A peça infantil "Catamarã", de Ana Lázaro, com encenação de Ricardo Neves-Neves, põe em palco do Cineteatro Louletano em Loulé, distrito de Faro, a problemática da dislexia e a dificuldade em crescer.
O ator Vítor Oliveira desvendou à Lusa que a equipa procura mostrar que as diferenças entre as pessoas são boas e que as podem ajudar a completar-se, já que «o peixe-bolha [na peça] se dá bem com números e mal com palavras, e a Catamarã não gosta de números e não quer nada planeado, quer aventura, [o que faz com que se] complementem».
Apesar de não explicitamente dito, no espetáculo, o peixe-bolha é uma criança disléxica cujo plano é viver sem usar as palavras, mas ligado aos números.
O terraço do prédio é ponto central do espetáculo e de encontro dos dois amigos: Catamarã, uma criança de 12 anos, e Peixe-Bolha, um rapaz de oito, nove anos, que incha quando fica envergonhado com os elogios da amiga.
Em palco assiste-se ao jogo entre várias linguagens, desde a componente plástica do cenário, à musical, passando pela presença física do atores ou a animação virtual que paira sobre as suas cabeças - numa espécie de consciência celestial que vai sendo afetada pela alternância emocional das personagens.
Em «Catamarã - Nas Ilhas Salomão», ninguém se preocupa com os erros ortográficos, acompanha-se a relação e o crescimento dos dois amigos, numa história que se centra no crescimento e em «como olhamos para o Mundo quando crianças e depois como adultos», e como «o que parecia gigante é agora pequeno, o que provocava medo, agora conseguimos compreender», revelou à Lusa a atriz Susana Madeira, que dá vida a Catamarã.
A peça foi escrita por Ana Lázaro e encenada por Ricardo Neves-Neves para que fosse vista em família, criando, não só «um encontro de gerações, mas de pontos de vista diferentes», permitindo que «saíssem e discutissem aquilo que viram», revela a atriz.
É uma história para miúdos e graúdos, com um mensagem apoiada em conteúdos infanto-juvenis, mas que leva os adultos a refletirem na forma «como viam o mundo e como o veem agora»e «isso nota-se nas suas expressões ao longo da peça», afirmou o ator.
No decorrer da história, percebe-se que o crescimento «pode doer», e que a noção que uma criança tem da distância geográfica com a sua mãe, vivendo «numas ilhas do Pacífico» pode ser, na verdade, «uma realidade bem mais difícil de compreender», destaca Vítor Oliveira.
O ator, que dá corpo ao peixe-bolha, diz que a autora decidiu «pegar na dislexia e nos pais separados», explorando dois dos temas que passaram «a ser recorrentes nos dias de hoje», para fazer uma reflexão sobre as diferenças entre as pessoas -- diferenças que nem sempre as afastam, podendo mesmo aproximá-las e mostrar que não são essas questões que vão «condicionar aquela criança na sua vida adulto».
O espetáculo tem sessões durante a semana, de segunda a sexta-feira, às 10:00 e 14:00, dirigidas às escolas, e, ao fim de semana, para o público geral, no sábado às 17:00 e 21:00, e no domingo às 17:00.
Por: Lusa