Pessoas até aos 35 anos passaram a ter o maior peso na procura de crédito habitação em 2024, revela relatório do idealista.
Há cada vez mais jovens a procurar casas para comprar com os novos apoios públicos anunciados, desde a isenção de IMT e Imposto de Selo (IS) à garantia pública. E tudo isto tem reflexo no mercado de crédito habitação português: quase metade dos pedidos de empréstimos para comprar casa registados ao longo de 2024 foram realizados por jovens até aos 35 anos. No entanto, apesar de muitas pessoas desta franja etária apresentarem uma situação de emprego estável, possuem baixos salários, um fator que trava a formalização de novos financiamentos para ter uma habitação própria.
O mercado hipotecário assistiu a várias mudanças no último ano. Por um lado, 2024 ficou marcado por uma descida dos juros no crédito habitação, com as taxas Euribor a rondar os 2,5% em dezembro e o crescimento da oferta de taxas mistas mais acessíveis. E em paralelo, chegaram também novos apoios públicos para incentivar os jovens a comprar casa, como foi o caso da isenção de IMT e IS, bem como da garantia pública, que têm impacto direto nos pedidos de empréstimos habitação.
"As medidas de vantagens fiscais e o financiamento a 100% geraram uma maior procura de crédito por parte desta faixa etária [jovem]", Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação
Todos estes fatores acabaram assim por estimular a procura por crédito habitação e ainda por moldar o perfil de quem pondera comprar casa com recurso a financiamento bancário. Como resultado, a procura por novos financiamentos cresceu entre os jovens até aos 35 anos passando a representar quase metade (48,1%, mais 9 pontos percentuais face a 2023), e em sentido inverso, o interesse das famílias acima desta idade acabou por ser menos expressivo face ao total de pedidos registados em 2024, revelam os dados do relatório anual do idealista/créditohabitação.
Aliás, os jovens entre os 25 e 35 anos passaram ter o maior peso no total de pedidos realizados no ano passado (39%), tendo, assim, ultrapassado os proponentes com idades entre os 35 e 45 anos, a faixa etária que um ano antes representava a fatia mais expressiva de pedidos de empréstimos para comprar casa (41,7% do total).
"Como a necessidade de aforro é uma das dificuldades dos jovens no acesso à compra de habitação, as medidas de vantagens fiscais e o financiamento a 100% geraram uma maior procura de crédito por parte desta faixa etária", confirma Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal.
O que se sente é que estas medidas promoveram, sobretudo, a procura de crédito habitação por jovens entre os 25 e os 35 anos com baixos salários (rendimentos médios brutos até 2.000 euros por família) e, por isso, com percentagem de endividamento média mais elevada (de 35%). Isto apesar de a sua grande maioria ter um contrato de trabalho permanente e, portanto, uma situação laboral estável.
Jovens com baixos salários procuram muito, mas contratam menos
“Muitos jovens procuraram apenas esclarecimento relativamente ao impacto das novas medidas", explica o especialista. Esta realidade fica bem visível ao analisar as escrituras de crédito habitação realizadas ao longo de 2024: apesar de ter crescido ligeiramente, só 4 em cada 10 contratos foram selados por jovens até aos 35 anos. Ou seja, as medidas do Governo da AD incentivaram os jovens a procurar empréstimos para comprar casa, mas são bem menos aqueles que finalizaram o processo de contratação, pelo menos, durante o ano passado.
Além disso, boa parte das famílias jovens entre os 25 e 35 anos, que chegaram a formalizar o crédito habitação, tem salários intermédios (entre 2.000 e 4.000 euros brutos) e, por isso, percentagens de endividamento que pesam menos nos seus rendimentos familiares brutos (25%).
Embora com grande distância face à proporção da procura, os dados revelam que um em cada cinco contratos foram fechados por famílias jovens com salários mais baixos (até 2.000 euros brutos mensais). Nestes casos, a prestação da casa pesa cerca de um terço no rendimento familiar.
Os dados do relatório analisado pelo idealista/news sugerem, assim, que há muitos jovens com baixos salários a ter vontade de comprar casa com financiamento bancário, mas são poucos aqueles que chegam mesmo a avançar, seja devido às altas taxas de esforço, seja pelos elevados preços das casas em determinadas zonas do país (Lisboa, Porto e suas periferias, a par do litoral) - preços que tendem ainda a subir ao longo de 2025 se estes incentivos à procura de casa não foram acompanhados de nova oferta habitacional.
A impactar a formalização dos créditos habitação até ao final de 2024 está sobretudo a isenção de IMT e IS e a descida dos juros. Aliás, os dados mais recentes do Governo indicam que mais de 16 mil jovens já beneficiaram da isenção total ou parcial destes impostos, representando uma poupança de 62 milhões de euros.
Já a garantia pública - que permite aceder a financiamentos bancários a 100% - poderá ter influenciado apenas a procura de empréstimos da casa, mas não a sua contratualização, uma vez que só ficou operacional no início de 2025. E estará a ter sucesso, uma vez que já há milhares de pedidos nos bancos com garantia do Estado e escrituras a avançar.
Mas, enquanto a isenção de IMT gera uma poupança imediata no pagamento de impostos, a garantia pública requer “uma maior percentagem de financiamento que resulta num incremento na prestação do crédito habitação e, por sua vez, numa maior necessidade de rendimento líquido mensal para fazer face ao serviço da dívida", alerta o especialista.
Outro fator que também poderá influenciar a procura de crédito da casa em 2025 são as novas regras do IRS Jovem, uma medida que já está em vigor e que dá descontos do imposto nos salários de quem tem até 35 anos, sendo cada vez menores consoante aumentam os anos de trabalho, tal como explicamos aqui. Com esta redução do imposto, os jovens vão ganhar poder de compra e terão maior capacidade de poupança, dando-lhes um novo estímulo à compra de casa com recurso ao empréstimo habitação.
Idealista News