O primeiro-ministro disse ontem estar «estupefacto e revoltado» com o teor das notícias ontem divulgadas sobre o caso Spinumviva e falou mesmo «em pouca vergonha», dizendo aguardar a «análise e o juízo do Ministério Público».

Luís Montenegro fez uma declaração à comunicação social, sem responder a perguntas, à entrada para uma iniciativa de campanha autárquica em Albufeira (distrito de Faro), na sequência da notícia avançada pela CNN Portugal de que os procuradores responsáveis pela averiguação preventiva sobre a Spinumviva consideram que deve ser aberto um inquérito-crime ao primeiro-ministro, que será decidido pelo procurador-geral da República.

“Estou completamente tranquilo, embora absolutamente estupefacto e mesmo revoltado com o teor das notícias, que a virem de alguém ligado ao processo configuram uma situação que é uma pouca vergonha, de uma deslealdade processual, democrática, que é intolerável e que eu não aceito de maneira nenhuma”, disse.

O líder do Governo assegurou que estas notícias “não o intimidam” e pediu aos portugueses que “não se deixem levar por manobras” – que classificou como obscuras – “a três ou quatro dias do encerramento de uma campanha eleitoral e de uma escolha que devem fazer em total liberdade”.

“Não sei qual é a fonte desta notícia, o que posso garantir é que todos os esclarecimentos que me têm sido pedidos são facultados e eu aguardarei a sua análise e o juízo do Ministério Público. O resto é simplesmente uma pouca-vergonha, eu vou repetir: é uma pouca-vergonha”, afirmou.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) esclareceu que a averiguação preventiva relacionada com a empresa Spinumviva está em curso e o Ministério Público aguarda ainda documentação, pelo que a averiguação continua.

"Não há, assim, neste momento, qualquer convicção formada que permita encerrar a referida averiguação preventiva nem nada foi proposto ao Procurador-Geral da República neste domínio", refere um comunicado da PGR.

Montenegro disse que não será ele “a quebrar a relação de lealdade entre todos os intervenientes processuais”, mantendo-se disponível “para prestar todos os esclarecimentos”.

“É mesmo muito revoltante que se lancem mais uma vez insinuações, suspeitas, absolutamente infundadas”, disse, dando como exemplo as referências às suas férias no Brasil com a sua família.

Sobre este tema, o líder do executivo PSD/CDS-PP afirmou que “não foi recebido um cêntimo de ninguém” que não fosse do seu bolso e da sua mulher, que o acompanhou neste dia de campanha.

“Era o que me faltava que, por alguma razão, se estivesse a lançar esta nuvem”, disse.

Luís Montenegro disse assistir a “manobras obscuras” sem “perceber de onde vêm”, mas com a convicção de que haverá um momento “em que tudo poderá ser clarificado”-

“Todos iremos concluir que a democracia tem vulnerabilidades, tem fragilidades, e esta é uma delas, a de se lançarem atoardas, suspeitas, insinuações, não identificadas”, afirmou, dizendo referir-se quer às que originam os processos em curso no Ministério Público, quer as “passadas à imprensa”.

Montenegro terminou a sua declaração – sem responder às perguntas que os jornalistas ainda colocaram – com uma mensagem “às portuguesas e aos portugueses”.

“Não me intimidam, continuarei a fazer o meu trabalho como presidente de um partido, como primeiro-ministro, a olhar para o futuro de todos nós”, afirmou.

No final de setembro, o Procurador-geral da República (PGR) afirmou que o Ministério Público pediu mais documentação ao primeiro-ministro para poder finalizar a averiguação preventiva sobre os negócios da sua empresa familiar Spinumviva, caso na origem da demissão do primeiro executivo que liderou, em março do ano passado.

 

Lusa