2014 foi um ano de altos e baixos para o sector. Um ano que foi marcado, novamente, por prémios atribuídos ao País, mas também conturbações, processos de vendas e fechos de empresas ligadas ao turismo.

O Publituris dedica nesta edição um espaço que pretende relembrar o que aconteceu durante 2014, que está mesmo a acabar.

Início do ano

Um dos assuntos que mais marcou o sector do turismo em 2014 foi, sem dúvida, o processo de privatização da TAP. Foram dados a conhecer pela comunicação social vários compradores, nomeadamente no início do ano, em que Pais do Amaral foi o primeiro empresário a mostrar-se interessado. Seguiram-se possíveis compradores chineses, mexicanos e, em Setembro, o ministro da Economia, António Pires de Lima, veio admitir que não faltavam compradores para a transportadora. No entanto, este processo não foi fácil, nem aceite de bom grado por todos. Foi a 13 de Novembro que foi aprovado pelo Governo o modelo de privatização da transportadora, através da “alienação de acções representativas de até 66% do capital social da TAP SGPS, S.A.”, lia-se no comunicado do Conselho de Ministros. Destes, 61% serão em “modalidade de venda directa de referência a um ou mais investidores nacionais ou estrangeiros” e os restantes 5% “por parte dos trabalhadores” do grupo. Além disso, o Governo ficou ainda com uma opção de venda, em condições a definir no Caderno de Encargos, que lhe permitirá alienar até 34% do capital remanescente da TAP SGPS, S.A.

Também no primeiro mês do ano, o grupo ES Viagens e a NetViagens chegaram a acordo, separando-se e passando esta última a pertencer ao Discoverability Group. Esta decisão surgiu no âmbito da estratégia da ex-ES Viagens “de reorganização e modernização.”

A Administração do Porto de Lisboa (APL) anunciou, no mesmo mês, a adjudicação do Terminal de Cruzeiros de Lisboa ao consórcio constituído pela Global Liman Isletmeleri A.S., Grupo Sousa, Investimentos, SGPS, Ld.ª, Royal Caribbean Cruises Ltd e Creuers del Port de Barcelona, SA. O contrato de concessão durará 35 anos e o concessionário propôs-se a investir cerca de 23 milhões de euros, nomeadamente na nova gare.

No final do mês de Janeiro, foi aprovado o Regime Jurídico dos Empreendimentos Turísticos (RJET); e a Avis anunciou a compra da Budget Portugal. A empresa passou a designar-se Avis Budget. Em Fevereiro, foi notícia que a Amorim Turismo ia vender os seus hotéis de Tróia e do Algarve ao Fundo Aquarius, da empresa de capital de risco Oxy Capital.

O grupo apresentava uma dívida de mais de 200 milhões de euros à banca e a transacção, concretizada em Novembro, envolveu três unidades de cinco estrelas: o Tróia Design Hotel, o Lake Resort e o Vilalara no Algarve. Ainda em Fevereiro, a PortugalRes deu entrada do pedido de insolvência, marcando o fecho da empresa. Também neste mesmo mês foi anunciada a nova regulamentação para os serviços rent-a-car sem instalações nos aeroportos nacionais. A ANA-Aeroportos anunciou dois tipos distintos de posicionamento no mercado: as empresas que operam o modelo tradicional e as que adoptam um posicionamento low-cost, baseado numa estrutura de custos fixos mais reduzida e que optam por não se licenciarem junto da entidade.

Foi no início do mês de Março que o Turismo ficou marcado a nível mundial, com o desaparecimento do Boeing 777-200 da companhia aérea Malaysia Airlines, com 239 pessoas a bordo. Um avião do mesmo modelo e companhia aérea foi abatido na Ucrânia no mês de Julho, morrendo 295 pessoas. Estes dois acontecimentos levaram a um processo de reestruturação da transportadora malaia, que saiu da bolsa e foi privatizada.

A DouroAzul anunciou, no mês de Março, o início da sua operação em Lisboa. A empresa de cruzeiros adquiriu o cacilheiro de Joana Vasconcelos, iniciando percursos entre o Terreiro do Paço e Belém, a partir do final de Abril.

Ainda no mês de Março, o Turismo de Portugal e a OMT assinaram um acordo durante a BTL, permitindo num espaço de três anos que recém-licenciados portugueses na área do Turismo realizem estágios internacionais na organização internacional.

A Windavia, que iniciou as suas operações em Dezembro 2013, e começou poucos meses depois a trabalhar com operadores portugueses, como é o caso da Travelers e a ViajarTours, fechou as portas em Novembro. Em Abril, a região de Aveiro decidiu abolir a taxa turística aplicada na região, em vigor desde 1 de Maio de 2013. Esta medida foi, ao longo dos dois últimos anos, contestada pelos profissionais de hotelaria e do sector do Turismo.

O Turismo de Portugal (TP) apresentou, no final do mês de Abril, o projecto McNamara Surf Trip, com o objectivo de promover o País como destino de surf e que envolveu um investimento de 200 mil euros. Antes, durante a Fitur, o surf foi igualmente a escolha do stand do instituto, onde o surfista reconhecido internacionalmente marcou presença.

Verão de 2014

O Verão de 2014 foi marcado pelo aparecimento do contágio do vírus Ébola na Europa e EUA. O surto, que teve início em Fevereiro na África Ocidental, causando mais de 5000 mortos na Serra Leoa, Guiné-Conacri e Libéria, veio abalar o sector do turismo. Algumas transportadoras aéreas foram aconselhadas a não voar para estes países, gerando também algum receio por parte dos turistas em viajar. Foi durante o Verão que a TAP procedeu a constantes cancelamentos e atrasos, tendo, no mês de Julho, cancelado mais de 450 voos. Neste seguimento, Fernando Pinto explicou que estes factos se deviam, sobretudo, a um crescimento acima do normal. No entanto, este foi apenas o começo de um ano conturbado para a transportadora nacional. Nos meses seguintes, a companhia passou por alguns períodos de greve da tripulação e de pilotos, mais atrasos nos seus voos e, para finalizar, o anúncio do processo de privatização. Em Julho, a candidatura da APAVT ganhou a ‘corrida’ para acolher o congresso de 2015 da DRV – Deutscher ReiseVerband, congénere alemã. Lisboa foi o local eleito. Ainda no mesmo mês, foi aprovado o Regulamento das Embarcações Utilizadas na Actividade Marítimo-Turística.

O mês ficou também marcado pelo fim das negociações entre o Governo Regional dos Açores e o Governo da República sobre o novo modelo de Obrigações de Serviço Público nas ligações aéreas entre os Açores e o Continente e a Madeira. A decisão permitu a operação por parte de low costs e uma protecção diferenciada dos residentes e estudantes açorianos. Em meados de Julho, a Bestravel foi adquirida pelo Grupo Newtour. A empresa comprou a Gecontur, que detêm o master da rede de agências.

Foi também em Julho que a Uber chegou à cidade de Lisboa. Em simultâneo com a Airbnb, as empresas têm sido um dos temas muito badalados durante o 2014, sendo confrontadas diversas vezes pelos profissionais do sector. Entretanto, dois países europeus proibiram a utilização da Uber: Espanha e Holanda. Veremos o que o próximo ano reserva para as empresas. Em Agosto, Lisboa foi escolhida entre 60 outras cidades europeias como o destino que ia receber o Fórum Económico Mundial, que teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, no mês seguinte.

Em Setembro, foi aprovada uma proposta de lei que obriga as entidades de gestão colectiva a negociar as tarifas sobre os direito conexos e de autor. No mesmo mês, Portugal voltou a manter a 19ª posição, pelo terceiro ano consecutivo, no ranking Country RepTrak 2014, o estudo promovido pelo Reputation Institute que avalia a reputação dos países a nível mundial. Consolidando a sua posição com uma reputação ‘Moderada’, de notar que Portugal melhorou a sua percepção, a nível interno e externo, nas dimensões de ‘Ambiente Governativo’ e de ‘Ambiente Económico’, registando uma descida ligeira na dimensão de ‘Ambiente Natural e Cultural’.

Final do Ano

No início de Outubro, a Transhotel realizou um pedido de protecção contra credores, de forma a proteger a situação financeira que atravessava. Actualmente, a empresa poderá ter que despedir a totalidade dos seus funcionários, depois de ter recusado a proposta de aquisição por parte do grupo Hotusa. Em meados do mês, foi criada a Associação de Turismo de Cascais, com sede no Centro de Congressos do Estoril. Esta entidade pretende promover o destino turístico e garantir o seu desenvolvimento sustentado, além de promover todos os respectivos segmentos do turismo. Depois de um Verão conturbado, o mês de Novembro ficou marcado pela venda da ES Viagens ao Springwater Capital, oficializando, desta forma, a entrada do grupo suíço no mercado português, com o objectivo de dar estabilidade à empresa e apostar neste mercado. Neste âmbito, a Espírito Santo Viagens e a empresa de ‘shared services’ Espírito Santo Consultoria passaram a ser denominadas por Springwater Travel Group, sendo mantidas a identidade e imagem das marcas comerciais e participações das empresas: TopAtlântico, Carlson Wagonlit, BCD Travell, TA DMC Portugal, Solférias, ATR e King Holidays.

Em Novembro, a Câmara Municipal de Lisboa propôs a cobrança de uma taxa turística, que veio abalar o sector do turismo. O projecto, aprovado a 11 de Dezembro de 2014, consiste em cobrar, a partir de 2016, uma taxa de dormida no valor de um euro por pessoa e noite na cidade, assim como uma taxa de desembarque por passageiro, tanto no aeroporto como no porto de Lisboa. Esta medida trouxe consigo críticas de todos os lados, destacando-se a da AHP, cujo presidente da entidade, Luís Veiga, rejeitou veementemente. No entanto, segundo um artigo publicado pelo Diário de Notícias, esta taxa não era uma novidade para a associação. O jornal afirmou que foi a própria AHP que propôs o recurso a uma taxa “abrangente que recai sobre os turistas que pernoitem em qualquer meio de alojamento”, sugerindo dar-lhe um nome “que não traga tão óbvia conotação fiscal e propondo-se algo como uma ‘contribuição de sustentabilidade municipal’.” A 24 de Novembro, entrou em vigor o Regime Jurídico de Alojamento Local. No mesmo mês, o TP anunciou uma grande aposta no mercado chinês. Primeiro com a mobilização de Inês Cunha Alves como representante permanente na China. Depois, com o lançamento da campanha ‘Portugal tem o melhor do mundo’, utilizando a imagem de Cristiano Ronaldo de forma a promover o País naquele que é um dos maiores mercados emissores de turistas a nível mundial. A Abreu lançou, em Novembro, a primeira edição da Expo Abreu, com o objectivo de potenciar as vendas em época baixa. O Cante Alentejano conquistou uma grande batalha neste mês, quando, a dia 27, foi eleito Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO. O mês ficou ainda marcado por mais um desastre natural, o Vulcão da Ilha do Fogo, em Cabo Verde. A sua erupção veio destruir uma escola, um hotel, casas e outras infra-estruturas no destino.

No dia 3 de Dezembro, Portugal recebeu a conferência Diálogo 5+5, que debateu o sector do Turismo. Esta iniciativa contou com a presença de várias organizações internacionais e da própria Comissão Europeia, assim como os dez países do Mediterrâneo Ocidental – Portugal, França, Itália, Malta e Espanha, e do lado africano, Mauritânia, Argélia, Marrocos, Tunísia e Líbia. Também em Dezembro, a easyJet e a Ryanair anunciaram o início das suas operações para Ponta Delgada, nos Açores.

Por: publituris