“Esta decisão resulta de uma profunda reflexão e do acumular de situações que considero incompatíveis com os princípios éticos, democráticos e programáticos que devem nortear a atuação de qualquer partido político”, afirma Ana Poeta no pedido de desfiliação, “com efeitos imediatos”, a que a Agência Lusa teve acesso.
Ana Poeta foi durante algumas semanas líder do PAN/Algarve em 2022, antes de se demitir das funções que tinha ocupado em eleições que a opuseram, na altura, ao atual dirigente na região, Saul Rosa.
A ex-militante do PAN é desde 2021 deputada deste partido na Assembleia Municipal de Loulé, não tendo sido agora uma opção da formação para encabeçar a lista ao concelho.
Ana Poeta também foi cabeça de lista no Algarve às eleições legislativas de 2021.
Em declarações à Lusa, Saul Rosa referiu que houve uma reunião com Ana Poeta para discutir a sua inclusão na lista para a Câmara de Loulé nas autárquicas de 12 de outubro, embora não fosse opção para ser cabeça de lista.
Entre as principais razões que motivam agora a decisão de se desfiliar estão aquilo a que a ex-militante chama de “irregularidades” no processo eleitoral interno no Algarve.
Segundo Ana Poeta, em outubro de 2022, durante o processo eleitoral para a Comissão Política Distrital do PAN Algarve, foi feito o uso indevido de dados pessoais de filiados, acesso ilegítimo a meios de comunicação oficiais e usurpação de funções de comissários.
“Estas denúncias foram reportadas, mas ignoradas pelas instâncias nacionais, revelando uma preocupante conivência institucional”, afirma Ana Poeta.
A ex-militante também denuncia o “ambiente interno hostil e discriminatório”, com “exclusão ativa” de membros com opiniões críticas ou apenas divergentes.
“Verifiquei pessoalmente a existência de perseguições internas e tentativas sistemáticas de silenciar vozes dissidentes, o que contraria frontalmente os valores de inclusão e transparência que o PAN afirma defender”, acusa.
Ana Poeta critica ainda a recusa do PAN em apoiar uma “coligação progressista” em Loulé, com o Livre e o Bloco de Esquerda, que seria encabeçada por ela.
“O PAN Algarve rejeitou esta proposta, alegando uma vaga e abstrata falta de confiança política, pelo simples facto de eu ter integrado listas de oposição interna”, afirma Ana Poeta no documento.
A ex-militante critica também a coligação “incoerente” e “incompreensível” do PAN em Faro nas autárquicas de 12 de outubro em que o partido corre associado ao PSD, ao CDS-PP, à Iniciativa Liberal e ao Partido da Terra (MPT).
Nos últimos meses, pelo menos seis dirigentes do PAN apresentaram a sua demissão e alguns desfiliaram-se mesmo do partido.
Lusa