Por Maria João Paiva Lopes - Assistente Graduada Sénior Dermatovenereologia; Directora do Centro de Responsabilidade Integrado de Dermatovenereologia - Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central.
A Psoríase é uma doença inflamatória crónica, não contagiosa, que pode iniciar-se em qualquer idade, e que atinge cerca de 2 a 3% da população, sem preferência de sexo. Nesta doença, a inflamação é sistémica, isto é, atinge todo o organismo, não se limitando à pele.
 
A psoríase surge em pessoas com predisposição genética (hereditariedade) mediante certos estímulos ambientais, por exemplo, stress, infeções ou reacções a
medicamentos.
 
As suas manifestações são muito variáveis, desde formas ligeiras, estáveis, limitadas a pequenas áreas, até formas muito extensas, por vezes atingindo quase toda a pele.
 
Na forma mais habitual manifesta-se com o aparecimento de placas vermelhas e espessas, cobertas de escamas brancas, localizadas sobretudo nos cotovelos, joelhos e couro cabeludo. Porém, as placas podem surgir em qualquer local, inclusive na face, mãos, região genital ou peri-anal, e também pode haver alterações das unhas. Estas lesões podem ser causa de comichão, constrangimento sexual, embaraço social ou dificuldades profissionais, provocando um grave impacto na qualidade de vida dos doentes.
 
É fácil perceber como a saúde mental é afectada, pois os doentes acabam por evitar as situações em que expõem a pele, como ir a praias ou piscinas, e, por vezes, até evitam desenvolver relações sentimentais por receio da intimidade. Isso limita a sua vida emocional e social e cria isolamento e depressão. Até a escolha do vestuário é condicionada pela doença, de forma a cobrir o máximo de pele possível (alguns doentes verbalizam que gostariam de usar calções no Verão). Outro problema muito sério é a discriminação no trabalho, limitando quer o acesso quer a progressão na carreira, dependendo das profissões.
 
Além das perturbações da saúde mental, a Psoríase associa-se a um grande número de outras patologias, ou comorbilidades, nomeadamente Artrite psoriática (articulações dolorosas e inchadas), obesidade, diabetes tipo II, hipertensão arterial e aterosclerose.
 
De facto, a psoríase grave é um factor de risco independente para doença cardiovascular, o que mostra bem a natureza sistémica da inflamação psoriática.
 
A existências destas patologias também vai influenciar e condicionar a escolha dos tratamentos para a psoríase, devido às contra-indicações e interacções farmacológicas a que devemos estar atentos.
 
Trata-se, portanto, de doentes complexos, que precisam de um diagnóstico precoce e de uma avaliação muito cuidada, ou seja, precisam de acesso precoce a consultas especializadas.
 
Actualmente, dispomos de muitos tratamentos para a psoríase. Conforme a gravidade e o tipo de lesões, podemos escolher terapêuticas tópicas (locais) ou sistémicas ou ainda fototerapia (exposição a radiação ultra-violeta, em meio hospitalar).
 
Apesar de continuar a não existir cura para a psoríase, as terapêuticas mais recentes, chamadas biotecnológicas, constituíram um enorme avanço que nos permite obter excelentes resultados, com bom perfil de segurança, mesmo em casos graves e extensos de psoríase em placas. No entanto, estudos indicam que se o doente só inicia este tratamento após muitos anos de evolução de doença grave, então é mais difícil ter sucesso.
 
Quer por este motivo, quer pelos anos de sofrimento físico e psicológico evitáveis, o ponto essencial é a precocidade do acesso à consulta especializada, ao diagnóstico e à intervenção adequada.