Inquérito analisa visão dos portugueses sobre a depressão

40,7% dos portugueses assume que não tem o hábito de falar com o seu médico de família sobre a sua saúde mental. Um valor que sobe para os 52,3%, entre os inquiridos dos 18 aos 24 anos. Já os indivíduos entre os 45-54 são os que mais assumem falar destas questões com o médico de família (50,2%). Um comportamento revelado pelas conclusões do inquérito “a visão dos portugueses sobre a depressão” e divulgado agora no âmbito do Dia Mundial do Médico de Família que se assinala esta sexta-feira, 19 de maio.

Quando questionados sobre qual o profissional de saúde que deverá ter um papel mais ativo no tratamento da depressão, os portugueses não têm dúvidas em afirmar que deverá ser o médico psiquiatra (93,7%) e em segundo lugar colocam os cuidados de saúde primários (60% - um valor que diminui para 48,6% na faixa dos 18 aos 24 anos).

Tendo em conta os resultados agora lançados, Nuno Florêncio, médico de Medicina Geral e Familiar e coordenador do Grupo de Estudos de Saúde Mental da APMGF (Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar), realça que “existem ainda diversos preconceitos sociais profundamente instalados sobre a depressão e que podem inibir a pessoa de procurar ajuda: que é sinal de fraqueza ou menos valia, que é preguiça, que melhorar depende só da vontade dos doentes ou que a depressão é uma doença “para a vida”. Na minha experiência clínica, tenho encontrado pessoas com depressão especialmente inteligentes e capazes, mas que estão doentes.”

Nesse sentido, sublinha ainda a importância que o médico de família tem no primeiro contacto do doente que manifesta estar com sinais de depressão e como proporcionar o primeiro encaminhamento para o profissional de saúde adequado: “O médico de família acompanha e conhece o historial médico da pessoa ao longo das várias fases da vida, tratando a pessoa como um todo, sem separar saúde física e saúde mental. Esta perspetiva é única entre as várias especialidades médicas e, particularmente, importante no diagnóstico e tratamento da depressão. Por um lado, existem doentes deprimidos com episódios recorrentes e incapacitantes de tristeza, desânimo, ausência de energia e sentimentos de culpa, por outro, há doentes cujo único sintoma é falta de prazer na vida ou desmotivação total com os estudos ou queixas físicas como cansaço, dificuldades de concentração, variações de peso ou falta de líbido. Como a depressão se manifesta habitualmente com sintomas emocionais, físicos e cognitivos, o médico de família pode solicitar exames para tratar ou excluir doenças físicas (anemias, alterações hormonais, entre outros). Trabalha também em rede com outros profissionais e pode referenciar casos mais complexos para serviços de saúde mental hospitalares. É por isso cada vez mais importante combater estigmas e preconceitos para que todos os doentes tenham um acompanhamento cada vez mais eficaz e retomem a sua qualidade de vida.”

Na análise por região, o Algarve é a região do país que mais importância dá ao acompanhamento pelo “médico de família” (70,8%) e o Alentejo a que menos dá (46,3%).

Neste mesmo inquérito, seis em cada 10 portugueses afirmam que já se sentiram com sinais de depressão, três já foram diagnosticados com esta doença e quase oito conhece um familiar ou amigo a quem foi diagnosticada a doença. Os dados divulgados revelaram ainda que os portugueses não têm dúvidas de que a depressão é uma doença (86,2%), embora considerem que não é particularmente valorizada pela sociedade (70,9%). Um número significativo acha que é uma doença que fica para toda a vida (29%) e, ainda pensam, que é apenas um estado de espírito (28,5%).

O inquérito “a visão dos portugueses sobre a depressão” foi promovido pela Lundbeck Portugal e envolveu um total de 1.215 inquiridos, telefonicamente, entre os dias 27 de setembro e 3 de outubro de 2022. Todos os indivíduos inquiridos são maiores de idade e residem em território nacional. A margem de erro do estudo é de 2,81% para um intervalo de confiança de 95%.

 

Depressão

A depressão é um dos problemas de saúde mental mais comum, sendo que 1 em cada 4 pessoas vão sofrer de depressão em qualquer ponto das suas vidas. Afeta cerca de 350 milhões de pessoas no mundo, e Portugal destaca-se como um dos países da Europa com maior prevalência de doenças psiquiátricas: cerca de 700 mil pessoas vivem com sintomas depressivos.

Trata-se de uma doença com uma importante desregulação neuroquímica que resulta de fatores biológicos, e de stress ambiental, nomeadamente stress do dia-a-dia. Existe um grande leque de sintomas que variam no tipo, duração, número e gravidade, afetando cada pessoa de maneira diferente. Podem ocorrer com ou sem qualquer causa óbvia e, muitas vezes, sem que o doente de aperceba dos mesmos, até sentir que é um sofrimento que perdura e começa a ter impacto no seu quotidiano.

A prevalência da depressão tem registado um crescimento contínuo nas últimas décadas, mas ainda é uma das doenças mais incompreendidas e estigmatizadas pela sociedade:  amigos, familiares, meio laboral, sociedade no geral e, muitas vezes, pelo próprio doente.