Há mais contratos de empréstimo da casa e por valores mais elevados. Euribor a 6 meses perdeu terreno em 2024.

O contexto económico ficou mais favorável à contratação de crédito habitação em Portugal ao longo de 2024. E isso refletiu-se num aumento de quase de 27% de novos contratos e numa subida de 32% do montante disponibilizado pelos bancos para a compra de casa. As taxas mistas estão a dominar o mercado, abrangendo mais de 80% do total de novos empréstimos habitação. E os spreads também têm estado cada vez mais baixos na componente de taxa variável.

Numa análise global ao mercado de crédito habitação, o Banco de Portugal revela que foram celebrados 125.360 novos contratos em 2024 (mais 26,6% do que em 2023). E foi concedido um montante inicial global de cerca de 17,9 mil milhões de euros de crédito (mais 32%).  

Por outras palavras, foram assinados, em média, 10.447 novos contratos de crédito habitação por mês e concedida uma média mensal de 1.491,7 milhões de euros, lê-se no Relatório de Acompanhamento dos Mercados de Crédito divulgado esta quarta-feira, dia 2 de julho.

Mas o que justifica este pulo? De acordo com o regulador português, houve todo um contexto económico favorável que “contribuiu para o crescimento da concessão de crédito à habitação e hipotecário”, sendo caracterizado pela:

  • Descida das taxas de juro;
  • Aumento do rendimento disponível;
  • Novas medidas legislativas dirigidas à compra de casa, nomeadamente a isenção de IMT e Imposto de Selo para jovens até aos 35 anos em vigor desde agosto. Note-se que a garantia pública no crédito habitação só ficou operacional no início desde ano.

A par de tudo isto, o supervisor bancário liderado por Mário Centeno destaca que “a intervenção dos intermediários de crédito teve um papel relevante na comercialização de crédito à habitação e hipotecário, estando associada a cerca de 56% dos contratos celebrados e a 57% do montante de crédito concedido”.

Também se observou que, além de haver maior concessão de empréstimos casa pela banca, o montante médio dos novos contratos também aumentou, nomeadamente 4,3% no último ano, fixando-se em 142.791 euros em 2024. Isto acontece “num contexto em que se registou um aumento de 9,1% nos preços da habitação”, justifica o regulador no relatório.

Já o prazo médio dos novos créditos da casa permaneceu “idêntico” face ao ano anterior, ficando em 30,6 anos. “Os prazos entre os 30 e os 35 anos foram os mais frequentes nos novos contratos de crédito à habitação”, destaca o BdP.

 

Oito em 10 créditos habitação são a taxa mista

A grande maioria dos créditos habitação celebrados ao longo de 2025 foram a taxa mista, que tem que um período inicial de taxa fixa (em que não ocorrem alterações da prestação da casa) seguido de um período de taxa variável. 

Em 2024, os novos contratos de empréstimos para a compra de casa celebrados com uma taxa mista passaram a representar 82% do número de novos contratos, quando, em 2023, a percentagem estava nos 45%. Por outro lado, foi registada uma diminuição significativa do peso dos novos contratos de crédito habitação celebrados a taxa fixa (de 12,4% em 2023 para 6,4% em 2024), bem como a taxa variável (de 42,6% para 11,6%).

“As instituições bancárias indicaram um aumento da procura e da contratação de taxas mistas no âmbito de crédito à habitação, num contexto de taxas de juro ainda relativamente elevadas, mas em descida. A maior procura foi acompanhada pela comercialização de mais produtos de crédito à habitação com este tipo de taxa de juro”, explica o regulador. Esta competitividade também se refletiu em taxas mistas bem mais baratas do que nos outros tipos de juros.

Por outro lado, “a duração do período inicial de fixação de taxa dos novos contratos a taxa mista diminuiu”, passando para uma média de 3,4 anos (um ano antes a média era de 4,3 anos). Depois do período de fixação de juros, o indexante mais frequente aplicável ao período variável foi a Euribor a 6 meses (71,3% dos contratos), seguida da Euribor a 12 meses (27,5%) e da Euribor a 3 meses (1,3%).

Ainda assim, considerando a carteira total de crédito habitação dos bancos em 2024 salta à vista que a maioria dos contratos continua a ser a taxa variável (74,7%), seguida da taxa mista (22%) e da taxa fixa (3,3%).

 

Taxa variável: spreads dos bancos estão a descer

Num cenário hipotecário altamente competitivo, também os créditos habitação a taxa variável (e indexados à Euribor) viram o spread médio cair nos novos contratos para 0,89 pontos percentuais em 2024 (um ano antes estava em 0,93 pontos). De acordo com a análise do ECO, o spread – que é a margem de lucro dos bancos – está em queda há uma década, estando agora em mínimos.

A maioria dos contratos celebrados a taxa variável apresentou spreads entre 0,5 e 1 pontos percentuais (68,5%), mas este intervalo de spreads “perdeu significativa importância face a 2023 (73,7%)”. Em destaque estão os spreads até 0,5 pontos percentuais, que “aumentaram significativamente” para 14,7% dos contratos celebrados a taxa variável (5% em 2023).

 

Euribor nos novos créditos habitação a taxa variável

O mesmo relatório do Banco de Portugal revela que a Euribor a 6 meses foi o indexante de mais de metade dos novos empréstimos da casa a taxa variável (54,2%), mas perdeu importância a favor da Euribor a 12 meses (29,3% depois de se ter fixado em 4,7% no ano anterior). “Este aumento deveu-se à queda do valor da taxa Euribor a 12 meses, a partir do final de 2023, para valores abaixo da Euribor a 3 e 6 meses, tornando a Euribor a 12 meses mais atrativa para os clientes bancários que optaram por contratar a taxa variável”, explica.

Em sentido inverso, a Euribor a 3 meses perdeu importância, passando de 16,7% dos novos contratos em 2023, para apenas 8% em 2024. Mas, agora, esta é a taxa mais baixa de todas, tendo descido mesmo para baixo de 2% em junho.

 

Idealista News