Há comparações que doem, mas que precisam de ser feitas. Em Inglaterra, Stonehenge é tratado como um ícone mundial. Há um centro interpretativo moderno, filmes imersivos que recriam o nascer do sol no solstício, visitas virtuais em 360 graus, audioguias em várias línguas, exposições interativas e até a possibilidade de experimentar digitalmente como era erguer aquelas pedras colossais. Tudo está pensado para que cada visitante sinta que pisa um lugar único e sagrado da história da humanidade.
Em Portugal, o nosso Cromeleque dos Almendres, que é cerca de dois mil e quinhentos anos mais antigo do que Stonehenge, foi reaberto ao público sem que sequer a estrada de acesso estivesse em condições.
Num artigo anterior escrevi que “temos uma joia arqueológica sem paralelo na Europa, mas continuamos a tratá-la como um parente pobre da nossa história”. Hoje repito-o, com a mesma indignação: o contraste entre a dignidade com que os ingleses promovem a sua memória e a displicência com que nós lidamos com a nossa é demasiado gritante para ser ignorado.
Stonehenge, com os seus quatro mil e quinhentos anos, pode ser mais famoso, mas não é mais antigo. O Cromeleque dos Almendres conta já sete mil anos de existência, o que o torna um dos mais velhos santuários megalíticos do mundo. E, no entanto, enquanto os ingleses fazem de Stonehenge um símbolo de orgulho nacional e de identidade, nós anunciamos reaberturas sem cuidar sequer do mínimo: o acesso, a musealização, a projeção internacional.
Noutro texto escrevi que “Stonehenge pode ser mais famoso, mas mais antigo, mais autêntico e mais imponente é o nosso”. A frase mantém-se verdadeira, mas infelizmente mantém-se também a vergonha de um país que não sabe olhar para o que tem de maior.
O Cromeleque dos Almendres deveria ser tratado como um farol da nossa história e da nossa cultura, um espaço de memória e de orgulho. Em vez disso, continua esquecido, quase escondido entre sobreiros e azinheiras, como se fosse apenas mais um segredo alentejano para meia dúzia de iniciados.
Até quando deixaremos que os outros façam da sua história matéria-prima de orgulho coletivo, enquanto nós deixamos a nossa entregue ao esquecimento?