O PSD/Loulé já escolheu o seu candidato à Câmara Municipal de Loulé para as próximas eleições autárquicas.

Hélder Martins, antigo vice-presidente da autarquia e atual presidente da AHETA, foi a escolha unânime dos militantes do partido.

Nesta que é a sua primeira entrevista como candidato, Hélder Martins falou em exclusivo ao jornal A Voz do Algarve sobre as suas motivações, prioridades e visão para o concelho. Abordou os desafios que espera enfrentar e apresentou as suas propostas para o futuro de Loulé.

 

 

 

 

Entrevista com a Hélder Martins, candidato do PSD à Câmara Municipal de Loulé. Hélder Martins, licenciado em gestão turística, casado, pai de três filhas, reside há largos anos em Quarteira. Foi durante oito anos Presidente da Junta de Freguesia de Querença, terra de onde é natural.
Foi Vice-Presidente da Câmara Municipal de Loulé entre 2002 e 2003. Foi Presidente da Região de Turismo do Algarve entre 2003 e 2007. Desde 2022 é Presidente da AHETA, Associação de Hotéis e Estabelecimentos Turísticos do Algarve.
 
Voz do Algarve - Que balanço faz dos três mandatos socialistas à frente dos destinos do Concelho de Loulé?
Hélder Martins - O balanço que faço é, sobretudo, financeiro. A única coisa verdadeiramente significativa que se destaca é a conta bancária da Câmara, com dezenas de milhões de euros depositados, o que pode ser considerado um fator positivo. No entanto, em termos de desenvolvimento, não vejo um progresso concreto que permita afirmar que, ao longo destes doze anos, o Concelho de Loulé tenha assumido a sua verdadeira posição. Pelo contrário, considero que foram três mandatos perdidos para o concelho.
 
V.A. - Na sua opinião, quais são os principais problemas que Loulé enfrenta atualmente? Como pensa que poderiam ser resolvidos ou, pelo menos, minimizados?
H. M. - Um dos problemas mais graves é, sem dúvida, a habitação. A situação tornou-se caótica, porque, durante anos, o Estado e as Câmaras Municipais não cumpriram a sua responsabilidade de promover habitação acessível. Agora, quando finalmente despertaram para o problema, enfrentam dificuldades por falta de terrenos ou de condições para avançar com soluções eficazes. O resultado é que milhares de famílias continuam sem acesso a uma habitação condigna. Pessoalmente, nunca me sentiria um presidente realizado se tivesse 100 milhões de euros no banco, mas visse muitos dos meus concidadãos sem casa para viver.
Outro problema crítico é o estacionamento, que afeta gravemente o comércio tradicional em Loulé, Quarteira e Almancil. Comparando com outras zonas do Algarve, por exemplo, quem se desloca ao mercado de Loulé, um ícone da nossa terra, muitas vezes tem de deixar o carro a 500 ou 600 metros de distância. Esta falta de estacionamento prejudica a atratividade do comércio local e a dinamização da economia.
Fala-se muito em sustentabilidade, mas a verdade é que Loulé ocupa um preocupante quarto lugar a contar do fim entre os municípios com maiores perdas de água. Além disso, o concelho tem dois espaços naturais extraordinários no interior – a Rocha da Pena e a Fonte da Benémola – que mereciam uma gestão mais ativa. Nos últimos mandatos, no entanto, realizaram-se apenas uma ou duas reuniões de coordenação sobre esses territórios, e isso apenas porque os presidentes dessas freguesias pertencem a uma força política diferente do Executivo.
A par destes desafios, a segurança continua a ser uma preocupação, assim como a dificuldade de afirmar Loulé no contexto regional. Todos estes fatores acabam por travar a dinâmica do concelho e impedir o seu verdadeiro crescimento.
 
V.A. - Como planeia resolver a problemática da habitação no Concelho de Loulé?
H. M. - Em primeiro lugar, não repetirei a estratégia de comprar apartamentos isoladamente e instalar famílias carenciadas em locais onde poderiam ser vendidos imóveis de luxo. Isso é algo que nunca faria. A Câmara tem de assumir um papel central e estratégico na resolução deste problema.
E não estamos apenas a falar de famílias carenciadas – é também fundamental criar habitação acessível para classes profissionais como médicos, enfermeiros, professores e agentes de segurança. A Câmara deve garantir um parque habitacional que inclua estes grupos, pois são essenciais para a comunidade.
A realidade atual é preocupante, pois numa recente colocação no mercado de 117 fogos, registaram-se cerca de 1.900 candidaturas. Este número ilustra bem a dimensão do problema habitacional no concelho. No entanto, a solução não pode passar apenas pela habitação social e pelo arrendamento. É essencial investir também na habitação a custos controlados e na autoconstrução.
O meu objetivo é desenvolver pequenas zonas habitacionais em todas as freguesias, direcionadas não só para famílias mais carenciadas, mas também para a classe média. Hoje, um casal jovem com rendimentos entre 1.500 e 2.000 euros dificilmente consegue comprar um apartamento ou uma moradia. A Câmara deveria dar o exemplo, criando e aprovando áreas habitacionais, desenvolvendo as infraestruturas e disponibilizando projetos-tipo (T1, T2, T3), ao mesmo tempo que isenta os compradores do pagamento de licenças de construção e de IMI por um período de 15 a 20 anos. Assim, as famílias apenas teriam de suportar os custos da construção, tornando muito mais acessível o sonho da casa própria.
Obviamente, se essas famílias mais tarde quiserem vender a sua casa, deverão pagar os impostos correspondentes. Mas tudo isto deve ser regulamentado através de contratos bem definidos. Além disso, pretendo implementar um plano de reabilitação de habitações abandonadas no interior do concelho, oferecendo isenções fiscais totais a quem investir na recuperação desses imóveis.
No entanto, o foco principal deve estar nas freguesias de Loulé e do Litoral, onde a Câmara deve assumir o papel de maior promotora imobiliária durante os próximos quatro ou cinco anos, para dar resposta à necessidade urgente de cerca de 2.000 a 2.500 habitações.
 
V.A. - As casas de madeira tornaram-se uma realidade no concelho nos últimos anos. Como pretende lidar com esse problema?
H. M. - Acredito que, quando a história destes anos for escrita, muitos presidentes de Câmara serão responsabilizados pelo que permitiram que acontecesse. No caso de Loulé, não acredito nos números oficiais que apontam para 700 casas de madeira – penso que o número real é bastante superior. A verdade é que o concelho está a transformar-se numa autêntica favela.
Nas imediações de Vilamoura, onde se encontram propriedades de luxo avaliadas em 10, 15 ou 20 milhões de euros, multiplicam-se aldeamentos informais, sem condições mínimas de habitabilidade. E nem todas essas construções resultam de situações de necessidade – há um verdadeiro negócio instalado. Há quem lucre milhares de euros por mês sem pagar um único euro de impostos. 
A Câmara não tem como demolir essas habitações. Quem compra uma casa, mesmo irregular, já está consciente de que não será retirado. Basta apresentar uma providência cautelar, invocar a presença de crianças ou de uma grávida, e a ordem de despejo fica bloqueada. Este é um problema que se vai arrastar durante 15 ou 20 anos, porque a Câmara falhou desde o início ao não construir habitação para responder a estas necessidades.
Perante a pressão crescente, o Presidente da Câmara anunciou que irá demolir 24 destas habitações, mas duvido que uma única casa seja realmente removida.
 
V.A. - Como avalia a integração das comunidades estrangeiras em Loulé e que medidas propõe para melhorá-la?
H. M. - Os algarvios, e em particular os louletanos, sempre foram um povo acolhedor. Hoje, há várias comunidades estrangeiras a viver no concelho, com diferentes níveis de poder económico, e a verdade é que todas desempenham um papel essencial na sociedade local.
A discussão sobre a presença de imigrantes é inútil – sem eles, muitas atividades económicas do concelho e do país simplesmente parariam. 
Para mim, não há distinção entre um cidadão e outro – todos são bem-vindos, desde que respeitem as leis e as regras do país. A Câmara deve trabalhar diretamente com os representantes destas comunidades, garantindo que tanto os estrangeiros reformados que escolheram Loulé para viver como os jovens trabalhadores que aqui se fixaram sejam vistos como parte integrante da sociedade.
Num horizonte de 15 a 20 anos, acredito que o concelho poderá atingir os 100 mil residentes. A economia local continua a crescer, e Loulé é um local onde as pessoas querem viver. No entanto, sem uma revisão urgente do PDM, será impossível preparar o concelho para esse crescimento.
 
V.A. - Falando em PDM, quer comentar o caso do Centro Oncológico do Algarve?
H. M. - Se me perguntassem qual foi o maior erro deste mandato do Presidente da Câmara e do Executivo Socialista, eu apontaria este caso.
O Presidente da Câmara assinou um contrato de cedência de um terreno, acompanhado por responsáveis da área do urbanismo. Fizeram um grande evento com a presença do Ministro da Saúde, anunciando a criação do Centro Oncológico. No entanto, quando o projeto foi submetido à autarquia, verificou-se que o terreno não tinha aptidão para aquela finalidade, este foi o primeiro erro. 
O segundo erro foi a própria Câmara chumbar o projeto. Para mim, nesse momento, o Presidente da Câmara deveria ter apresentado a sua demissão – porque assumiu um compromisso público que depois se revelou inviável. Se estivesse no lugar do Presidente da Câmara, teria assumido a responsabilidade e demitindo-me imediatamente.
Agora, há que encontrar um novo local para o centro, mas, enquanto isso, os doentes oncológicos continuarão a ser obrigados a viajar para Sevilha, Lisboa ou outras cidades para receber tratamento.
 
V.A. - Sendo um homem com provas dadas no turismo algarvio, como pode o desenvolvimento do turismo, especialmente na cidade de Loulé, fortalecer a economia local e apoiar as pequenas e médias empresas?
H. M. - Acho que o meu primeiro objetivo será conseguir fixar em Loulé duas unidades hoteleiras. Uma unidade hoteleira de média dimensão, mas que tenha sempre um número de 50 quartos para ser viável, e outra que poderá ir até aos 80 ou 100 quartos. Com base em exemplos de outras cidades não turísticas do Algarve, a criação de uma unidade hoteleira fixa pessoas que lá trabalham, traz turistas durante todo o ano, que depois frequentam restaurantes, o comércio tradicional e dinamizam a cidade.
Esse é o primeiro objetivo para a cidade de Loulé. Por outro lado, a cidade de Loulé e o interior funcionam, atualmente, como dormitórios do litoral. A Câmara tem que promover um conjunto de acessibilidades, caso a empresa que ganhar o concurso dos transportes públicos não o fizer. Por exemplo, deve garantir transportes eficientes entre Salir e Vilamoura, Vale do Lobo e Quinta do Lago, pois muitas pessoas que moram nestas zonas deslocam-se diariamente, a acessibilidade dessas pessoas ao litoral, em transportes de preferência elétricos, será uma vantagem. 
Para além disso, ao contrário do que acontece hoje, em que a Câmara tem uma política do “não” – qualquer projeto que se apresenta recebe uma resposta negativa –, eu quero que a Câmara tenha um gabinete de apoio ao investidor e ao empresário. Esse gabinete será responsável por desafiar as pessoas a investir no concelho de Loulé. Esse investimento tem que ser equilibrado. A minha visão para o desenvolvimento do concelho remonta ao tempo de Joaquim Vairinhos, quando se lançou o conceito do Triângulo Dourado. Para mim, esse triângulo começa na Praia de Faro, no limite do concelho de Loulé, passa pela Marina de Vilamoura e termina no Ameixial. Esse é o verdadeiro Triângulo Dourado, e é nele que devemos investir. Isto não significa que eu defenda uma betonização do concelho, mas acredito que há casas muito bonitas no interior que podem ser convertidas em pequenas unidades de alojamento ou espaços comerciais, sem perder o seu caráter habitacional.
No litoral, não posso conceber que dentro da mesma freguesia, como Quarteira, haja uma zona para os ricos e outra para os restantes. O mesmo se aplica a Almancil. Na minha visão, a Inframoura, a Infralobo e a Infraquinta devem estender a sua atividade para tratar também das infraestruturas públicas em áreas não turísticas. Assim, poderemos ter um concelho onde a experiência urbana seja uniforme, independentemente de estarmos dentro de um empreendimento de luxo ou numa zona residencial comum.
Ainda falando do litoral, é lamentável que a zona mais cara do país, ou talvez da Europa, tenha acessibilidades tão deficientes. As pessoas vão para a Quinta do Lago passando por um Ludo, atravessando uma zona que ardeu e seguindo por um caminho agrícola. Ao chegarem ao hotel de cinco estrelas, onde podem pagar milhares de euros por dia, trazem consigo uma impressão negativa. Este cenário precisa urgentemente de ser alterado.
Em relação a Almancil, foi criada uma cidade apenas no nome, sem o devido planeamento para dotá-la das infraestruturas necessárias. Primeiro, deveríamos ter criado essas infraestruturas e, depois, oficializado a cidade. Além disso, é fundamental criar uma variante para Almancil e embelezá-la, para que quem está na Quinta do Lago não se sinta isolado numa bolha.
 
V.A. - Concorda com a aplicação da taxa turística no Algarve e, em particular, no concelho de Loulé? Como devem ser aplicadas essas receitas para o desenvolvimento e melhoria do turismo da região?
H. M. - Ainda bem que me faz essa pergunta, porque é a primeira vez que vou falar sobre o assunto. Em funções anteriores que desempenhei, estive envolvido neste processo desde o início, e não correu bem. Hoje, a taxa turística está implementada em vários municípios, e não vejo que haja um retrocesso nesse processo. O turista, por pagar um euro ou dois euros, não deixará de ir ao hotel. A questão central é: o que faz a Câmara com esse dinheiro?
O dinheiro da taxa turística não deve ser utilizado para financiar mais um concerto do Quim Barreiros ou do Tony Carreira. Na minha visão, pretendo criar uma associação de turismo do município de Loulé. Essa associação receberá parte da receita da taxa turística e será responsável por trabalhar a marca turística do concelho.
Além disso, essa verba deverá ser investida diretamente na melhoria do produto turístico. Atualmente, as rotundas da EN125 e outras vias do concelho de Loulé que não estão em zonas urbanizadas encontram-se ao abandono. Algumas até servem de pasto. Com este dinheiro, podemos melhorar a estética das vias, a sinalização e tratar dos espaços públicos.
Outro objetivo é reservar uma percentagem desse valor para contratos de promoção conjunta. Por exemplo, se um hotel ou empreendimento quiser promover-se no mercado do Reino Unido ou dos Estados Unidos, poderá contar com um apoio financeiro da entidade responsável pela gestão da taxa turística. Esse modelo já é praticado em Lisboa, mas, infelizmente, ainda não foi implementado em nenhum concelho do Algarve. Pretendemos mudar isso, sem aumentar o valor atualmente cobrado da taxa turística.
 
V.A. - Relativamente aos espetáculos de verão e aos apoios culturais, qual a sua opinião?
H. M. - Bom, é assim, temos de ter uma política cultural ao longo do ano e, em primeiro lugar, que não seja apenas focada na promoção de eventos e espetáculos alinhados com a extrema-esquerda, que foi o que se verificou nos últimos anos. 
Penso que devemos ter uma política cultural abrangente, que contemple tanto o interior como o litoral, com eventos de diversa qualidade, incluindo eventos de rua, sobretudo no verão. Infelizmente, o concelho, não dispõe de uma sala de espetáculos digna desse nome.
Atualmente, quando se realiza um espetáculo, que hoje em dia tem custos elevados, o espaço disponível não permite a sua rentabilização. Ou seja, são eventos em que a Câmara investe muitos milhares de euros para um público reduzido, de cerca de 200 pessoas, no CineTeatro Louletano. Isto leva-me a referir a promessa feita ao longo destes 12 anos, tanto pelo meu opositor, que foi adjunto do Presidente da Câmara durante esse período, como pelo próprio Executivo: a criação de um espaço cultural em Quarteira, com dignidade e capacidade. Nem sequer o projeto saiu do papel até agora.
A cultura não se resume apenas a espetáculos. A dinamização cultural direcionada aos turistas é uma marca importante, e pretendo utilizá-la para incentivar as pessoas a permanecerem mais tempo em Loulé, especialmente ao sábado. Além disso, o apoio à comunicação social e a eventos de diferentes dimensões deve estar na nossa estratégia.
Portanto, comigo, o orçamento da cultura será reforçado, mas para implementar uma política cultural transversal e não uma política sectária, como tem acontecido até agora.
 
V.A. - A Câmara Municipal de Loulé tem hoje mais de 2 mil funcionários distribuídos por dezenas de edifícios arrendados na cidade. Como pensa melhorar os serviços prestados aos munícipes?
H. M. - Confesso que, neste momento, não sei exatamente quantos funcionários a Câmara tem. Se ganhar as eleições, uma das primeiras questões que gostaria de esclarecer é precisamente essa.
A minha primeira preocupação nesta matéria será realizar um levantamento detalhado para identificar quem está ao serviço, onde está, o que faz e o que pode vir a fazer.
É importante sublinhar desde já que não pretendo chegar à Câmara e simplesmente reduzir ou eliminar postos de trabalho. Pelo contrário, quero integrar todos os funcionários, e acredito que, para a dinâmica que pretendo imprimir ao concelho, até poderão ser poucos. 
No primeiro mês de mandato, pretendo criar uma equipa de trabalho composta por técnicos de diferentes áreas, incluindo sociólogos, arquitetos, engenheiros e urbanistas, para estudar a localização do novo edifício da Câmara Municipal. O meu conceito passa por manter o Executivo e a Assembleia Municipal no atual edifício da Câmara, concentrando todos os serviços técnicos num único local.
Naturalmente, este é um projeto que não se concretiza num único mandato. O meu objetivo é que, ao final dos quatro anos, o projeto esteja aprovado, com financiamento garantido e um concurso pronto a ser lançado. Assim, no mandato seguinte, independentemente de quem esteja à frente da Câmara, poderá ser dada continuidade à sua execução.
Além disso, a Câmara libertará vários espaços que atualmente tem arrendados. Quero, no entanto, tranquilizar os senhorios, pois esses imóveis poderão ser facilmente absorvidos pelo mercado de arrendamento. Com as dinâmicas que pretendemos implementar, a procura por estes espaços irá manter-se, possivelmente com preços ainda mais atrativos do que aqueles que a Câmara paga hoje.
Resumindo, o objetivo é proporcionar melhores condições de trabalho para os funcionários da Câmara Municipal e um serviço de atendimento muito mais eficiente para os munícipes.
Por exemplo, uma das propostas que gostaria de concretizar é a criação de um espaço onde os funcionários da Câmara possam almoçar. Mas como será possível implementar essa ideia se os trabalhadores estão espalhados por inúmeros edifícios?
Uma diferença fundamental é que quero desenvolver este projeto com a colaboração de todos os vereadores da Câmara Municipal. Não será um projeto exclusivo do meu partido, ignorando por completo os contributos da oposição, como tem acontecido até agora. Esta é uma decisão estratégica para o concelho e deve ser amplamente debatida e consensualizada. Caso contrário, corremos o risco de um futuro presidente de Câmara descartar o projeto, desperdiçando tempo e recursos.
 
V.A. - Referiu há pouco que Loulé se tornou, ou está a tornar-se, uma cidade dormitório. Como pensa dinamizar o comércio local e a cidade de Loulé durante o fim de semana?
H. M. - Bom, essa é, de facto, a pergunta de um milhão de dólares. Acredito que podemos construir um projeto sólido para dar resposta a esse desafio.
Precisamos de valorizar as características distintivas de Loulé, Quarteira e até de Almancil e Boliqueime, criando espaços de proximidade que voltem a atrair as pessoas. Hoje em dia, habituámo-nos a fazer compras em centros comerciais, mas há algo que diferencia o comércio tradicional: a relação humana.
A diferença está na pessoa que nos atende do outro lado do balcão, que nos conhece, que pergunta pela família. Essa proximidade tem um valor inestimável e não existe noutros países.
O atual presidente da Câmara, quando tomou posse, afirmou ser contra a proliferação de grandes superfícies comerciais. No entanto, acabou por ser o autarca que mais aprovações concedeu a estas superfícies.
Curiosamente, essas aprovações eram feitas quando o presidente não comparecia nas reuniões da Câmara. Este tipo de conduta não é aceitável. Quem toma decisões deve dar a cara por elas.
O que proponho é a criação de um plano dinâmico de animação e promoção do concelho de Loulé, assente num conjunto de eventos que atraiam as pessoas à cidade. Precisamos de revitalizar festivais de gastronomia, festivais de música e eventos âncora que tragam movimento e dinamismo.
Recordo que, há alguns anos, até para ver a iluminação de Natal vinham pessoas de todo o Algarve a Loulé e, mesmo aos sábados de manhã, quem cá vem regularmente percebe que a dinâmica de outrora está a desaparecer.
O meu compromisso é recuperar essa vitalidade e fazer de Loulé um polo de atração cultural, comercial e turística ao longo de todo o ano.
 
V.A. - Voltando agora à política, diga-nos o que o motiva a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal de Loulé?
H. M. - Bom, gostaria de começar por enquadrar essa questão. Sempre fiz aquilo que me deu prazer. Trabalho desde os 18 anos e continuo com saúde e energia para continuar a trabalhar.
Atualmente, presido a uma Associação Empresarial de grande relevância regional e nacional, onde fui reeleito por unanimidade. Para além disso, integro diversos órgãos nas áreas do emprego, da saúde e da segurança social e faço parte da Confederação do Turismo Português. Tenho, portanto, uma vida profissional preenchida e que me realiza plenamente.
Sei que, muitas vezes, as pessoas candidatam-se a uma Câmara Municipal para ganhar notoriedade, mas, no meu caso, a Associação que lidero tem mais visibilidade do que a própria Câmara de Loulé. Outros candidatam-se por razões salariais, mas, felizmente, aquilo que aufiro atualmente não difere muito do vencimento de um presidente de Câmara.
Se não é por notoriedade nem por salário, só pode ser por projeto. Quero colocar a minha experiência e dinâmica ao serviço do concelho, projetando Loulé para os próximos 20 ou 25 anos.
Quero desenvolver um plano estruturado para impulsionar o concelho em diversas áreas, nomeadamente na atração de empresas e na criação de emprego. Mais emprego significa mais pessoas a viver no concelho, mais clientes para os restaurantes, para o comércio local e, consequentemente, uma economia mais robusta.
Esse é o projeto que irei apresentar em devido tempo. Esta é a primeira entrevista que dou enquanto candidato, mas garanto que a minha visão para Loulé será apresentada com a devida profundidade e estratégia.
 
V.A. -  Portanto, está preparado para três mandatos?
H. M. - Sim. Em Loulé, há um padrão que se mantém há muitos anos: os ciclos autárquicos têm, normalmente, a duração de 12 anos. Além disso, há um outro dado interessante que gostaria de destacar: nos últimos 36 anos, nenhum presidente de Câmara ganhou à primeira tentativa.
 
O Joaquim Vairinhos venceu apenas na segunda ou terceira candidatura, o Vítor Aleixo também precisou de uma segunda tentativa, e o mesmo aconteceu com o Seruca Emídio. Se essa tendência se mantiver, será mais um motivo de motivação para mim.
Tenho, uma vida intensa e ativa. Trabalho 24 horas por dia, se for necessário, e estou onde for preciso, seja em Loulé, em Lisboa ou noutro local qualquer. Mas há algo que me diferencia verdadeiramente dos meus opositores, sejam eles conhecidos ou não: o conhecimento do mundo.
Acredito que, para ser presidente da Câmara de Loulé, é essencial ter uma visão global. Quem assume esse cargo com uma mentalidade excessivamente localista não consegue projetar o concelho para o futuro.
Atualmente, Loulé perdeu projeção. O presidente da Câmara não faz parte do Conselho da Europa, do Comité das Regiões e nem sequer tem um papel ativo na AMAL. Candidatou-se a vários organismos e perdeu, deixando Loulé sem representação em importantes fóruns de decisão.
No passado, o concelho teve um peso muito maior nestas instâncias, e esse é um dos aspetos que quero recuperar. Pretendo devolver a Loulé a projeção e a influência que já teve, com uma gestão não partidária, não faccionista, mas sim voltada para todos os cidadãos que escolheram este concelho para viver e trabalhar.
 
V.A. - Passados 12 anos, que diferenças encontramos entre o Hélder Martins de 2013 e o Hélder Martins de 2025?
H. M. - Bom, sempre encarei cada desafio como uma oportunidade de crescimento. Ao longo da minha vida, ocupei vários cargos políticos e também desempenhei funções no setor privado. Nunca fui daqueles que, ao perder uma eleição, desaparece da vida pública ou fica inativo.
Perdi duas eleições: a primeira para a Junta de Freguesia e a última para a Câmara Municipal. Mas, no dia seguinte, continuei a trabalhar.
Nestes últimos anos, tive uma experiência profissional muito enriquecedora. Desenvolvi um projeto familiar que envolveu a aquisição de uma unidade hoteleira em condições precárias, transformando-a num dos estabelecimentos com melhor classificação do Algarve.
Além disso, desempenhei um papel ativo na AHETA, que tem representação em praticamente todos os organismos regionais. Estamos presentes na universidade, no aeroporto, na segurança, nos tribunais – faço parte do Conselho Consultivo dos Tribunais Administrativos e Fiscais do Sul e do Algarve. Essa vivência permitiu-me adquirir uma visão ampla da realidade, para além da esfera política.
O que mudou em mim desde 2013? Primeiro, fiz uma introspeção profunda sobre o que correu menos bem na minha candidatura anterior. Depois, acumulei uma experiência de vida e de gestão que espero agora colocar ao serviço de Loulé.
Agora, sinto que tenho as ferramentas, o conhecimento e a experiência para liderar Loulé com uma visão estratégica para o futuro.
 
V.A. - O PSD de Loulé tem dado, ao longo de mais de uma década, uma imagem de divisão interna. Acredita que a sua candidatura vai acabar com essa divisão?
H. M. - Sim, essa é a minha expectativa. O primeiro passo que dei após ser convidado para esta candidatura foi garantir a unidade dentro do partido. Todo o processo começou com uma sondagem, o que, na minha opinião, tornou o procedimento mais transparente e justo do que há 12 anos, quando tudo se resumia a uma mera disputa eleitoral interna.
Houve um compromisso claro por parte de todos os envolvidos nessa sondagem: quem ganhasse contaria com o apoio dos restantes e, quem perdesse, apoiaria o vencedor. E foi exatamente isso que aconteceu.
Falei pessoalmente com todos os participantes deste processo e todos me garantiram o seu apoio e compromisso com o projeto. Para além disso, procurei o diálogo com os diferentes líderes do PSD, tanto os atuais como os do passado, bem como com figuras de responsabilidade dentro do partido. Todos manifestaram disponibilidade para trabalhar em conjunto. Esse espírito de unidade ficou evidente na Assembleia de Secção que aprovou a candidatura, um momento em que se verificou uma grande coesão dentro do partido.
Pessoalmente, sempre defendi que este projeto tem de ser construído de forma inclusiva. Estou de portas abertas para ouvir e integrar contributos de todos, independentemente da sua posição dentro do partido. E, mais do que isso, quero deixar claro que esta candidatura não é apenas do PSD. Desde já, será uma candidatura em coligação com outras forças políticas e contará também com pessoas independentes, que não pertencem a nenhum partido.
A gestão autárquica não pode estar centrada exclusivamente no partido político no poder. Infelizmente, na Câmara de Loulé, parece que apenas quem tem o cartão do partido consegue alguma oportunidade, seja num concurso, num cargo ou numa colaboração. Essa cultura de favorecimento tem de acabar.
Na minha vida profissional, sempre trabalhei com pessoas pela sua competência, não pelo partido em que votam. Tenho colaboradores ao meu lado há vários anos e nunca senti necessidade de lhes perguntar qual a sua preferência política – simplesmente porque o que realmente importa é a sua dedicação e profissionalismo.
É assim que quero gerir a Câmara Municipal: focado no trabalho, nas pessoas e nas suas capacidades, e não em filiações partidárias.
 
V.A. -  Qual a sua proposta para os jovens?
H. M. - Tenho várias propostas para os jovens, embora a principal ainda esteja em fase de estudo e será apresentada dentro de uma ou duas semanas. No entanto, posso adiantar algumas das áreas em que quero trabalhar para integrar melhor os jovens no concelho de Loulé.
Um dos meus principais objetivos é trazer de volta um polo universitário a Loulé. No passado, o concelho teve o INUAF, onde me formei, e que chegou a contar com cerca de 800 a 900 alunos. Esse fluxo diário de estudantes trouxe uma grande dinâmica à cidade, e é algo que quero recuperar, proporcionando melhores condições de ensino superior e evitando que os jovens tenham de sair do concelho para estudar.
Além disso, Loulé precisa de mais medidas concretas para responder às ambições da juventude, nomeadamente no acesso à habitação e à empregabilidade. Quero criar condições para que os jovens possam fixar-se na sua terra, sem necessidade de emigrar para outras regiões à procura de melhores oportunidades.
Outro dos meus projetos passa pela criação de uma incubadora de empresas tecnológicas, com prioridade para jovens empreendedores do concelho. Sei que muitos jovens trabalham hoje em startups e na área da tecnologia, e a Câmara tem de ser um parceiro ativo nesse crescimento. 
Acredito que o futuro de Loulé passa pela aposta nas novas gerações, ouvindo-as, integrando-as e proporcionando-lhes condições para crescer e inovar.
 
V.A. -  E para a terceira e quarta idade? Tem alguma proposta?
H. M. - Tenho propostas muito concretas para os mais idosos, uma área onde considero que o Partido Socialista fez pouco ou nada nos últimos anos. Hoje, há listas de espera com 150 a 200 pessoas para cada unidade de acolhimento, sem que tenham sido criados novos equipamentos sociais.
Se for eleito, pretendo adotar um modelo semelhante ao de Albufeira: a Câmara constrói os equipamentos sociais e, posteriormente, os concessiona a associações que os irão gerir. 
O mesmo princípio será aplicado à infância, onde também há uma carência evidente de infraestruturas. Sei, por experiência própria – e porque em breve serei avô –, que a falta de creches e infantários é uma grande preocupação para as famílias do concelho.
Além disso, estou a trabalhar num projeto inovador para criar um seguro de saúde municipal para idosos, destinado a pessoas com mais de 65 anos e rendimentos dentro de um determinado escalão de IRS. Esse seguro permitirá, por exemplo, que um idoso de Quarteira, Almancil, Salir ou Alte possa chamar um médico a casa por 15 ou 20 euros, ou ter acesso a consultas de especialidade por valores reduzidos. A Câmara assumirá os custos do seguro para garantir que os mais idosos tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade, sem dependerem exclusivamente do Serviço Nacional de Saúde.
 
V.A. -  E quanto ao interior do concelho? Qual a sua opinião sobre o projeto Algarvensis?
H. M. - O projeto Algarvensis tem potencial, mas a Câmara de Loulé, em vez de ser um motor para o desenvolvimento, tem funcionado mais como um entrave. A recuperação e valorização do interior é essencial, mas não pode ser feita apenas para efeitos de classificação territorial, ignorando as necessidades reais de quem lá vive.
O interior do concelho tem de ser mais do que um ponto turístico – deve ser um local onde as pessoas possam viver com qualidade. Para isso, proponho:
Apoio à criação de alojamentos e restauração para que quem visita o interior tenha onde comer e dormir.
Criação de zonas empresariais em várias freguesias, à semelhança do que já foi feito no Ameixial, incentivando a fixação de pequenas empresas, oficinas e escritórios.
Apoio à recuperação do património, isentando totalmente as taxas municipais e o IMI por um período específico para quem recuperar uma casa no interior e lá for viver.
Hoje, o interior está a ser ocupado por estrangeiros com poder económico, mas os jovens locais continuam a ser forçados a sair por falta de condições. 
Se não houver escolas, creches e atividades culturais, o interior continuará a perder população. O meu compromisso é inverter essa tendência, criando infraestruturas e proporcionando uma qualidade de vida que incentive os jovens a ficarem e as famílias a regressarem.
 
V.A. -  Qual a sua opinião sobre a desagregação das freguesias?
H. M. - Ao longo da minha vida, tive oportunidade de viver várias experiências neste processo. Primeiro, enquanto presidente de junta, acompanhei a desagregação da freguesia de Querença e a criação da freguesia da Tôr. Mais tarde, assisti à agregação das freguesias de Querença, Tôr e Benafim.
A fusão de freguesias foi uma medida imposta pela Troika, num contexto de crise económica e de falência do país. No entanto, sempre defendi que, em vez de agregação de freguesias, o que fazia sentido era a fusão de municípios, que têm estruturas muito mais pesadas e dispendiosas. No caso de Loulé, o plano inicial do PSD previa a fusão de Querença com a Tôr e de Benafim com Alte. No entanto, à última hora, foi decidido que Benafim se juntaria à Tôr e a Querença, o que gerou polémica.
Apesar das dificuldades iniciais, o processo de agregação acabou por funcionar bem, muito graças ao trabalho exemplar da Margarida Correia, a única presidente da União de Freguesias, que conseguiu unir as populações e tornar a freguesia mais forte. A fusão trouxe vantagens: aumentou a massa crítica, garantiu mais orçamento e possibilitou melhores equipamentos e mais trabalhadores.
Agora, com a desagregação, temo que Querença e Tôr fiquem com orçamentos muito reduzidos, o que pode dificultar a manutenção da dinâmica atual. No entanto, esta foi uma decisão democrática, tomada pela Câmara, pela Assembleia Municipal e pelo Governo, e que respeito.
O meu compromisso será apoiar essas freguesias com fundos suplementares para que continuem a ter a capacidade de resposta que possuem hoje. Vamos trabalhar com as onze freguesias do concelho de forma equilibrada, colmatando as dificuldades que possam surgir e garantindo que o desenvolvimento não seja travado pela falta de recursos.
 
 
V.A. -  Que mensagem gostaria de deixar aos eleitores do concelho de Loulé?
H. M. -  Ao longo da minha vida, tive muitas experiências que me deram grande satisfação, mas há um desafio que ainda não concretizei: a presidência da Câmara Municipal de Loulé. Esse é o meu único objetivo, e comprometo-me a dedicar-me integralmente ao concelho. Se, no futuro, não cumprir esta promessa, aceito ser cobrado por isso.
Quero formar uma equipa sólida, abrangente e preparada para agir de imediato. Existem problemas que podem ser resolvidos rapidamente e outros que exigem projetos estruturantes e tempo. O desenvolvimento do concelho nos próximos 25 anos passa por planeamento estratégico, e estou a receber sugestões da sociedade civil para construir um projeto inclusivo e abrangente.
Tenho a mesma disponibilidade para ouvir e apoiar um grande investidor de um empreendimento turístico de luxo como um pequeno comerciante ou agricultor do interior. Loulé é um concelho diverso, e essa diversidade deve ser respeitada. Se for eleito, quero deixar um concelho melhor para todos, incluindo para as gerações futuras.
Peço aos eleitores que nos deem a oportunidade de trabalhar e provar que podemos fazer mais e melhor. O concelho passou por um grande progresso durante os 12 anos de mandato do Dr. Seruca Emídio, e é tempo de retomar esse caminho, agora com um foco mais forte no litoral. O nosso projeto será inclusivo, sem distinção entre freguesias, e terá uma equipa alargada, com o apoio de vários partidos e não apenas de um.
O entusiasmo e apoio que já tenho sentido nestes primeiros dias são sinais positivos. Há quem manifeste apoio publicamente e quem o faça de forma mais discreta, mas o mais importante é a vontade coletiva de construir um concelho mais dinâmico, inclusivo e economicamente forte.
Se confiarmos nesta equipa, garanto que não se arrependerão. 
Espero merecer essa confiança!
 
Por Nathalie Dias