Hélder Martins foi eleito, a janeiro de 2022, Presidente da AHETA - Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) para o triénio 2022 – 2024. Nesta entrevista, faz o balanço dos primeiros meses à frente da Associação, os seus objetivos iniciais e como está a ser lidar com a pandemia da covid-19 e a Guerra na Ucrânia.

A Voz do Algarve (V.A.) - Quando concorreu a presidente da AHETA, tinha como lema “Por uma AHETA abrangente e renovada”. Na altura, contou com vários nomes ilustres do turismo regional e nacional, entre eles, André Jordan. Como conseguiu reunir numa lista, pessoas de diferentes áreas e destaque?

Hélder Martins (H.M.) - Eu estava há oito anos afastado desta área, quando recebi um telefonema a sugerir que eu fosse o nome principal desta lista. Estive a pensar cerca de duas horas, quando decidi aceitar o convite e deixei o meu hotel rural a cargo da minha filha. Tinha de fazer esta escolha, porque a AHETA exige muito do meu tempo e não dava para conciliar ambas as atividades. Sobre a questão dos nomes ilustres na lista, as condições que coloquei para aceitar, foi criar uma lista inclusiva com grandes empresários, mas também com empresários individuais. Foi uma campanha dura e difícil, mas a transição ocorreu de forma calma, apesar de não ter existido passagem de pasta, nem nenhuma conversa.

 

V.A. - Como é que sua experiência na RTA – Região Turismo do Algarve contribui para ser Presidente de uma Associação como a AHETA?

H.M. -  Digamos que é semelhante, mas a AHETA não tem tanta burocracia. A questão dos contactos, assim como a relação com as pessoas do Turismo de Portugal, permite uma facilidade na abordagem. Costumo dizer que a minha passagem na RTA foi uma das experiências mais bonitas que já tive, a par da minha passagem pela Junta de Freguesia de Querença, há 32 anos. A RTA tem a ver com tudo o que diz respeito ao Algarve e não há nada que me dê mais gozo do que promover a região fora do país. Tal como na RTA, procuro na AHETA estar ao máximo em todo o lado. Quando se têm este tipo de funções, ou se faz por gosto ou não se faz. A AHETA será o meu último projeto, provavelmente, devido à minha idade - tenho 64 anos e aproxima-se a idade da reforma.

 

“Tal como na RTA, procuro na AHETA estar ao máximo em todo o lado. Quando se têm este tipo de funções, ou se faz por gosto ou não se faz.”

 

V.A. – Durante vários anos, a AHETA manteve-se com o mesmo Presidente. Como será agora o funcionamento da Associação? Existirá uma redução de mandados? Quais são os planos para os próximos três anos?

H.M. - O anterior Presidente esteve cerca de 27 anos no cargo, mas isso não vai acontecer com mais ninguém, porque em breve faremos uma Assembleia Geral de modo a limitar o número de mandados. É esse um dos nossos objetivos e, foi isso, que prometemos aos associados. Se pensarmos, na Presidência da República ou numa Câmara Municipal, existe um limite de mandados, na AHETA também queremos que isso aconteça. Temos, para já, estipulado a existência de três mandatos, ou seja, 9 anos.

Os nossos planos passam por conferir à AHETA uma dinâmica maior, porque quando as pessoas ficam muitos anos no mesmo lugar, há uma acomodação normal. Estamos a fazer alguma modernização e a focar na recuperação de algumas questões que ficaram pendentes por causa da pandemia. Para além disso, queremos aumentar o número de associados e dar-lhes mais condições – isso tem sido o foco principal desde que assumi a presidência. Estamos a criar um pacote de regalias para os associados, para que a população perceba que ser associado da AHETA tem vantagens. Por exemplo, o serviço que tem mais solicitações na AHETA é o de aconselhamento jurídico, onde através de um e-mail os associados podem ter acesso a respostas rápidas por parte de um consultor jurídico. Se não fossem associados da AHETA, obviamente esse serviço teria um custo maior ao final do ano. Queremos ainda dar mais representatividade à AHETA e aumentar o número de entidades com as quais trabalhamos.

 

V.A. – Quando refere que quer uma AHETA mais modernizada, estamos a falar também de alguma mudança a nível de edifício?

H.M. - Sim. O edifício da AHETA tem uma área de cerca de 2.000 m2 e foi pensado para ser inteligente - apesar de hoje o ser menos devido à evolução da tecnologia nos últimos anos. Estamos a preparar o jardim e a orçamentar as palas do edifício, que não abrem desde 2016 por uma questão técnica. O objetivo é conferir luz natural aos gabinetes do primeiro andar. Este edifício foi feito há 16 anos com muita criatividade, mas queremos torná-lo mais eficiente com a colocação de painéis solares e também dar-lhe mais potencialidade em termos de acesso à internet.

Quando refiro a modernização da AHETA, estou também a falar da presença online. Já criámos Facebook e Linkedin para a Associação, porque entendemos que esta é uma forma de divulgar também os associados. Queremos ainda facilitar o acesso ao nosso site.

 

V.A. - Existe também o objetivo de fazer um Congresso anual e transformar a AHETA numa entidade formadora. É a primeira vez que a Associação participará neste tipo de iniciativas?

H.M. - Sim, é a primeira vez que fazemos este tipo de Congressos. Queremos fazê-los de forma bianual, até porque no período do final do ano, há dois eventos que toda a gente participa: o Congresso da Associação de Hotéis de Portugal e o Congresso Nacional da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT). Queremos fazer um evento onde seja possível trazer um conjunto de pensadores do turismo e onde seja possível discutir o seu futuro na ótica do Algarve. Em termos de formação, já estabelecemos contacto com a Diretora Regional do Instituto de Emprego, manifestando a intenção de termos um porta-voz junto das empresas para trazer formação. A partir de outubro, queremos ter soluções para que os empresários possam dar formação aos seus empregados com a garantia de que isso ajude a resolver a questão das horas de formação obrigatórias e, simultaneamente, que isso não tenha custos para os associados.

 

V.A. - Quais são as vantagens das empresas em serem associadas da AHETA?

H.M. - Os sócios podem usufruir de benefícios junto de diferentes entidades, como fornecedores ou outras entidades oficiais. Por exemplo, recentemente, houve uma questão relacionada com a recolha de lixo nas unidades hoteleiras, em que os nossos associados pediram ajuda e nós enquanto Associação ajudámos a resolver esse problema, apresentando soluções para cada empresa. Além disso, temos um gabinete jurídico, que presta auxílio na resolução das questões mais legais de cada empresa, assim como as suas dúvidas – reduzindo os custos desse serviço, como já referi. A AHETA tem ainda um contrato coletivo de trabalho, que define regras, como a questão salarial e os direitos e deveres das empresas e funcionários. Fazemos ainda parte da Confederação do Turismo, mais uma vantagem para as empresas associadas.

 

V.A. – O Algarve é uma região que vive muito do verão. Contudo, nos últimos anos tem-se feito um esforço para criar medidas, eventos e atividades de inverno. Enquanto Associação, o que tem feito a AHETA para diminuir a sazonalidade?

H.M. - O que contribui para a sazonalidade, são os eventos na área do desporto, o golfe e os Congressos que se realizam nessa altura do ano. Os Congressos, por exemplo, são uma boa oportunidade para quebrar a sazonalidade. O Algarve não tem um grande pavilhão de Congressos, mas tem algumas unidades de boa capacidade para a realização destes eventos – os Salgados e o Vilamoura Marina Hotel, por exemplo. Estes eventos seriam capazes de atrair mais visitantes e quebrar um pouco a sazonalidade. No inverno, existem eventos de caminhadas, turismo ativo, turismo de natureza e turismo cultural e sénior, que a região deve começar a apostar com cada vez mais frequência. 

 

“Neste momento, perdemos a exclusividade de uma Secretaria de Estado para o Turismo... continua felizmente a Drª Rita Marques, mas agora não está só preocupada com o Turismo, porque tem ainda a seu cargo o Comércio e os Serviços, o que não é positivo. Mas temos de esperar.” 

 

Esta questão da diminuição da sazonalidade, poderia resolver a questão dos empregos, uma vez que não é “apelativo” para todos os funcionários, trabalharem entre 7 a 9 meses na época alta e ficarem depois desempregados. Tal como na Espanha, por exemplo, poderíamos adotar um sistema em que os trabalhadores ficam na empresa nas épocas baixas de trabalho e estão a receber formação. Desta forma, iríamos fixar as pessoas, dando-lhes uma perspetiva de carreira e segurança a nível laboral.

 

V.A. – A Guerra da Ucrânia despoletou uma onda de solidariedade a nível mundial. Em Portugal, foram feitas várias ações solidárias, em especial no Algarve. O que fez ou está a fazer a AHETA para prestar apoio aos refugiados?

H.M. – Enquanto Associação que se preocupa com as pessoas, a AHETA entrou também na onda de solidariedade com a Ucrânia. Fomos convidados a integrar uma plataforma que tem a ver com a chegada dos refugiados, a sua legalização e a sua entrada no mercado de trabalho. O que fizemos foi pedir aos associados para preencherem uma ficha com aquilo que eram as suas necessidades a nível de mão de obra e o que tinham disponível para oferecer em termos de recursos, como bens alimentares, alojamento e apoio a crianças. Não temos ainda dados acerca de quantas pessoas foram contratadas, uma vez que esse processo foi conduzido pela Segurança Social. Participamos ainda em vários projetos de recolha de alimentos e recolha de equipamentos para mandar para a Ucrânia. Há muita solidariedade por parte dos empresários.

 

V.A. - A pandemia da covid-19 está ainda a ter um impacto negativo nas empresas, apesar da reabertura da economia. Como estão os associados da AHETA a viver este período?

H.M. - A AHETA perdeu, ao longo destes anos de pandemia, alguns associados e muitas empresas fecharam. Tivemos ainda associados a pedir um aumento de prazo para o pagamento das quotas, porque obviamente tinham de reduzir custos.

 

V.A. – Enquanto Presidente e representante da AHETA, o que tem a dizer sobre o novo Governo juntar o turismo com o Comércio e Serviços na mesma Secretaria de Estado?

H.M. – Primeiro é importante referir que, independentemente do partido que ganhe as eleições, um dos fatores que consideramos positivo foi a estabilidade de um Governo com maioria absoluta. Agora, a verdade é que quando vimos a orgânica do Governo, a nossa preocupação aumentou. Neste momento, perdemos a exclusividade de uma Secretaria de Estado para o Turismo e vamos ter um Ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva, cuja sensibilidade para o turismo não é conhecida. Quanto à Secretaria de Estado, continua felizmente a Rita Marques, mas agora não está só preocupada com o Turismo, porque tem ainda a seu cargo o Comércio e os Serviços, o que não é positivo. Mas temos de esperar. Da nossa parte, estaremos disponíveis para continuar a levar as preocupações do turismo avante.

 

Nathalie Dias