A corrida ao crédito habitação está instalada em Portugal, sendo explicada pela combinação de baixos juros, melhores condições contratuais e ainda pelos novos apoios destinados aos jovens. E esta elevada procura por financiamento bancário para comprar casa deverá continuar. Até porque são esperadas novas reduções das taxas Euribor (embora ligeiras), que deverão cair para baixo de 2% nos três prazos até ao final do ano, segundo perspetivam vários analistas.
Para já, os incentivos a novas reduções da Euribor são curtos. O Banco Central Europeu (BCE) decidiu manter as suas taxas de juro inalteradas, interrompendo o ciclo de cortes esta quinta-feira, dia 24 de julho. Ou seja, os juros do BCE, que têm impacto no indexante, vão ficar inalterados até, pelo menos, dia 11 de setembro (a data da próxima reunião).
É por isso que não se preveem grandes alterações das taxas médias mensais da Euribor no resto do verão face a junho, altura em que o indexante a 12 meses manteve-se em 2,081%, a Euribor a 6 meses caiu para 2,050% e o prazo a 3 meses ficou mesmo abaixo de 2% (1,984%). Esta quinta-feira (antes da decisão do BCE ser conhecida), a taxa diária a 12 meses estava em 2,036%, a taxa a 6 meses em 2,037% e a taxa a 3 meses manteve-se abaixo de 2% (1,948%).
Desde a Ebury Portugal admitem que o BCE deverá levar todo o verão a avaliar a situação do comércio internacional (tensões tarifárias entre os EUA e a UE) antes de voltar a mexer nos juros. E, por isso, acreditam que “poderemos ver a Euribor a 12 meses a estabilizar durante o verão”. Também as previsões do Painel Funcas – que reúne investigadores e analistas do mercado espanhol – apontam para que a Euribor permaneça em torno de 2% até setembro.
Ainda assim, Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal, acredita que esta decisão do BCE “é uma boa notícia para o mercado hipotecário, tanto para quem já tem crédito habitação e vê as prestações a serem revistas em baixa, como para quem procura um novo empréstimo. Isto porque a atividade bancária permanece a alto nível e as ofertas de crédito habitação continuam muito agressivas”, acrescenta.
Como vai evoluir a Euribor até ao final de 2025?
Até ao final do ano, os analistas de mercado admitem que haverá mais um corte dos juros do BCE (de 25 pontos base), deixando a taxa dos depósitos em 1,75%. Mas este corte só deverá acontecer depois do verão – e será o último desde ciclo de flexibilização da política monetária. Por isso, só nessa altura é que haverá descidas mais interessante da Euribor, levando-a a baixar a fasquia dos 2% para todos os prazos.
As previsões do espanhol Painel Funcas apontam para que a Euribor a 12 meses desça para cerca de 1,95% até ao final do ano. E acreditam ainda que pode manter-se neste nível durante vários trimestres até descer para 1,9% até o final de 2026.
Na mesma linha, Sandra Ramos Dias, do Departamento de Desenvolvimento e Marketing do Novo Banco, comentou em entrevista ao idealista/news que “ainda haverá alguma descida da Euribor” este ano, sendo “provável que estabilize um pouco abaixo dos 2%”, o que poderá tornará “as taxas variáveis mais interessantes”.
As perspetivas são um pouco mais animadoras para as taxas Euribor nos prazos mais curtos. As curvas 'forward' – que indicam a expectativa do mercado em relação à fixação das taxas futuras - mostram que a Euribor a 3 meses deverá fechar 2025 nos 1,83% e a Euribor a 6 meses deverá cair até 1,91%. No início de 2026, tudo indica que estas taxas deverão descer mais um pouco antes de começarem a subir a partir de abril. Estes dados sugerem que o fim do ciclo de queda da Euribor estará para breve.
Mas como ficam as prestações da casa se a Euribor voltar a descer? A verdade é que, embora estejam previstas descidas mais pequenas, vão sentir-se mensalmente nos bolsos das famílias em alguns euros. É o que mostram as simulações preparadas pelo idealista/créditohabitação, tendo em conta um novo empréstimo da casa taxa variável com Euribor a 6 meses de 150.000 euros (com spread de 0,7% e prazo de 30 anos):
- se a Euribor a 6 meses cair dos atuais 2,050 % (média mensal de junho) para 2,00% significa que as prestações mensais vão descer de 612 euros para 608 euros (menos 4 euros);
- se a Euribor a 6 meses descer para 1,85%, as prestações da casa serão de 596 euros, uma redução de 16 euros face a quem contratou o crédito em julho de 2025 (que usa a taxa média mensal de junho);
se a Euribor a 6 meses cair para 1,75%, uma família que contratar um crédito habitação nestas condições pagará 588 euros mensais de prestação, menos 24 euros face a quem assinou o empréstimo este mês.
Como vai ficar a procura de crédito habitação? E as ofertas?
Atualmente, tem-se sentido um aumento da procura por crédito habitação em Portugal, assim como na Europa, sobretudo estimulado pela redução dos juros nos últimos meses e ofertas mais atrativas por parte dos bancos. E assim deverá continuar nos próximos meses.
A edição de julho do Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito do Banco de Portugal (BdP) revela que, no segundo trimestre de 2025, foi sentido um aumento da procura por crédito habitação, justificado pelo “nível geral das taxas de juro e, em menor grau, a confiança dos consumidores e o regime regulamentar e fiscal do mercado da habitação”, nomeadamente a isenção de IMT e garantia pública para jovens.
“Os bancos estão a fazer mais crédito habitação”, admite Sandra Ramos Dias, do Novo Banco, na mesma entrevista, adiantando que “há alguma influência da descida das taxas, da Euribor, e também dos spreads que os bancos têm feito”. E têm observado a “tendência para voltar à taxa variável à medida que a Euribor desce”, numa altura em que as taxas mistas dominam o mercado.
"Já começamos a observar tendência para voltar à taxa variável à medida que a Euribor desce", Sandra Ramos Dias, do Departamento de Desenvolvimento e Marketing do Novo Banco
Também na Europa sentiu-se um aumento significativo da procura de empréstimos para a compra de casa devido à queda das taxas de juro, à melhoria das perspetivas do mercado imobiliário e, em menor medida, à confiança dos consumidores, de acordo com o mais recente inquérito aos bancos do BCE.
Sobre o futuro, o BdP acredita que vai haver um “ligeiro aumento da procura de empréstimos por particulares para habitação” entre julho e setembro. E o BCE revela que, na Europa, os bancos esperam no terceiro trimestre um “aumento substancial da procura por empréstimos para a compra de habitação”.
Quanto às ofertas de crédito habitação em Portugal, observou-se uma ligeira restrição dos critérios de concessão no segundo trimestre. “A concorrência de outras instituições bancárias e a qualidade creditícia dos mutuários contribuíram ligeiramente para critérios menos restritivos”, informa o BdP. E houve ainda uma “ligeira diminuição da taxa de juro praticada e do spread aplicado nos empréstimos de risco médio”.
Até setembro, os bancos residentes em Portugal deverão manter os critérios de concessão de crédito habitação, enquanto na Europa preveem suavizar um pouco os critérios aplicados aos empréstimos para compra de casa.
Por: Idealista