Estamos num momento único, talvez ímpar na nossa História, todos tivemos de mudar as nossas rotinas, a nossa forma de viver, a nossa forma de estar e todos temos a obrigação de isolamento social. Entre muitas medidas tomadas para travar a pandemia do novo Coronavírus (COVID-19), uma das primeiras a ser a ser tomada foi obrigar a cultura a parar. Pelo país foram cancelados inúmeros espectáculos, festivais, além de uma diversidade de eventos relacionadas das mais variadas áreas.
A cultura está ao nosso lado a toda a hora e durante os dias de quarentena foram inúmeros os artistas que pelas redes sociais nos tem feito companhia de forma inovadora, pois cultura é a memória, a alma e identidade de um país e do mundo em que vivemos. Foi com o objectivo de divulgar os nossos artistas, que também precisarão muito do nosso apoio, sobretudo depois da pandemia passar, e podem ser apoiados de várias formas, seja indo aos seus espectáculos, ou seja, na aquisição dos seus trabalhos e dos seus serviços. Foi por isso que decidi divulgar regularmente alguns dos projectos e dos trabalhos que considero mais interessantes na música portuguesa, alguns deles, quase todos conhecem, mas muitos deles ainda são desconhecidos do grande público, espero que gostem.
SUGESTÕES DA SEMANA
(1) Sara Correia, “Sara Correia” (2018)
Qualquer pessoa que oiça pela primeira vez Sara Correia, sente logo a verdadeira essência da alma fadista, tal é o empenho, a dedicação e a emoção com que a mesma coloca nas palavras que canta. É descrita quase por todos os críticos “como a próxima grande voz do fado”, mas na minha opinião, é já uma certeza e talvez a grande voz do fado na actualidade.
Sara Correia é sem dúvida um caso muito sério, é fado em toda a sua alma e em toda a sua essência, com a sua voz somos levados à Lisboa bairrista, mas também a uma Lisboa moderna que mantém as suas tradições.
No seu álbum de estreia editado em 2018, onde o tradicional se junta às novas sonoridades e influências, destacamos “Quando o Fado Passa”, que resume todo este trabalho maravilhoso.
(2) Dino D’Santiago, “Mundu Nôbu” (2018)
Em “Mundu Nôbu”, podemos nos encantar ao ouvir boa música com uma base sonora diversa, onde o Funaná, o Batuku, a Morna, a Kizomba, o Afro-House e uma série de movimentos rítmicos, que nos levam numa viagem a Cabo Verde, mas também a um Portugal urbano, actual e multicultural.
Este é um dos trabalhos discográficos mais premiados e aclamados pela crítica em 2018, e diga-se, muito justamente, pois além da voz melodiosa que todos conhecemos em Dino D’Santiago, o som de vanguarda que o acompanha é algo excepcional, onde a melancolia e a alegria se juntam e onde a música de raiz cabo-verdiana é acompanhada da electrónica.
A destacar neste disco, as músicas “Mundu Nôbu” e “Como Seria”.
(3) Teresa Aleixo, “Quanto de Mim” (2019)
Para quem acompanha com atenção a música que se faz pelo Algarve, o nome Teresa Aleixo não é propriamente desconhecido, sendo o seu álbum de estreia “Quanto de mim” editado em 2019, um passo natural na sua carreira.
Ao ouvirmos este disco, percebemos que a música faz parte da vida de Teresa Aleixo há muitos anos, e que as canções nos transportam para histórias e experiências que marcaram o seu percurso, também é bem visível uma grande influência da indie-pop ou do jazz e também do pop-rock e da world music.
Neste trabalho discográfico, é obrigatório ouvir músicas como “Império Quimera”, “Quanto de Mim” ou “Pudesse Eu”.
(4) Tainá, “Tainá” (2019)
Natural do Brasil, chegou a Portugal, tendo percorrido o país de Norte a Sul no Verão passado, onde deu uma série de concertos, para depois gravar este fabuloso disco homónimo.
Neste trabalho discográfico, Tainá demonstra um universo muito seu, às vezes muito fresco, mas por vezes muito denso como vemos no verso da canção “Sonhos”, que diz “Parece que não me encaixo / às vezes me acho / uma anomalia”.
Ao ouvirmos este álbum, não descobrimos apenas o mundo complexo de Tainá, somos levados por ela, pela sua voz doce, melodiosa e que nos fica no ouvido, somos guiados pelo sonho e pela leveza das suas composições e da suas palavras. É difícil arranjar um adjectivo para descrever o trabalho de Tainá, mas talvez “soberbo” ou “maravilhoso” sejam as mais indicadas.
É difícil escolher alguma música deste fabuloso disco que seja possível destacar, tal a sua qualidade de composição e interpretação mas tanto “Caminho”, como “Sonhos” não podem passar sem ser ouvidas.
(5) Catarina Munhá, “Animal de Domestiação” (2019)
“Animal de Domesticação”, editado em 2019, é o disco de estreia da cantora e compositora Catarina Munhá, onde o som tropical do seu ukulele é presença constante. Um disco alegre, sobre o espaço que a própria habita, cheio de canções bem-humoradas e inquietas, onde a sátira a uma certa domesticação do ser humano nos dias de hoje é tema central.
Ao ouvir este álbum percebe-se que Catarina Munhá, não se deixa domesticar e não aceita papeis que não lhe fazem sentido, mas é isso que faz deste um trabalho a não perder e que nos vai deixar com um sorriso nos lábios a cada canção.
É obrigatório ouvir neste trabalho de Catarina Munhá as canções “Isto de ser Mulher”, “Variável Independente” e “Animal de Domesticação”