Caio Ribeiro, investigador do Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR), foi distinguido com o Atlantic Security Award, atribuído pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), pelo Centro do Atlântico e pelo Instituto da Defesa Nacional, através de um projeto que pretende identificar zonas sensíveis no fundo do Oceano Atlântico com potencial para exploração mineira.

O objetivo é reunir o conhecimento necessário para apoiar decisões políticas informadas e proteger ecossistemas vulneráveis, num momento em que a procura por metais críticos cresce com a urgência de descarbonizar o planeta.

A transição energética exige matérias-primas escassas na superfície terrestre, como metais de terras raras, para o fabrico de baterias, painéis solares e infraestruturas digitais, como cabos elétricos. A necessidade cada vez maior destes recursos faz com que haja um interesse crescente por depósitos localizados a milhares de metros de profundidade. Contudo, os riscos ambientais da exploração dos fundos oceânicos são mal compreendidos. Em 2025, Portugal tornou-se o primeiro país a proibir, até 2050, a mineração em águas marinhas sob a sua jurisdição. Mais recentemente, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano (UNOC 2025), os líderes mundiais renovaram o apelo por uma moratória global à mineração em águas profundas. Uma decisão preventiva que dá espaço a que o conhecimento científico acompanhe a pressão industrial à extração mineira no fundo do mar.

“Esta corrida aos recursos do fundo do mar está a acontecer. Mas em paralelo tem de haver uma corrida à ciência”, explica Caio Ribeiro, aludindo à necessidade de se obter um maior conhecimento sobre as zonas a explorar, de forma a conseguir medir e prever o impacto. “Só assim vamos perceber o que temos — e o que podemos perder, que nesse caso seria a biodiversidade.”

O projeto vencedor do Atlantic Security Award, intitulado “Mapear e Monitorizar as áreas de potencial mineração profunda no Atlântico”, propõe-se a compilar e analisar toda a bibliografia científica existente sobre ecossistemas marinhos profundos do Atlântico e identificar os impactos que a mineração do fundo do Oceano pode causar, como a perturbação dos sedimentos, liberação de metais na coluna d’água, o ruído constante da maquinaria ou a introdução de luz em ambientes permanentemente escuros. O resultado será um mapa de conhecimento e risco ecológico, que avaliará a sensibilidade destas zonas com base na biodiversidade já registada, o nível de estudo e a vulnerabilidade ecológica. O investigador apresentará o projeto e receberá o prémio no dia 30 de outubro, às 11h40 no Museu da Marinha, em Lisboa.

“Vamos classificar as áreas com base no seu nível de biodiversidade, grau de conhecimento científico e sensibilidade ecológica, com especial atenção aos organismos bentónicos, os mais vulneráveis à perturbação do fundo marinho”, explica o investigador.

O trabalho terá um foco nos locais considerados mais propensos à mineração: fontes hidrotermais e nódulos polimetálicos. “Algumas destas zonas são verdadeiros oásis de biodiversidade. As fontes hidrotermais, por exemplo, albergam espécies únicas, muitas das quais ainda são desconhecidas, adaptadas a viver sem luz, em simbiose e sob pressões extremas.”

A ambição é que este mapa possa informar decisões futuras, tanto a nível político nacional como internacional, durante e depois da moratória portuguesa, como a nível científico, tomando este conhecimento como ponto de partida para novas expedições científicas e para novas tecnologias de monitorização e mitigação. Servindo também como um contributo concreto para as metas da Década da Ciência Oceânica das Nações Unidas.

“A moratória até 2050 é uma decisão prudente, mas tem um carácter preventivo e temporário. Cabe-nos agora criar a base de conhecimento necessária para garantir que, qualquer que seja o caminho, ele será baseado em ciência e não em especulação”, remata Caio.

 

UAlg