André Magrinho, Professor Universitário, Doutorado em Gestão | andre.magrinho54@gmail.com
Existe, compreensivelmente, relutância em falar na bondade do investimento na defesa. Mas. o mundo é o que é, e não o que gostaríamos que fosse. Por muito que nos custe, são as grandes potências, com poder militar e capacidade de dissuasão que, em última instância, ditam as regras, como se viu com a invasão da Ucrânia. Vem, a este propósito, o programa europeu “Rearmar Europa/Prontidão 2030” (ReArm), recentemente apresentado, que é uma iniciativa da União Europeia, que surge num contexto de crescente instabilidade geopolítica, nomeadamente a guerra na Ucrânia, que evidenciou a necessidade de reforçar a sua capacidade de defesa, obrigando a fortalecer a indústria de defesa europeia e aumentar a capacidade de defesa dos seus Estados-Membros. São objetivos estratégicos: garantir o aprovisionamento de equipamentos de defesa, para assegurar que os Estados-Membros da UE tenham acesso aos equipamentos de defesa de que necessitam para proteger a sua segurança; aumentar o investimento em defesa, mobilizando mais recursos financeiros para a indústria de defesa, tanto do setor público como do privado; reforçar a cooperação industrial, procurando promover a colaboração entre as empresas de defesa europeias, a fim de desenvolver projetos conjuntos e aumentar a eficiência da produção; Inovar e desenvolver tecnologias de defesa, apoiando a investigação e o desenvolvimento de novas tecnologias de defesa, muitas delas de duplo uso, para garantir que a Europa se mantenha na vanguarda da inovação.
O plano “Rearmar a Europa” prevê a mobilização de cerca de, 800 mil milhões de euros, durante um período de 4 anos. Para isso, está prevista a flexibilização das regras de auxílio estatal para permitir que os Estados-Membros invistam mais na indústria de defesa, assim como a mobilização de capital privado, atraindo investimento privado para a indústria de defesa, através de instrumentos financeiros inovadores. Uma componente do financiamento poderá passar pela mutualização de dívida europeia.
O investimento previsto pode ter um impacto positivo em várias áreas: industrialização, na medida em que exige uma vasta gama de produtos e serviços, desde armamentos até tecnologias avançadas, muitos deles de duplo uso, criando uma cadeia de fornecimento robusta e diversificada; inovação, pois, historicamente, o setor da defesa tem sido um dos maiores impulsionadores da inovação tecnológica, podendo levar a descobertas que beneficiam outros setores, como a saúde, a comunicação e a energia; desenvolvimento tecnológico, dado que a colaboração entre as Forças Armadas, a academia e a indústria é fundamental para o desenvolvimento de tecnologias críticas, podendo resultar em avanços significativos em áreas como materiais, propulsão, controle e comunicações. Além disso, o fortalecimento da Base Industrial de Defesa (BID) deve reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros, aumentando o grau de autossuficiência tecnológica e a segurança estratégica. Significa também investir na economia da defesa para melhor defender a economia.