No passado dia 14 de janeiro, o público que esgotou o Cine-Teatro Louletano presenciou um encontro singular, inédito e surpreendente entre Maria João, nome incontornável do jazz e da música improvisada, e o coletivo Moçoilas, trio composto por Margarida Guerreiro, Inês Rosa e Teresa Silva, o qual acabou por ser verdadeiramente marcante para todos os que estiveram na sala (artistas e público).

A partir de uma encomenda feita pelo Cine-Teatro no âmbito do ciclo musical “O Longe é Aqui” (o qual, desde 2016, pretende valorizar e estimular/promover encontros entre músicos locais e reconhecidas figuras do panorama nacional), Maria João juntou-se às Moçoilas para a criação de um espetáculo novo, isto após ensaios em Lisboa e uma residência artística de 4 dias no Cine-Teatro antes do concerto.

Sob a direção musical e com arranjos do reconhecido João Frade (acordeão) e de João Farinha (teclados), e ainda com a participação do inspirador e multifacetado percussionista Quiné Teles, o alinhamento do concerto teve uma dinâmica muito contagiante e, apesar de quase duas horas de concerto, na verdade não se sentiu o tempo a passar. Destacaram-se vários momentos de feliz fusão musical em que o universo jazzístico, as sonoridades ligadas à world music (Brasil, África) e composições originais de Maria João se uniram às canções tradicionais de matriz mediterrânica do repertório das Moçoilas, em temas como “Arrimadinha”, “Corridinho”, “Luizinha”, “Romance da Dona Mariana”, “Qu’é que tens a ver com isso?”, “Amores” ou “Tenho tosse no cabelo”, criando momentos de grande inventividade e qualidade artísticas.

Para além da dimensão artística, a cumplicidade humana patente entre Maria João e as Moçoilas (que nunca tinham estado juntas a trabalhar) foi outro ingrediente que tornou este espetáculo tão especial, ao ponto de Maria João se emocionar claramente em vários momentos do concerto e abraçado inclusive em palco o trio de mulheres do sul. No rescaldo do concerto, na sua página de facebook Maria João descreveria assim a experiência em Loulé: “Não consigo explicar bem como foi. A música, ah, a música une todos, salva tudo, cura tudo, faz bem a todos. Foi uma maravilha, uma maravilha. Sou uma privilegiada, essa é que é essa.” Já antes, no concerto, Maria João tinha confessado em palco: “Quando se tem música dentro, seja em que universo for, as coisas acontecem.”

Durante o espetáculo o público aplaudiu efusivamente cada tema e no final rendeu-se e ovacionou de pé os artistas, tendo ainda havido um inevitável encore. Este inesperado cruzamento de latitudes e influências musicais foi, de resto, intensamente comentado de imediato nas redes sociais, frisando-se sobretudo a surpreendente fusão e o casamento feliz entre duas linguagens (aparentemente) tão diferentes.

No âmbito da sua estratégia programática, o Cine-Teatro Louletano irá continuar a apresentar espetáculos inéditos nesta linha, sendo os próximos a 6 de maio (com César Matoso e a Ronda dos Quatro Caminhos, acompanhados de um ensemble de cordas e de um coro alentejano, e ainda com o guitarrista convidado Ricardo J. Martins) e a 22 de junho (com o jovem quarteirense Bertílio Santos e Aurea).

 

Por: CM Loulé