Custódio Moreno é Diretor Regional do IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude. No âmbito da Semana Europeia do Desporto, faz um balanço desta iniciativa e da importância do desporto para os jovens. Explica-nos ainda alguns projetos que o IPDJ está a desenvolver na área desportiva.

A Voz do Algarve (V.A) - Muitos conhecem o IPDJ, mas poucos sabem realmente como este nasceu. Fale-me sobre a fundação do Instituto Português do Desporto e Juventude e da sua participação neste, uma vez que acompanhou este “crescimento”.

Custódio Moreno (C.M) - Eu entrei para o primeiro organismo formado, após 25 de Abril, que veio substituir a Mocidade Portuguesa, e que se chamava FAOJ – Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis, que acabou pouco tempo depois de eu entrar. Em 1989, nasceu o Instituto da Juventude, que deu depois origem ao IPJ- Instituto Português da Juventude. Em 2011, com o Governo da altura, houve a junção do IPJ e o IDP – Instituto do Desporto de Portugal e nasceu assim o IPDJ – Instituto Português do Desporto e Juventude. Para os mais desatentos, este é um modelo comum na Europa. Há quem pense que a juventude fica em segundo plano com o desporto e há quem pense que o desporto deveria estar autonomizado. Contudo, eu penso que há muitas vantagens com esta associação da juventude e do desporto – mas reconheço as desvantagens.

Tenho 21 anos à frente do IPDJ. Entrei como técnico e alguns anos depois fui convidado para ser diretor.

 

V.A - A Semana Europeia do Desporto terminou no passado dia 30 de setembro, em Olhão. O que há a reter sobre este evento?

C.M - Para já, é importante referir que esta iniciativa vai na sua sétima edição. O Jardim do Pescador em Olhão, foi o palco perfeito para a Festa de Encerramento da Semana Europeia do Desporto #BEACTIVE. Tivemos a presença de 42 modalidades desportivas, mais de 1200 participantes e cerca de 100 personalidades do desporto, atletas olímpicos, campeões mundiais e europeus, treinadores e muitos dirigentes associativos.

A Semana Europeia do Desporto é constituída por diversas atividades, realizadas em diferentes contextos e envolvendo diferentes modalidades desportivas e desportistas.  Este é um grande acontecimento desenvolvido à escala europeia, onde os cidadãos têm a possibilidade de experienciar atividades e participar em eventos a nível nacional, não só nessa semana, mas ao longo de todo o ano, promovendo e disseminado os valores associados ao Desporto e à sua prática.

A Semana Europeia do Desporto é destinada a promover o desporto e a atividade física em todos os segmentos da população. Os últimos dados do Eurobarómetro, revelaram que Portugal continua aquém no que diz respeito à prática desportiva: 68% dos portugueses nunca praticou desporto, em comparação com a Finlândia, que lidera a sondagem com apenas 13% da população a não praticar desporto, sendo que 87% pratica.

O desporto pode ser responsável pela prevenção de muitas doenças, como a obesidade, os problemas cardo-vasculares, entre outros.  

 

V.A - Durante quatro anos deu aulas como professor. Qual é a sua visão quanto à prática de educação física nas escolas?

C.M - Nos anos anteriores a vir para o IPDJ, dei aulas de educação física, com um projeto muito aliciante, proposto pela escola onde sou efetivo em Olhão. O desafio era, em conjunto com dois professores, cobrirmos o Agrupamento de Escolas João da Rosa com educação física no 1º Ciclo e realizarmos aulas duas vezes por semana. O que percebemos dessa altura foi uma mudança de atitude, postura, motivação e conhecimento desses alunos, comparados com os outros que tinham apenas aulas uma vez por semana. Nem todos os pais e famílias estão sensibilizados para a importância do desporto e, por isso, acabam por dar muita atenção às disciplinas nucleares, como a Matemática e o Português. Há muita coisa que os alunos podem aprender em educação física. O trabalho que desenvolvi ao lado dos meus colegas nesse projeto foi muito reconfortante e eu ainda acredito que as coisas feitas com paixão e amor resultam. Não tenho dúvidas que este projeto ajudou também os pais a perceber a importância da disciplina de educação física.

A missão do professor é muito grande. Não precisamos inventar mais nada, é nas escolas que está o futuro e que tudo começa.

 

V.A - Que diferenças existem nos jovens de “agora”, em comparação com a geração de há 30 anos?

C.M - Comparativamente com há 30 anos, estamos a trabalhar com jovens muito bem preparados. Os jovens, com o telefone, conseguem estar muito bem informados e apresentar resultados mais facilmente, porque têm acesso a tudo. E nós precisamos de pessoas irreverentes. As políticas de juventude nunca poderão ser isoladas, têm de ser feitas transversalmente, porque os problemas dos jovens têm os mesmos problemas da sociedade. Há cada vez mais a aposta nos jovens. Infelizmente, há setores/empresas que utilizam os jovens para a mão de obra barata.

Temos de colocar os jovens nos cargos, porque eles merecem. E não para “fazer figura” ou dizer que se tem um jovem numa empresa. Temos de os deixar trabalhar e opinar. Eu não trabalho para os jovens, trabalho com os jovens. Um país com jovens sem ideias ou projetos, é um país acabado.

 

V.A - Fale-me um pouco dos programas que está a desenvolver o IPDJ na área desportiva.

C.M - No último ano, lançámos o PRID – Programa de Reabilitação das Instalações Desportivas. O objetivo é promover a requalificação, reabilitação e/ou conservação das instalações desportivas ao serviço das populações, localizadas em território nacional continental. Tem tido um sucesso enorme.

Temos ainda o PNDpT- Plano Nacional de Desporto para Todos, que se constitui como uma medida estrutural que visa apoiar programas de desenvolvimento desportivo que promovam a generalização da prática desportiva de âmbito informal, recreativa ou competitiva (não federada), entendida como uma atividade determinante na formação e no desenvolvimento integral dos cidadãos e da promoção da inclusão pelo Desporto. De uma maneira geral, o PNDpT destina-se a apoiar entidades públicas ou privadas, sem fins lucrativos, que tenham no seu objeto a promoção e o desenvolvimento da prática desportiva.

 

V.A - E no setor da juventude e voluntariado, que programas destacaria?

C.M - Na área da juventude temos, obviamente, vários programas. O Programa de Apoio ao Associativismo Juvenil pretende contribuir para o desenvolvimento das atividades das associações, respetivas federações, e organizações equiparadas às associações juvenis. Tudo isto de forma gratuita.

Temos ainda um programa que é transversal aos dois lados para dirigentes associativos, que se chama Clube Top. Este programa dá formação em áreas fundamentais para a melhoria do desempenho e da sustentabilidade dos clubes desportivos. Para além disso, apoia no que diz respeito a fontes de financiamento, organização do orçamento e, com os nossos especialistas, fazemos ações de formação de vários níveis.

Mais do que todos estes programas, promovemos voluntariado. Temos o Programa Nacional Para Jovens Voluntários para a Natureza e a Floresta, que está relacionado com a educação ambiental e pretende fazer ações de prevenção junto dos jovens. É uma maneira importante de mostrar que os jovens estão sensibilizados para esta temática. O voluntariado faz parte do currículo e é uma grande mais valia na escolha de um profissional. A educação para a cidadania ativa pode-se fazer de uma forma simples.

 

V.A - Um jovem que tenha um projeto, pode dirigir-se ao IPDJ para pedir ajuda na sua concretização?

C.M - Sim. Os jovens podem vir cá, apresentar os seus projetos e nós damos, claramente, apoio a todos. Gostava de referir que existem trabalhos que expomos que não são propriamente de jovens. Temos uma exposição de fotografia neste momento, de um artista, o Luís Trindade, que tem 47 anos. Como o seu trabalho tinha muita qualidade, decidimos avançar. Posso dizer que, neste momento, o Museu Nacional do Desporto, que pertence ao IPDJ e está localizado em Lisboa, vai acolher em 2023 esta exposição. Este é um palco de lançamento para muitos.

Eu trabalho aqui como se fosse o meu último dia. Gosto muito de chegar ao final do dia e sentir-me tranquilo e coma missão cumprida. É muito mais do que uma missão, é uma paixão.

 

Por: Nathalie Dias