No âmbito da Programação de Natal que vai arrancar no início do mês de dezembro em Lagos, decorre a iniciativa «TODOS os MENINOS JESUS». Com a organização a cargo da Biblioteca Municipal Dr. Júlio Dantas, esta atividade integra um Ciclo de Cinema e um Colóquio no dia 10 de novembro, ocasião em que se assinala o Dia Internacional dos Direitos do Homem.

O Ciclo de Cinema decorre todas as Quartas-Feiras do mês (dias 02, 09, 16, 23 e 30), pelas 21h00. Em cada dia o filme escolhido relembra e representa um Direito do Homem (ao Amor, à Justiça, à Felicidade, à Vida e à Paz).

Para o dia 10 de dezembro, ocasião em que se assinala a Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU – 10 de dezembro de 1948), está previsto um Colóquio igualmente sob o tema “Todos os Meninos Jesus”. Serão apresentados e debatidos dois temas no decorrer do encontro: “As Redes de Desumanidade: Tráficos Humanos”, apresentado por Caterina Boschetti, e a “Roda dos Expostos: a Sorte dos Enjeitados”, apresentado por Fátima Santos.
Ambas as atividades têm lugar na Biblioteca Municipal e são de entrada gratuita.

Caterina Boschetti é jornalista há 16 anos. Licenciada em Letras, em Bologna, escreveu 82 histórias para crianças, em regime de voluntariado, reunidas em 6 livros, e um livro para a Emergency Internacional sobre as bombas anti-homem, as minas terrestres. São suas as duas investigações, publicadas em livros, sobre o sectarismo destrutivo e sobre os meninos desaparecidos, trabalhos realizados com a ajuda do Ministério do Interior Italiano, da Polícia italiana, e da Interpol. Ainda no âmbito da Infância realizou o documentário sobre a pedofilia “on line”, que foi apresentado na Camara dos Deputados, em Roma, no Dia Mundial da Pedofilia. Atualmente está a concluir uma investigação sobre um quadro de Raffaello, roubado pelos nazis durante a II Guerra Mundial, na Polónia, que se encontra desaparecido. Escreve para o Cinema Italiano e, algumas das suas histórias foram traduzidas para russo e árabe, e chegaram ao Teatro. 

Maria de Fátima Santos aposentada de professora de Física e Química nasceu em Lagos, em 1948, cidade onde reside. Do currículo profissional destaca a atividade como orientadora de estágio profissional e a co-autoria em manuais escolares. Dedicada à escrita, edita num seu blog e tem publicados um livro de contos e um romance, e poesia e contos em diversas antologias. Alguns dos seus textos foram premiados em concursos literários. É escritora residente na revista digital Samizdat. Nos intervalos da escrita gosta de desenhar.

 

INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR:

♦ Ciclo de Cinema “Todos os Meninos Jesus”

Dias 02, 09, 16, 23 e 30 | 21h00 – Biblioteca Municipal de Lagos | Entrada Gratuita

Dia 02 | DIREITO AO AMOR: Bestas do Sul Selvagem, de Benh Zeitlin. EUA, 2013

Dia 09 | DIREITO À JUSTIÇA: Crianças invisíveis. Itália, 2005. Sete curtas-metragens de Mehdi Charef (África do Sul); Emir Kusturica (Sérvia-Montenegro); Spike Lee (EUA); Katia Lund (Brasil); Jordan Scott & Ridley Scott (Inglaterra); Stefano Veneruso (Itália); John Woo (China). Itália, 2005

Dia 16 | DIREITO À FELICIDADE: Bekas e o Sonho Americano, de Karzan Kader. Curdistão, 2014

Dia 23 | DIREITO À VIDA: A Boa Mentira, de Philippe Falardeau. Canadá, 2014

Dia 30 | DIREITO À PAZ: Ivanovo Detstvo (A Infância de Ivan), de Andrei Tarkovsky. Rússia, 1962

Conheça as sinopses em www.cm-lagos.pt

 

CATERINA BOSCHETTI

Chamo-me Caterina Boschetti, tenho 38 anos e sou italiana.

Comecei a escrever, aos 12 anos, histórias em pequenos cadernos que ainda guardo na minha casa, em Itália. Tudo contribuía para a minha curiosidade de contar a vida das pessoas que ia encontrando e, pouco a pouco, esta paixão tornou-se um trabalho. A leitura e a escrita foram os meus melhores amigos, juntamente com o grande amor pela minha avó Dolores que me transmitiu o gosto de cozinhar. Hoje tenho uma grande biblioteca em Itália, que tem também livros antigos do século XV, e quase 100 livros de cozinha de todo o mundo.

O sonho do meu pai era que eu fosse advogada, como o meu avô, como ele, como o meu irmão... Mas a escrita foi um fogo que não parou no meu coração. Estudei latim e greco antigos e, depois, na Universidade, fiz o percurso de Letras em Bologna.

O meu primeiro artigo no jornal foi sobre um camião de porcos que caiu numa rua da minha cidade. Dez anos depois estava no Parlamento Italiano a apresentar os meus livros de investigação jornalística.

Hoje moro no Algarve com meu marido e o meu filho Enea, e vou sempre em frente... O próximo objetivo é aprender surf, um desporto que me faz um medo incrível. Mas toda a minha vida foi um risco. E os riscos fazem parte da nossa vida, que só será maravilhosa se aceitarmos vivê-la com paixão.

 

MARIA DE FÁTIMA SANTOS

As primeiras letras, as leituras ouvidas, foi de minha mãe que as soube, às tardes e pelas noites, em contos que ela me lia ou inventava. Quando me fiz de idade, frequentei a escola que, ao tempo, era a soma dos salpicos que as salas de aula faziam pela cidade.

A mim calhou-me uma sala enorme por cima de uma adega – Adega do Pincarilho, se a memória não me falha. Tinha, para recreio, uma varanda e, do outro lado duma rua estreita, fazia-se pão e cheirava a estevas e a lume. A Dona Maria José Lino Ginjeira era a professora que, para além do gosto pelas letras e pelos números, foi, estou certa disso, a minha primeira e mais querida mestra nas artes do ensino. E, um dia, o meu pai levou-nos para África.

Fomos num navio, e por lá fiz o exame da quarta, depois que subi a serra de Chelas num comboio – um lento e inesquecível comboiozinho. Por lá me cresci de chuvas e rios e trovoadas. E cheiros. Odores ainda mais intensos que o cheiro inolvidável que tinha a minha mala de ir à escola.

E um dia, como fui, voltei.

Foram-me, então, tempos de mordaça e tempos de luta; tempos de ser estudante e de ser profissional. Tempos em que pedagogia se conjugou com o descalço nos pés das crianças a quem ensinava, enquanto não chegou aquele Abril e o dealbar de uma sua madrugada. E foi em Liberdade que criei os meus dois filhos. Disso, e do que tenho sido, agradeceria aos deuses se neles acreditasse.

De vez em quando, escrevo – escrevo sempre. De vez em quando, faço um desenhito – desenho muito menos do que o gosto que tenho pela arte. E leio. É nisto que dou vazão a uma curiosidade que me atrapalha por ser tão enorme e tão dispersa. De minha biografia não sei mais, ou não sei dizê-lo. Talvez acrescentar que nasci em Lagos, Algarve, no dia onze de Janeiro de quarenta e oito e sou do nome que me deram e aqui lavro.

 

Por: CM Lagos