A criação da primeira delegação regional da Associação Nacional de Imprensa Regional (ANIR) — a Delegação do Algarve — foi o principal destaque do Encontro Nacional da Comunicação Social Local e Regional, realizado no Teatro-Cine de Pombal. A nova estrutura, que visa reforçar a ligação da associação aos órgãos de comunicação social do sul do país, será coordenada por Nathalie Dias, diretora dos jornais A Voz de Loulé e A Voz do Algarve.

No seu discurso, Nathalie Dias defendeu de forma firme o valor da imprensa escrita, questionando a ideia de que o digital substituirá o papel. “Quem é que diz que o jornal em papel vai acabar? É ‘moda’ afirmar que temos de nos adaptar ao digital, como se isso fosse sinónimo de modernidade. Mas os jornais existem há séculos, sempre evoluíram e continuam a evoluir.”

A coordenadora sublinhou ainda que a imprensa escrita não é um vestígio do passado, mas um registo essencial da vida dos territórios. “Não é só escrever. É preservar a história. Somos consultados por escritores e historiadores portugueses e estrangeiros. A história dos nossos concelhos fica guardada nos jornais, não nas redes sociais.”

Nathalie Dias criticou também a tendência de confundir comunicação institucional com jornalismo, alertando para a responsabilidade dos decisores públicos. “É preocupante quando alguns autarcas acreditam que pagar publicidade num blog ou no Facebook é fazer jornalismo. Não é. Um jornal não é uma rede social.”

Sobre a realidade regional, deixou um diagnóstico claro: “A imprensa no Algarve está fragilizada. Contamos pelos dedos os jornais impressos ainda ativos. Numa região com 16 concelhos, cada concelho deveria ter o seu jornal em papel. Esses jornais pertencem às pessoas — às bibliotecas, aos cafés, aos espaços públicos e de convívio. É assim que a informação fidedigna e a leitura se transmitem.”

A responsável destacou igualmente a importância do trabalho de proximidade com as escolas, defendendo a necessidade de sensibilizar as gerações mais jovens. “Quando falo com alunos, muitos pensam que a função de um jornalista é ‘vender jornais’. Isso mostra que precisamos de estar presentes e explicar que o jornalismo é memória, cidadania e proximidade.”

A nova delegação representará, segundo afirmou, um instrumento de união e valorização para os profissionais da região. “Estou determinada em ouvir, apoiar e fortalecer os colegas da comunicação social. Esta delegação vai aproximar-nos, dar visibilidade ao trabalho desenvolvido no Algarve e afirmar que os jornais estão — e vão continuar.”

Com entusiasmo, deixou ainda um desafio para o futuro próximo: “Espero que uma das próximas reuniões nacionais da ANIR possa realizar-se no Algarve. Conto com todos para mostrarmos o melhor da nossa região.”

A instalação da Delegação do Algarve da ANIR reforça a presença da associação no território e reafirma a importância do jornalismo de proximidade num contexto nacional marcado por profundas transformações tecnológicas e estruturais.