Iniciativa atraiu gente de vários cantos do mundo para celebrar a sétima arte em comunhão e sob a luz das estrelas.
Os Claustros do Convento do Carmo, em Tavira, receberam mais uma vez a ‘Mostra de Cinema ao Ar Livre’. A 25ª edição do evento, organizado pelo Cineclube de Tavira, decorreu de 17 a 27 de julho e de 7 a 17 de agosto.
Este ano, em que se celebraram os 25 anos de existência da Mostra, foram apresentadas 22 longas-metragens e seis curtas. A programação, que incluiu também performances poéticas, música ao vivo, conversas sobre cinema e reflexões sobre o mundo atual, atraiu aproximadamente 3500 pessoas. Um número mais elevado do que em anos anteriores. Em julho, a primeira fase da Mostra foi surpreendente em termos de bilhetes vendidos. Todas as noites houve lotação esgotada ou quase lotada.
A programadora da Mostra de Cinema, Candela Varas, encara este aumento de público com entusiasmo e realça o interesse cada vez maior por parte dos jovens.
“A presença crescente de público jovem tem sido uma das surpresas mais gratificantes dos últimos anos. Os jovens não só têm marcado presença nas sessões, como também participam ativamente nas conversas após os filmes e nas oficinas criativas — como a deste ano, onde jovens artistas criaram, em conjunto, um videopoema que foi apresentado na Mostra. Atividades como o cinema expandido têm atraído públicos diversos, curiosos por experimentar outras formas de ver e pensar o cinema e a criação contemporânea. As performances com projeção também têm sido recebidas com muito entusiasmo, abrindo caminhos que queremos continuar a explorar com liberdade e imaginação.”, conta.
Ao longo da Mostra, em termos de afluência de público, o destaque vai para as sessões dos filmes ‘All We Imagine as Light’, que abriu a edição deste ano, ‘Cão Preto’, ‘Holy Cow’, ‘Uma História Simples’ de David Lynch, ‘A História de Souleymane ‘, ‘Hanami’, filme rodado na Ilha do Fogo em Cabo Verde, ‘Grand Tour’ do português Miguel Gomes, ‘Flow’ e ‘A Queda do Céu’, que encerrou a iniciativa.
Números à parte, outra das noites mais marcantes foi a da apresentação, em formato de cinema expandido, de ‘Storm Over Asia’. A película foi musicada ao vivo por Tomas Tello, Raul Jardin e pelo talentoso músico polaco Łukasz Szałankiewicz (Shaolines del Amor & Zenial).
Também a presença da realizadora do documentário ‘As Fado Bicha’ Justine Lemahieu, e das protagonistas do filme, despertaram o entusiasmo do público, que no final pôde participar numa conversa sobre a obra cinematográfica exibida. Nessa mesma noite, quem estava na plateia assistiu ainda à performance poética ‘Língua Solta’, concebida e apresentada pela poeta Flora Lahuerta.
Nesta 25ª edição, destaque também para a noite de encerramento, em que após a apresentação do documentário ‘A Queda do Céu’, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, houve uma conversa com o filósofo André Barata que começou pelo tema central do filme, mas que desafiou os presentes a refletir sobre a necessidade de se parar, respirar, ouvir e pensar, numa espécie de desaceleração do tempo, para respeitar os ritmos da natureza, cada vez mais ignorados por uma sociedade em constante frenesim.
Este ano, a programação incluiu ainda quatro curtas-metragens que fazem parte de ‘Los Subterráneos’, o primeiro arquivo de cinema amador cubano, criado pelo coletivo Archivistas Salvajes em colaboração com a EQZE (Elias Querejeta Zine Eskola). Com obras até então ignoradas, o arquivo já foi exibido em prestigiados festivais e instituições internacionais, como o Festival de San Sebastián e o Cinéma du Réel. Chegou pela primeira vez a Portugal, na Mostra de Cinema de Tavira, onde o público pôde estar à conversa com Daniel Saucedo, de Archivistas Salvages, e Asier Armental, da Elias Querejeta Zine Eskola.
E como já vem sendo habitual, todos os anos, no final de cada sessão, os espetadores são convidados a classificar, de acordo com a sua preferência e numa escala de 1 a 10, os filmes visionados. A longa-metragem ‘Grand Tour’, cuja apresentação em Tavira contou com a presença do ator Cláudio da Silva, arrebatou o coração do público, tendo obtido a pontuação mais elevada - 9,7 pontos.
Segundo Candela Varas, o balanço desta edição, em que se comemoraram os 25 anos da Mostra, é bastante positivo. Agora o desafio é pensar na programação de 2026.
“Em 2026, queremos manter o espírito deste ano, continuar a criar espaço para obras e propostas que normalmente não têm onde ser mostradas, pelo menos aqui no Algarve. A estreia dos Archivistas Salvajes em Portugal foi um marco e reforça o quanto é importante dar visibilidade a trabalhos que, de outra forma, não chegariam até nós. Queremos cada vez mais mergulhar mais a fundo nos festivais de cinema, descobrir filmes — distribuídos ou não — que nos permitam dar um passo adiante na Mostra. Com a reabertura do Cineteatro António Pinheiro, teremos a oportunidade de organizar conversas e atividades durante o dia, o que ajudará a aliviar os horários noturnos das sessões no Convento do Carmo. Mas, o mais importante continuará a ser criar esse espaço de partilha, como quem se junta à volta do fogo ou se encontra numa praça e voltar a olhar e imaginar em conjunto.”, diz a programadora.
A Mostra de Cinema ao Ar Livre envolve, ano após ano, dezenas de voluntários, parceiros e instituições públicas e privadas, empenhados em proporcionar ao público experiências marcantes. Para levar a cabo a 25ª edição, o Cineclube de Tavira contou com o importante apoio da Câmara Municipal de Tavira. O ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual, a Europa Cinemas, a CCDR Algarve – Unidade de Cultura e várias empresas privadas também se juntam à lista de apoios do evento.
Por: Cineclube de Tavira