A obra, uma longa entrevista da jornalista Dora Santos Rosa a Joaquim Letria, de 70 anos, ex-jornalista em vários órgãos de comunicação social, nacionais e estrangeiros, é apresentada na quinta-feira, às 18:30, pelo escritor e ex-jornalista António Mega Ferreira, no restaurante do El Corte Inglés, em Lisboa.
O livro, editado pela Âncora, conta com uma "nota prévia" de Ramalho Eanes, em que afirma que "cedo" começou a admirar "e apreciar o caráter e o profissionalismo imaginativo e competente de Joaquim Letria, ao ponto de o considerar indispensável à nova RTP", referindo-se ao período em que o militar liderou a estação pública, logo após a Revolução dos Cravos.
Depois deste período, afirma Eanes que "não mais quis perder de vista Joaquim Letria", e recorda quando, na qualidade de diretor de O Jornal, Letria o visitou nos Comandos da Amadora, a 25 de novembro de 1975.
"Foi o meu respeito por Joaquim Letria que me levaria também a consultá-lo quando fui pressionado a candidatar-me à Presidência da República", recorda o general a quem, na altura, o jornalista disse "que devia" fazê-lo.
Eleito em 1976, Eanes convidou Joaquim Letria para seu porta voz, o que o jornalista aceitou, "para ver 'por dentro' como funcionava o poder", afirma Eanes, afirmação que, mais adiante, o próprio Letria corrobora.
Além do testemunho de Eanes, a obra inclui, a abrir, um texto do escritor Fernando Dacosta, no qual dá conta que Letria pertenceu a um grupo de "notáveis" da imprensa, ao qual associa, entre outros, Baptista-Bastos, Urbano Tavares Rodrigues e Mário Ventura Henriques.
O escritor refere o percurso profissional de Letria, desde a revista Flama até à BBC, onde se conheceram, sem esquecer o Diário de Lisboa, por onde também passaram.
Sobre Letria, Dacosta destaca "o seu talento, a sua comunicabilidade, a sua inteligência [e] a sua sedução".
"Letria impõe-separa sempre como um dos mais completos, sofisticados e cultos jornalistas portugueses", escreve Dacosta, que o coloca numa "plêiade de repórteres e cronistas que deixa ângulos de oiro na nossa cultura".
"Gerações de nós foram tocadas, melhoradas por ele", remata o escritor.
Entre outros órgãos, Joaquim Letria fez parte da ANOP, antecessora da atual agência de notícias Lusa, da RTP, da Associated Press, da RDP e do Diário Popular - neste último, recorda, quando entrou, ainda se escrevia com canetas de aparo e tinteiro.
Além de O Jornal, do qual integrou o grupo fundador, Joaquim Letria criou e dirigiu o semanário Tal&Qual, depois de terminadas as emissões do programa homónimo, na RTP. Em 1988, assumiu a direção da anterior revista Sábado, que foi publicada até 1993.
No jornalismo, conta Letria, começou no Diário de Lisboa como telefonista, ganhando 50 escudos por dia, quando o vespertino tinha por diretor-adjunto Mário Neves, o jornalista português que fez a cobertura da Guerra Civil de Espanha no terreno. Joaquim Letria passou depois para a redação. A sua primeira reportagem foi um incêndio na avenida Duque de Loulé.
Sobre os jornalistas, hoje, Joaquim Letria afirma que têm "de saber contar histórias, verídicas". "E, ao contar uma história, o jornalista tem de saber atrair o leitor, interessá-lo, mas dar-lhe a conhecer os factos com rigor".
Por: Lusa