças políticas.
- Mandatário da Coligação “Fazer Melhor” (PPD/PSD-CDS/PP-IL)




